Maya Santana, 50emais
Este artigo, publicado pelo Estadão, mostra como os idosos – pessoas com mais de 60 anos – podem se beneficiar com o uso da internet, no sentido de tornarem-se menos dependentes de outras pessoas. Vencida a resistência inicial à tecnologia, típica dessa faixa etária, o idoso se lança e vê o mundo se descortinar a sua frente. A internet, costumo dizer, para o bem e para o mal, figura entre as maiores invenções do ser humano. Tenho 65 anos e não consigo nem imaginar a minha vida sem a rede mundial de computadores. Amo estar conectada.
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Depois de passar 15 anos à frente do Data Popular, Renato Meirelles deixou a empresa e criou um novo instituto de pesquisa, o Locomotiva. Uma das primeiras pesquisas do instituto é justamente sobre a quantidade de idosos conectados no Brasil – e qual é o seu poder. A seguir, confira os melhores trechos de sua entrevista ao Estado sobre o estudo.
– Como estar conectado pode mudar a vida do idoso?
Para mim, internet é poder. Ela ajuda a resolver problemas e tornar as pessoas mais velhas cada vez mais independentes. Há um processo de empoderamento: apesar de terem sido consumidores a vida toda, eles começam a fazer compras online e conseguem manter sua rede de contatos ativa. Muitos deles usam a internet para reencontrar amigos de infância e, no caso dos viúvos, arranjam namorados e encontram companheiros para essa fase da vida. Além disso, a internet tem um enorme poder de influência no bolso dessas pessoas.
– De que forma a internet exerce influência nesse caso?
As pessoas se informam através da internet e isso pode influenciar a compra de produtos, mesmo que a pessoa prefira comprar na loja física. Além disso, a tecnologia ajuda a gerar renda. Se o idoso comprava um carro, ele era forçado a vender na crise. Agora, ele pode se oferecer para dirigir em um aplicativo. O mesmo vale para quem tem um quarto sobrando em casa, que pode alugar o quarto no Airbnb. É transformador.
– As empresas de tecnologia atendem bem esse público?
Acho que o mercado de tecnologia tem a dificuldade de entender as pessoas mais velhas. É um mercado basicamente formado por pessoas jovens. Agora, essas pessoas têm o desafio de explicar a tecnologia de uma forma mais simples. Os mais velhos não são nativos digitais: eles têm uma experiência de consumo muito consciente, experiência de vida maior, mas isso não vale para a internet. É um movimento muito novo para a maioria dessas pessoas. Às vezes, a própria dificuldade em entender a forma como os sistemas funcionam atrapalha.
– A maior parte das empresas de tecnologia que tem o idoso como público-alvo foca em soluções de saúde. É suficiente?
Saúde é uma área que o idoso é obrigado a procurar, mas há muitas oportunidades além disso. O mercado de viagens e de serviços – como de entregas em produtos em casa e motoristas sob demanda –, e o setor de entretenimento na internet têm grande potencial para esse público.