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Dr. Márcio de Sá: A importância do celular para nós que passamos dos 60 anos

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Manter o celular ao alcance das mãos é fundamental, sobretudo para quem mora sozinho

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É muito importante, indispensável mesmo, que todos nós, a partir dos 50 anos e, sobretudo, a partir dos 60, tenhamos, sempre, junto do corpo, um telefone celular ou algum outro dispositivo, como um relógio digital com detector de queda, por exemplo, de forma que possamos alertar alguém ou um serviço especializado que estamos precisando de ajuda.

A maneira mais conveniente e prática de manter um celular junto ao corpo é usar uma bolsa específica para isso. Este hábito é difícil de ser mantido, mas indispensável, pois pode ajudar a ter um desfecho menos grave para questões de saúde que são inerentes ao avanço da idade. Como todos estamos envelhecendo, não devemos negligenciar essa orientação.

Vou contar duas histórias que tiveram finais diferentes, porque uma das pessoas, ao passar mal e necessitar ajuda imediata, tinha um celular ao seu alcance.

Doze horas sem assistência

Um senhor aposentado de 76 anos, hipertensão arterial e diabete controladas, sedentário. Ele mora sozinho, numa grande casa colonial, numa cidade da periferia de uma importante capital.

Numa manhã qualquer, está na sala de sua bela casa e, de repente, cai ao chão e perde os sentidos. Ele só foi encontrado cerca de 12 horas mais tarde. Estava no mesmo lugar, já desperto mas confuso, com grande dificuldade para falar, paralisia facial e o lado esquerdo do corpo completamente paralisado.

O relógio digital também é uma boa opção

Levado imediatamente ao hospital mais próximo, o diagnóstico foi confirmado à tomografia cerebral: Acidente Vascular Cerebral (AVC) Hemorrágico – aquele em que há rompimento de um vaso sanguíneo cerebral e extravasamento de sangue para o interior do cérebro, que fica encharcado, o que leva ao seu inchaço: o edema cerebral. Em torno de 15% dos AVCs são hemorrágicos. Não foi, felizmente, necessário ser feita uma cirurgia para descomprimir o cérebro devido ao edema cerebral, tratado e debelado unicamente com medicamentos. AVCs hemorrágicos são geralmente graves. O desse senhor não foi diferente.

Ele ficou hospitalizado alguns dias e voltou para a casa da sua família. Numa cadeira de rodas, com o rosto desviado para um lado, sobretudo um canto da boca, e o braço e a perna esquerdos paralisados e quase completamente sem movimentos: a hemiplegia.

9 meses se passaram. O senhor ainda não anda – voltará a andar um dia? -, tem que manter o braço acometido quase sempre numa tipóia – ele se recuperará um dia? -, faz várias sessões de fisioterapia por semana, toma um anticoagulante diariamente – um tipo de remédio que torna o sangue mais ralo – um medicamento a mais, e para a vida toda, que se soma aos outros que já toma há anos. Ele precisa de duas cuidadoras que se revezam com os irmãos no seu acompanhamento, 24 horas por dia.

Se ele tivesse um celular ao alcance, seguramente as sequelas do AVC teriam sido mais brandas. Podendo, talvez, nem haver sequelas, uma vez que, o atendimento rápido possibilita atacar o problema de imediato. O ideal é que a pessoa seja hospitalizada em até uma hora após o acometimento.

O celular ajudou

Uma senhora de 61 anos, também aposentada, obesa, hipertensão arterial, fibromialgia, depressão crônica.

Um dia, de repente, ela se sente fraca, senta-se numa cadeira da mesa de jantar da sala, para não cair, mas cai. Sem perder a consciência, ela se arrasta até a mesinha de centro onde, por sorte, ela deixara o seu celular. Liga para o seu vizinho, um amigo de anos, e ele vem, na hora, socorrê-la. Chegando ao hospital em vinte minutos, ela é admitida de urgência e sofre um segundo ataque, logo depois de instalada num leito.

A bolsinha própria para colocar celular

A tomografia cerebral revela AVC Isquêmico – o tipo mais comum de acidente vascular cerebral (cerca de 85% dos casos), que é quando um dos vasos do cérebro fica obstruído, impedindo a passagem do sangue. Quando isso acontece, a região afetada não recebe oxigênio e, por isso, não consegue funcionar normalmente, causando o aparecimento de sintomas como dificuldade para falar, boca torta, perda de força em um dos lados do corpo e alterações da visão, por exemplo. Nos casos mais graves, paralisia facial e hemiplegia.

Um ano depois e sempre fazendo fisioterapia, ela já consegue andar arrastando do pé direito, inicialmente com muletas, agora, já só com uma bengala, e se recuperou quase totalmente da dificuldade para falar. O braço e a mão continuam ‘bambos’, como diz, e ela não consegue ainda acender um forno, descascar um mamão… Mas a depressão está sendo tratada e ela já apresenta melhoras.

O celular, acionado assim que precisou de ajuda, foi providencial no caso dessa senhora, que poderia ficar com sequelas muito mais graves ou até mesmo morrer, se não tivesse pronto atendimento médico.

Dr. Márcio de Sá é médico Clínico e Preventivista, Pesquisador da Fiocruz.

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