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As nonagenárias que nunca se separaram

Amélia e Isabel Cavallini fizeram sucesso como pianistas nos Estados Unidos. Mas não na Argentina, onde nasceram. Foto: Reprodução/Internet

Renée Castelo Branco
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“As Inseparáveis”, ( Las Cercanas, no original), documentário argentino de Maria Álvarez, levou o prêmio de melhor longa do Festival Ibero-americano do Ceará, que terminou esta semana em Fortaleza.

Duas mulheres de noventa e um anos, gêmeas, são o foco das lentes e das emoções de Maria Álvarez,que as conheceu numa lanchonete McDonalds. Comiam lá quase todos os dias. Depois de descobrir que eram pianistas e sempre tocaram juntas, decidiu perguntar se topariam participar de um documentário.

Assim nasceu “As Inseparáveis”, filmado num apartamento minúsculo, onde se destacam um retrato pintado das duas quando jovens e um piano de cauda. Foram criadas como princesas. Nas paredes e nos armários, vestígios destes tempos, objetos e obras de arte contam a história das duas.

Sucesso nos Estados Unidos

Coca e Yunga são Amélia e Isabel Cavallini. Nunca se separaram. Em 1962, passaram uma temporada nos Estados Undos, onde fizeram uma carreira brilhante como dupla, uma nos acordes e a outra na melodia. Tocavam em dois pianos, frente a frente. Faziam sucesso estrondoso, viviam em festas cheias de amigos, fumavam, eram extrovertidas e independentes.

Nenhuma das duas se casou. Yunga teve um pretendente, mas dispensou para não desfazer a dupla. A temporada americana durou dois anos. Coca e Yunga decidiram voltar para Buenos Aires, contra os conselhos do irmão. Ele achava que a carreira delas estaria arruinada na Argentina. Infelizmente, foi o que aconteceu. Uma vez de volta, foram vítimas de maledicências e inveja, em tempos tacanhos, antes da revolução de costumes do final do anos 60.

Cartaz do filme em inglês. Foto: Reprodução/Internet

Maria Álvarez passou três meses filmando o cotidiano das irmãs. Pouco acontecia além das discussões divertidas entre uma, mais ranzinza, e outra, mais atirada.

A harmonia se rompe

Implicavam uma com a outra, dentro de uma compreensão imensa. Tão simbióticas que, ao mostrarem suas fotografias, não sabiam distinguir quem era quem. Elas passaram quase um século juntas, enquanto o mundo lá fora mudava.

Dedicavam todo carinho a dois bonecos de porcelana, presente dos pais, que as acompanhavam desde pequenas. Um dia, a harmonia se rompe. Um dos bonecos cai e a cabeça do imenso bebê se parte em pedaços.

Depois de passar por um atelier de conserto de brinquedos, o bebê volta mudado, com os cabelos muito mais escuros. A vida segue mais um pouco, até que Yunga é hospitalizada. E a história da dupla termina. No filme e na vida real.

Caso “As Inseparáveis” seja exibido no circuito comercial, não perca.

Além de melhor filme, Las Cercanas ganhou também o prêmio de melhor fotografia, melhor montagem e o da crítica. Vale lembrar que Maria Álvarez, literalmente carregou o piano sozinha. São dela o roteiro, produção

e montagem.

Veja o trailer:

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