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Com a idade, vida sexual não acaba? Quem disse?

O casamento pode nos salvar dessas coisas, mas não nos livra da diária negociação para sustentá-lo e manter acesa a chama da paixão, que se apaga como uma vela. Foto: Reprodução/Internet

Márcia Lage                                                                                                                                                                50emais

A maior mentira que contam para os adultos é que a vida sexual não acaba nunca. O desejo está na cabeça de cada um e, bem resolvido, o gozo é eterno, juram os psicólogos e psiquiatras.

É por isso que todo mundo pira quando os hormônios vão à falência.

E a loucura coletiva gera lucros exorbitantes: para a indústria farmacêutica, com as espetaculares pílulas para disfunção erétil, reposição hormonal em mulheres (estão inventando o viagra feminino, mas parece que até agora um placebo faz o mesmo efeito), cirurgias plásticas, implantes de cabelo e tudo que possa reverter a juventude perdida.

De dentro para fora, de fora para dentro.

Por último, lucram psicólogos e psiquiatras, em cujos divãs vão parar os que acreditaram na mentira, inconformados com a inevitável derrota.

Nas mulheres, não sei em que ordem a baixa da libido aparece: se na menopausa, quando a testosterona diz adeus de um dia para o outro, ou se na pós-menopausa, quando assumimos aquele ar de dona e ficamos invisíveis para sempre.

Há um estertor da libido após a luta insana contra todas as sete pragas da menopausa (calores noturnos, insônia, variação do humor, perda de cabelo (ou do brilho deste), deformação física pelo acúmulo de gordura no peito, na cintura e na barriga, ressecamento da pele e da vagina e uma impaciência, diria até intolerância, que pode ser socialmente fatal.

Da mesma forma que o tesão sumiu, ele reaparece, trazendo a ilusão de um amor tardio, uma nova lua de mel, até um filhinho de incubadora, quem sabe. Porque os hormônios são como o Diabo, sempre se camuflam em paixões.

Mas, aí, “Inês é morta.” Todos os seus antigos namorados, amantes, ex-maridos e até mesmo maridos estão passando por uma crise parecida.

E o pau não sobe nem a pau. Para não passar vergonha, os homens vão procurar as menininhas – quanto mais inocentes, melhor – e as mulheres transferem seus desejos para gatos, cachorros, filhos, netos, cursos de arte, dança, ioga, qualquer coisa que canalize a energia criativa do sexo perdido.

Porque sexo não é vida, como diz o slogan das clínicas geriátricas, mas sim, criatividade. Quando são os hormônios que dão as ordens, a criatividade vira 69, sexo grupal, sexo com pessoas do mesmo sexo, sexo com o desconhecido, sexo, sexo, sexo.

Todo mundo só pensa e fala nele.

Findo o trabalho dos hormônios, contra a nossa vontade (e talvez por vontade divina, para que o ser humano possa ter tempo de se elevar um pouco na velhice e antes da própria morte) sobra angústia para quem não trepou o suficiente na vida, e um certo alívio para quem não se fez de rogada(o).

Eu achei libertador não pensar mais em como aplacar meu desejo sexual.

A coisa não é fácil, todos hão de convir. Uma trepada mal dada, uma rejeição no meio de um assédio, uma gravidez indesejada, uma infecção, uma decepção, uma desilusão e lá se vai nossa autoestima.

O casamento pode nos salvar dessas coisas, mas não nos livra da diária negociação para sustentá-lo e manter acesa a chama da paixão, que se apaga como uma vela.

Os que conseguem ultrapassar a barreira das Bodas de Prata, e têm assunto para o resto da vida, viram amiguinhos, companheiros de jornada.

Sem sexo, podem acreditar.

Ou com um sexo muito eventual, insosso feito picolé de chuchu, conquistado à custa de viagra e de lubrificantes.

Definitivamente, a idade afeta e muito a nossa vida sexual.

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