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Planeta com 8 bilhões: um futuro mais idoso

Já somos oito bilhões de pessoas vivendo na Terra. Os desafios, principalmente na área de saúde, são muitos. Foto: Reprodução/Internet

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Já somos oito bilhões de habitantes vivendo no planeta Terra. O aumento da população mundial, embora lento, é constante e isso, de acordo com esta excelente reportagem de Leon Ferrari para o Estadão, terá enormes implicações, sobretudo por causa do envelhecimento, que caminha a passos largos.

A expectativa da ONU é que haja 1,6 bilhão de idosos em 2050, o que significará 16% dos habitantes da Terra. No momento, pessoas com 65 anos ou mais representam cerca de 10,2% do Brasil, a mesma taxa deve ser de 33% em 2100.

Na reportagem. especialistas listam desafios da saúde pública relacionados à expansão e ao envelhecimento populacional. Haverá mais obesidade e sobrepeso, novas pandemias e um número maior de doenças crônicas, como câncer e hipertensão, e de doenças degenerativas, como Alzheimer.

Leia trecho da reportagem:

A população mundial chegou ao marco dos 8 bilhões e não para de crescer, mesmo que com velocidade reduzida, segundo as Nações Unidas (ONU). Ao mesmo tempo que o aumento da expectativa de vida e a redução da mortalidade, principais razões do incremento, sejam conquistas da medicina e da saúde pública, a dimensão populacional impõe desafios para essas áreas em um futuro não tão distante. Especialistas preveem aumento no risco de novas pandemias e um maior número de doenças crônicas e degenerativas, associadas ao envelhecimento populacional.

Isso, porém, não é motivo para pânico, explicam, mas sim uma oportunidade de preparar-se para garantir o bem-estar dos habitantes na Terra. Os profissionais da saúde indicam necessidade de investir em vigilância epidemiológica e vacinas, bem como promover práticas de envelhecimento saudável e infraestrutura para atendimentos de alta complexidade. Enfrentar desigualdades de acesso ao sistema de saúde e lidar com a crise climática também são temas urgentes.

De acordo com Marcia Castro, doutora em demografia e professora associada da Harvard School of Public Health e da Harvard University Center for the Environment, o tamanho populacional – por mais que importe – não é um problema em si. “A gente não pode botar a culpa só nos oito bilhões. Tudo tem a ver com o contexto em que esses bilhões estão inseridos e o comportamento que eles têm.”

Novas pandemias

Ao passo em que nos encaminhamos para o quarto ano da pandemia da covid-19, novas epidemias são esperadas pelos cientistas. Conforme explica Marcia, isso tem alguns porquês. Primeiro, o mundo está extremamente conectado, vide a rápida expansão do novo coronavírus, que surgiu na China, mas rapidamente se espalhou pelo mundo todo. Além disso, é muito provável que essa nova crise sanitária advenha também de uma zoonose (doença infecciosa transmitida entre animais e pessoas).

“Está cheio de vírus em vários animais. Isso é normal. Mas na medida que o ser humano chega perto da floresta, ou para construir ou para desmatar, tudo o que você precisa é que aconteça um evento infeliz pro ser humano, mas muito bem sucedido para o vírus, que e faz o pulo de entrar no corpo humano e conseguir se reproduzir”, explica Marcia.

O tamanho populacional também apresenta implicações conforme a densidade populacional aumenta. Se em 1950, havia 19,17 pessoas por quilômetro quadrado; em 2023, o número será de 61,7, e em 2100, 79,36 (um aumento de 313%). A realidade é bastante desigual entre os países.

Futuro mais idoso

Ao mesmo tempo, a tendência de envelhecimento da população implicará diretamente no volume de doenças crônicas, como câncer e hipertensão, e degenerativas, Alzheimer, por exemplo. As Nações Unidas esperam que haja 1,6 bilhão de idosos em 2050 – 16% dos moradores da Terra. Se, por ora, pessoas com 65 anos ou mais representam cerca de 10,2% do Brasil, a mesma taxa deve ser de 33% em 2100.

“Em nossas previsões, o número de pessoas com essas doenças aumenta dramaticamente, porque há muito mais pessoas nessas faixas etárias. As taxas, por pessoa, nas faixas etárias mais velhas, estão subindo para condições como obesidade, diabetes, mas ainda estão caindo para doenças cardíacas, porque há menos fumo, há algumas melhorias na pressão arterial e no colesterol. Portanto, é uma questão mista”, fala Murray.

A obesidade e o sobrepeso – fatores de risco para diversas dessas doenças — são uma grande preocupação dos especialistas, que classificam a prevalência das condições como uma verdadeira epidemia. Segundo estudo publicado na Scientific Reports, um em cada 3 adultos no Brasil deve estar obeso em 2030.

A preocupação se ancora no entendimento de que envelhecer não é sinônimo de doença, mas, o bem-estar desses idosos está intimamente ligada ao estilo de vida de cada um. Os especialistas destacam a necessidade de políticas públicas de promoção do que chamam de “envelhecer saudável”.

Atividade física e boa alimentação

“A gente tem sempre que dissociar o envelhecimento de uma coisa ruim porque pode ser boa, depende muito das condições que a pessoa vive”, fala Claudia Kimie Suemoto, professora associada da disciplina de Geriatria da Faculdade de Medicina da USP. “O envelhecimento saudável resulta naquele idoso que, não é que não tenha nenhuma doença, mas é independente, autônomo, toma decisões, participa da sociedade e ainda tem um propósito de vida.”

Segundo ela, não há “segredo” para atingir esse resultado. “Muita atividade física; alimentação saudável, que é rica em vegetais, verduras, legumes e proteína; evitar fumar; evitar beber em excesso; ter uma atividade que seja prazerosa pra você, em termos produtivos; e engajamento social”, lista.

Mesmo assim, é preciso se preparar para lidar, principalmente, com esse idoso que não levou uma vida saudável. Claudia destaca a necessidade de investir em infraestrutura para atendimentos de alta complexidade e também em políticas de cuidadores, para aqueles que perderão autonomia e capacidade de tomada de decisão.

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