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Já não se morre de velhice, Cecília Meireles

A frase acima é do escritor gaúcho Érico Veríssimo, mas bem que podia ser de Cecília Meirelles´
A frase acima é do escritor gaúcho Érico Veríssimo, mas bem que podia ser de Cecília Meireles´

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Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.

Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.

Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.

Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.

De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.

(Já não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)

Cecília Meireles, in ‘Poemas (1957)’

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