Helga Simões deu esse depoimento à jornalista Ana Maria Cavalcanti –
Por que aos 54 anos, mãe de um filho de 21, comecei a andar de skate? É uma longa história. Eu era editora-chefe de um programa de esportes de ação, no canal a cabo ESPN. Um dia, por acaso, saí da redação e fui pra rua fazer uma matéria de skate para o programa “Super Ação”. Foi quando me apaixonei pelo esporte. Continuo apaixonada até hoje.
Para andar de skate vc precisa de muita persistência, ele produz um efeito emocional poderoso. Você cai e levanta, cai e levanta, e tenta de novo, até conseguir o que quer. E quando vc consegue, quer ir além, até conseguir fazer outra manobra ainda mais difícil.
Fiquei na ESPN por 10 anos, e consegui emplacar um programa de skate que deu super certo. Eu filmava, editava, fazia a reportagem e entregava semanalmente um programa de 15 minutos. Chamava-se ‘Skate Paradise” . Para fazer o programa, eu tinha uma equipe e mandei até construir uma grande rampa de skate no quintal da minha casa, que custou uma fortuna.
Conheci o Brasil inteiro através do skate, além do Paraguai, Uruguai, Argentina, Espanha e Estados Unidos. Foi uma época maravilhosa, inesquecível, de minha vida. Eu fazia todos os encerramentos do programa na rampa em minha casa.
Quando em 2013 a ESPN acabou com a programação de esportes de ação, senti como tivessem tirado um pedaço de mim. Daí, tive que voltar ao jornalismo para ganhar a vida, depois de passar um bom tempo desempregada.
Hoje sou editora no “Domingo Espetacular”, da TV Record, o programa de maior audiência da emissora. Mas o skate não saía de minha cabeça e nem de meu coração. Aconteceu, então, uma coisa maravilhosa: a criação de um grupo de videomakers de skate, no Whatsapp.
Eles queriam fazer um vídeo sobre o esporte com eles mesmos andando de skate. Todos sabiam andar de skate, menos eu. No começo, achei que não era para mim. Estou com 53 anos, nunca tinha pisado em um skate. Mas um dos videomakers – que é professor de skate – me disse: “Eu ensino a você. Vou ensinar pelo menos duas manobras difíceis para você colocar no vídeo”. Isso foi em maio. Desde então, estou aprendendo e adorando.
Para ajudar o corpo e ter mais fôlego, comecei a fazer hidroginástica, natação e musculação. O skate está fazendo minha vida mais saudável e está me recuperando da crise que passei quando me vi sem trabalho, sem dinheiro e cheia de dívidas. Foi o pior momento profissional de minha vida, de uma hora para outra foi uma queda vertiginosa. Tive que mudar de casa e vender meus equipamentos de gravação e edição para poder sobreviver.
Até janeiro devo estar preparada para gravar minha parte no vídeo fazendo manobras. As pessoas se espantam quando me veem em cima de um skate, porque isso não é muito comum em minha idade. Estou no começo, mas ganho força todos os dias. Treino em pistas e na marquise do Parque Ibirapuera, toda segunda-feira. Nos finais de semana, quando não tenho plantão, faço aula de skate na Brasil Skate Camp.
Não me sinto um peixe fora d´agua. Sou do meio, só faltava subir em um skate. O vento no rosto, aquela sensação de liberdade, as amizades que estou fortalecendo. Ninguém se importa com minha idade. Você pode ser jovem ou velho, pobre ou rico, vai ser sempre tratado como um skatista. Você nivela as pessoas por cima, e isso me encanta. Somos uma família, um ajuda o outro. Tenho muito orgulho de fazer parte dessa família. Afinal, o skate é a melhor metáfora para a vida: depois de cair, você levanta e tanta de novo, até conseguir…”