Maya Santana, 50emais
Ao todo, são 14 mulheres com idade entre 55 e 80 anos selecionadas para participar do Senhoras do Calendário 2019, um projeto criado pelo produtor Eduardo Araujo, que já está em sua décima edição. O lançamento do calendário, que é distribuído gratuitamente, foi na semana passada. Como das vezes anteriores, o projeto foi um sucesso, pois é uma das poucas iniciativas no Brasil dedicadas a mulheres mais maduras.
Leia o artigo de Felipe Isensee, do jornal Extra:
A despeito dos quatro netos, Graciara Casimiro se recusa a corresponder à imagem da vovozinha que faz tricô para preencher o tempo. “Quero mais”, repete ela, afastando-se do rótulo pejorativo em torno da velhice. O cabelo vermelho, os brincões, o salto alto e as roupas com decote sinalizam o pacto que ela fez com a exuberância. À beira dos 70 anos, a aposentada é uma das “Senhoras do calendário”, iniciativa que faz um elogio à beleza da maturidade — o nome faz referência ao filme “Garotas do calendário”, de 2002. Além de ilustrar um dos meses de 2019, o compromisso inclui ser madrinha ocasional de projetos sociais variados, papel compartilhado com outras 13 mulheres, todas com mais de seis décadas vividas.
— O que podemos fazer pelo outro é o que mais me encanta. Nesse momento, você vê que seus problemas não são nada. Servir o outro, cobrir de carinho e proteção é mais gratificante para nós do que para quem está recebendo. As pessoas estão muito desligadas umas das outras — pontua ela, que mora no Cachambi.
Graciara conheceu o produtor Eduardo Araúju, idealizador do calendário, durante uma viagem a Dubai, nos Emirados Árabes. Parte do processo, ela conta, envolveu participar de um curso para aprender a desfilar e com dicas de boas maneiras. Assim como as outras senhoras, ela não esconde seu apreço pelo próprio reflexo, especialmente quando está devidamente maquiada.
— Nisso, eu e o pavão estamos juntinhos (risos). Sempre fui vaidosa. Gosto de aparecer, de movimento. Não quero só ficar em casa e não curto “zap”. Prefiro a conversa tête-à-tête . Já tive medo de envelhecer, porque não tinha um horizonte. Só cuidar de neto? É isso? Para mim, não — avisa Graciara, que planeja uma viagem com a família ao Canadá.
Inquietação parecida tem Sonia Sabina, 65 anos. Seus gestos, contudo, são mais comedidos que os da amiga; e o tom de voz, sem sobressaltos. Mas isso nada tem a ver com timidez. Na primeira vez em que participou do calendário, em 2014, a moradora do Engenho de Dentro se arriscou num nu artístico. Para ela, entrar no projeto é uma maneira de lidar com as cicatrizes do passado.
— Em 1999 eu estava grávida de um menino e perdi o bebê aos quatro meses. Isso me deixou muito mal. Dei o enxoval dele para a filha de uma vizinha, a quem considero minha filha. Desde então, me fechei. Entrar no projeto me ajudou a sair do baixo astral. Tenho sempre duas coisas em mim: fé e foco. Foi assim a minha vida toda e vai continuar sendo — garante.
Para receber o calendário gratuitamente, basta enviar um email para circ.senhorasdocalendario@gmail.com