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Mercado para modelos maduras, agora, valoriza idade e diversidade

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Esse é mais um artigo mostrando como, aos poucos, o mundo da moda vai se rendendo ao fato de a população estar envelhecendo e, diante dessa realidade, começa a prestigiar modelos que já passaram dos 45 anos, como essas que ilustram essa página. Nessa ótima reportagem para O Globo, Marcia Disitzer mostra o exemplo de quatro lindas mulheres, entre os 45 e os 56 anos, todas elas trabalhando como modelo. Embora lentamente, o mercado vai se abrindo para essa mulheres maduras que têm em comum muito estilo e uma elegância natural.

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Se alguém falasse para as modelos Carla Barros, Danah Costa, Luciana Borges e Mônica Moura, nas décadas de 1980 e 1990, que elas estariam de volta ao mercado em 2021, as quatro, dificilmente, acreditariam. Naquele tempo, à medida que a idade avançava, mais distantes as mulheres ficavam do padrão de beleza vigente — inalcançável, diga-se de passagem. Conceitos como diversidade, inclusão e representatividade se assemelhavam a miragens no deserto. Mas, olha a boa notícia, a sociedade evolui, as cabeças abrem e o olhar sobre o mundo muda para melhor. Nesse admirável contexto novo, Carla, Danah, Luciana e Mônica voltam a caminhar — e a dar pivôs — em passarelas, estúdios e redes sociais.

Descoberta por um olheiro aos 15 anos, a carioca Luciana Borges, de 45, mora em Milão. Em meados dos anos 1990, chegou a estampar a capa da revista “Manchete” como a “brasileira que conquistou Paris”. Não é para menos: a top cruzou a passarela de nomes como Karl Lagerfeld, Ungaro e Azzedine Alaïa. “Antes do boom das supermodelos brasileiras”, conta.

Aos 26, casada com o modelo alemão Werner Busen, engravidou de Gabriela. “Trabalhei até os 9 meses.” Ela se mudou para a Alemanha, os objetivos foram atualizados e os trabalhos diminuíram. “Parei aos 33. Com essa idade, a agência não sabia onde me encaixar.” Na década seguinte, a modelo morou em Saquarema, passou uma longa temporada nos Estados Unidos e, finalmente, fincou os pés na Itália. Também atuou como designer de interiores e mergulhou na ioga.

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O amadurecimento veio e com ele a vontade de voltar a modelar. “Aos 40, parei de pintar o cabelo, não estava a fim de virar escrava. E aí comecei a ser abordada na rua, me perguntavam se era modelo, elogiavam minha beleza”, conta. No meio do ano, em Milão, fez fotos e já estrelou uma campanha de joias. “Encontrei um mercado mais inclusivo, que valoriza o diferente”, comemora.

Para Mônica Moura, de 54, a inclusão chega em dose dupla. “Quando comecei, nos anos 1980, não havia maquiagem para a pele negra nem colocavam pretas de vestido de noiva, a moda girava em torno das pessoas brancas”, lembra.

“Não me recordo de um episódio específico, mas do preconceito à raça negra como um todo”, comenta. Apesar das adversidades, ela brilhou: protagonizou inúmeros ensaios de moda e desfilou, por mais de 28 anos, para a joalheria HStern. Aos 35, o casamento a levou para fora do eixo Rio-São Paulo. “Fui mãe e me afastei.”

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Depois de morar em Cabo Frio, na Região Serrana e em Paraty, quis o destino que Mônica voltasse a viver no Rio, com o marido e o filho, Jefferson, no pandêmico 2020. Não demorou para receber um convite da agência Front. “A inserção das maduras na moda valoriza a autoestima de todas as mulheres”, analisa Mônica, que “acha lindo envelhecer”.

Carioca de Marechal Hermes, Danah Costa, de 48, foi morar ainda criança no Acre. Aos 17, de volta à cidade natal, bateu na porta de uma agência com a cara, linda, e a coragem. “Foi quando conheci o Serginho Mattos, padrinho da minha filha, Morena”, frisa. A partir daí, atuou em campanhas, editoriais e desfiles. “Era rata de videoclipe, fiz mais de 30.” Sobre o passado, lembra. “Testemunhei um mercado cruel.

O racismo era naturalizado, hoje as pessoas estão mais conscientes porque dá cadeia”, avalia. Moradora do Vidigal, produtora e figurinista, ela lançou, em 2020, um canal no YouTube chamado Danahda Favela. Foi o stylist Daniel Ueda quem a indicou para a campanha da grife Handred. “As marcas entenderam que as pessoas querem se ver. A mulher mais velha está ganhando um espaço gigante”, diz ela.

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Prova disso é o lançamento, neste mês, do Projeto 40º + Art, idealizado por Nill Gray e Sergio Mattos. O elenco é todo formado por modelos com mais de 40 anos. “A demanda só cresce”, diz Nill.

 

Uma das integrantes da nova empreitada — ao lado de Danah, Luciana e de outras quatro modelos — é Carla Barros. A carioca de 56 anos trabalhou intensamente no passado. “Nos anos 1980, o Rio tinha, além dos jornais, a editora Bloch e a revista ‘Moda Brasil’. Fui clicada por grandes fotógrafos e ganhei um prêmio de Melhor Modelo no Theatro Municipal. Em São Paulo, virei queridinha da Regina Guerreiro (editora de moda)”, enumera.

Depois de passar algumas temporadas no Japão, Carla pisou no freio ao se casar e ter a filha, Maria Antônia. Despediu-se das passarelas aos 31 anos e investiu numa empresa de consultoria de moda até se apaixonar pela ourivesaria e lançar uma marca de joias que leva seu nome. Ano passado, participou do desfile da grife The Paradise. O estalo partiu da filha. “Ela disse: ‘Mãe, você tem que voltar a ser modelo, as tops maduras estão presentes no mundo inteiro’”, conta.

O convite da Cantão surgiu na sequência e, quando Carla se deu conta, lá estava ela, diante das câmeras novamente. “O prazer de modelar continua o mesmo, mas o amadurecimento traz uma liberdade única. Hoje sei que posso representar as mulheres de verdade.”

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