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Planeje o seu próprio envelhecimento, em vez de deixar essa tarefa para o destino

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Nossa população tem hoje mais adultos acima dos 60 anos do que crianças de zero a cinco. No entanto, a quantidade de pediatras continua bem maior do que a de geriatras. Foto: Internet

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Este texto é da jornalista e escritora gaúcha Martha Medeiros e decidi replicar aqui porque trata de um tema que só tem a ver com o 50emais: a preparação, ou falta de preparação, para o nosso próprio envelhecimento. No Brasil, não somos ensinados a fazer isso. E a autora não está falando de manter um corpo sarado, mas de medidas que nos torne, no envelhecer, mais independentes e nos façam viver melhor essa etapa da vida. Já escrevi aqui várias vezes, se eu pudesse dar apenas um único conselho aos jovens, eu diria: Prepare-se para a sua aposentadoria. Ou seja, prepare-se para o seu envelhecimento.

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Eventos online facilitam a vida. Perde-se o contato presencial, mas ganha-se em tempo. Num mesmo final de tarde, sem levantar do sofá, assisti a uma palestra do biólogo americano Jared Diamond, promovida pelo Fronteiras do Pensamento, e em seguida uma live com a gerontologista Candice Pomi, no Instagram da jornalista Patricia Parenza. Falaram sobre dois assuntos que convergiram: o fim. Jared, sob o aspecto universal; Candice, pessoal.

Candice abordou a troca de papéis (filhos cuidando dos pais idosos) e a importância de nos prepararmos (cedo) para nosso próprio envelhecimento, não com o intuito de viver mais, mas de viver melhor, com autonomia. Nossa população tem hoje mais adultos acima dos 60 anos do que crianças de zero a cinco. No entanto, a quantidade de pediatras continua bem maior do que a de geriatras. Costumamos deixar para pensar na velhice só quando ela se aproxima, o que é, no mínimo, um desperdício. Entre os 60 e os cem anos, há oportunidades magníficas de vida, mas antes temos que perder o medo de conversar sobre declínios, adaptações, finitude.

Aos 84 anos, o biólogo Jared Diamond mantém a mente ativa e os olhos no futuro. Ele lembra que doenças emergentes sempre existiram, mas hoje elas circulam a jato pelos cinco continentes, caso da covid-19. O único proveito dessa pandemia é reconhecer que, pela primeira vez, o mundo precisa de uma solução global – nenhum país vencerá o vírus sozinho. E temos um desafio ainda maior: nosso senso de coletividade precisa ser direcionado para três dramas planetários que matam mais do que a covid.

“Preparar-se para envelhecer não é fazer mais ginástica”

São eles: as mudanças climáticas, o esgotamento dos recursos naturais e a desigualdade social. A covid assusta porque mata rapidamente e de forma direta, mas ela não extinguirá o planeta. Já as outras três catástrofes, sim, serão fatais se não houver uma mobilização integrada. Alterações do clima provocam tsunamis, incêndios, estiagem, elevação do nível do mar e destruição de recifes. A exploração indiscriminada da natureza elimina florestas, acaba com os solos, provoca escassez de energia. E a desigualdade social gera fome, disseminação de doenças, violência. Mas continuamos preocupados apenas com o amanhã imediato, e não com o fim do planeta que se desenha para depois de amanhã.

Tanto no cotidiano privado como no exercício da cidadania, o recado está dado: planeje-se, em vez de entregar-se aos humores do destino. Se parece paranoia, paciência, é uma paranoia útil. Que façamos bom uso do relativo controle que ainda temos sobre o período que iremos viver. Frase de Jared Diamond: “Negar uma crise é o caminho mais curto para o desastre”. Seja uma crise existencial, política, sanitária, ambiental, não importa: uma vez informados, é preciso, agora, levantar do sofá.

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