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O preço da saúde é a eterna vigilância

A autora, de cílios postiços e unhas vermelhas,teve que ficar em casa e desistir do casamento que iria, quando descobriu qu estava com Covid. Foto: álbum de família

A autora, de cílios postiços e unhas vermelhas,teve que ficar em casa e desistir do casamento que iria, quando descobriu qu estava com Covid. Foto: álbum de família

Márcia Lage

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Por 15 dias o coronavírus fez passeata  pelo meu corpo. Ignorei que “o preço da liberdade é a eterna vigilância”, como alerta a célebre frase do irlandês John Philpot Curan, e afrouxei o uso da máscara, cometendo a imprudência de viajar desguarnecida por uma noite inteira, em um ônibus fechado.

O virus achou minhas narinas abertas e iniciou seu ataque, não se sabe se em sua mais recente variante. O fato é que ele entrou pelas vias desmascaradas enquanto eu dormia.

Era o que ele esperava desde 2019, quando comecei a correr da covid. Primeiro, em Portugal, depois, aqui.

Tirando os 15 dias de quarentena quando cheguei, não fiquei presa em casa nesses três anos desde que a doença surgiu. A máscara, que usei o tempo todo, era minha proteção.

Mas o vírus é esperto, mutante, persistente e atrevido. Não respeita nem mesmo as vacinas, tão velozmente desenvolvidas para contê-lo.

O corona se aloja sem ser convidado e ainda cobra a conta. Fiz dois testes de farmácia e um do SUS, aflita para que ele se tocasse e fosse embora. Mas não.

Ficou o quanto quis, cortou meus encontros com amigos e uma festa de casamento, deixando-me abandonada em casa, de cílios postiços e unhas vermelhas, pronta para a festa à qual não compareci.

Pelo menos não tive sintomas fortes e espero que o infeliz não me cause nenhum dano colateral.

No dia em que ele demonstrou que havia se instalado, estive numa festa. Cheguei em casa mareada e com arrepios.

Achei que era encosto. Rezei até um credo para espantar qualquer mau olhado e dormi.

Acordei com uma secreção na garganta, um muco que me deixava rouca e sedenta.

Tratei de combatê-lo com própolis e gargarejo de água morna com limão e sal.

Passou tudo. De noite, comecei a espirrar e a ter dor nos olhos, coriza e um pouquinho de dor de cabeça.

Sinusite, diagnostiquei. Comprei remédio para gripe e acordei com a boca amarga, como se tivesse dormido mascando folha de boldo.

Foi só então que me toquei e fui fazer os testes. A cada um que dava positivo me orientavam a ficar cinco dias em isolamento.

Repassei toda a lista de filmes do Netflix, documentários, TV aberta, dormi por um ano.

Fiquei quietinha, malocada feito guerrilheira em tempos de repressão, até que o mal-estar  desapareceu.

O coronavírus continua circulando e as pessoas, como aconteceu comigo naquela  viagem, não estão usando máscaras em ambientes fechados.

Em mim a coisa foi mais leve porque tomei as quatro doses da vacina. Quem não se vacinou ou não tomou todas as doses de reforço são os que estão tendo sintomas mais graves. Ainda há mortes.

Então, minha mensagem é: Não relaxe. E tome a próxima vacina, que deve chegar em breve.

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