Quem escreveu este artigo, Luiz Carlos Merten, crítico de cinema do Estadão, nutre visível admiração pela atriz paranaense, que interpretou tantos personagens inesquecíveis no cinema e na televisão, como Gabriela, Tieta, a inesquecível Dona Flor e Seus Dois Maridos e tantos outros. Hoje, 8 de junho, Sônia Braga chega aos 70 anos de vida. E acho que ela merece mesmo todos os elogios pela carreira profissional espetacular que construiu, no Brasil e nos Estados Unidos, ao longo de todas estas décadas.
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Nos anos 1970, ela se converteu em mito sexual, na TV e no cinema. Um objeto de desejo. Seus três filmes mais importantes da época fizeram história no cinema brasileiro. Foram produzidos entre 1976 e 81 – Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto; A Dama do Lotação, de Neville D’Almeida; Eu Te Amo, de Arnaldo Jabor. A par das qualidades, foram grandes êxitos de público. Sônia Braga, a rainha das bilheterias. As fronteiras do Brasil ficaram pequenas para ela. Sônia ganhou o mundo. Filmou com Robert Redford e Clint Eastwood. Concorreu ao Golden Globe, ao Emmy e ao Bafta.
Nesta segunda, 8, a paranaense de Maringá completa 70 anos. Nasceu em 1950. Talvez não seja mais páreo para as pin-ups do momento, mas segue gloriosa. A Sônia setentona virou a musa de Kleber Mendonça Filho em dois filmes que nunca serão suficientemente elogiados, Aquarius e Bacurau. No primeiro, de 2016, com toda a equipe, participou daquele protestoo na escadaria do palais de Cannes. Os cartazes denunciando a situação política no Brasil ganharam projeção pelo mundo. Sônia e o diretor entraram na mira das milícias. Não se intimidaram. No ano passado voltaram a Cannes e foram premiados com Bacurau.
Era o ano de Parasita e o longa de Bong Joon-ho venceu a Palma de Ouro e, depois, recebeu a definitiva consagração no Oscar. Bacurau, além do prêmio do júri, inscreveu-se na mesma tendência que, a partir da Croisette, ditou a regra no cinema mundial em 2019 – a revolta dos deserdados. Parasita, Bacurau e também Os Miseráveis, de Ladj Ly, outro premiado de Cannes. E Coringa, de Todd Philips, vencedor do Leão de Ouro de Veneza. Neste dia tão especial, vale lembrar a trajetória dessa mulher que não briga com o tempo e exibe as rugas pelo que são – a expressão de uma bela história de vida. Embora nascida no Paraná, criou-se em São Paulo. Aos 14 anos, começou a fazer teleteatro e programas infanto-juvenis. Aos 18, apareceu nua na montagem brasileira do musical Hair.
Em 1968, fez sua estreia no cinema, num filme que se tornou marco – foi uma das vítimas em O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla. No ano seguinte, estreou na TV – Odília em A Menina do Veleiro Azul. Não parou mais – Irmãos Coragem, Selva de Pedra, Vila Sésamo, Fogo sobre Terra. Em 1975, foi a consagração – Gabriela, na novela da Globo. O primeiro encontro com Jorge Amado. O restante é história. No cinema – Dona Flor, outra heroína de Jorge Amado. Solange, a dama do lotação. Maria, em Eu Te Amo. De volta à TV, foi Júlia Matos em Dancin’ Days, de 1978, na onda das discotecas. Em 1985, o tríplice papel em O Beijo da Mulher Aranha, de Hector Babenco, lançou-a internacionalmente. Seguiram-se Luar sobre Parador, Rebelião em Milagro, Rookie – Um Profissional em Perigo, Amazônia em Chamas e um grande etc.
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No Brasil, e com direção de Bruno Barreto, foi de novo Gabriela, em 1983, e desta vez com o astro italiano Marcello Mastroianni como Nacib. Em 1996, sob a direção de Cacá Diegues, viveu sua terceira heroína amadiana, Tieta do Agreste. Dez anos e vários filmes e séries depois – Sex and the City, Law and Order, CSI: Miami –, venceu, graças à Clara de Aquarius, muitos prêmios de interpretação em Biarritz, Lima. Foi a melhor atriz pela Associação de Críticos de San Diego, vencendo nomes que depois iriam para o Oscar. Em 2017 interpretou a mãe de Julia Roberts em Extraordinário, baseado no livro de R.J. Palacio. Em 2019, teve aquela cena com Udo Kier em Bacurau.
Sônia já disse que desistiu de ter filhos para focar na carreira. Teve grandes amores, mas sempre foi discreta, são coisas de foro íntimo. Se não for verdade, não faz mal – vale imprimir a lenda, como dizia John Ford –, mas Caetano Veloso compôs para ela “Uma tigresa de unhas negras e íris cor de mel / Uma mulher, uma beleza que me aconteceu”. Divide-se entre casas nos EUA – em Nova York –, e no Brasil. Tantos filmes em língua inglesa lhe garantiram o Green Card. Lá e cá. Internacional, mas sem deixar de ser brasileira. Fez campanha contra Jair Bolsonaro. Na internet você encontra seu depoimento que não perdeu, pelo contrário ganhou, atualidade – #SeuVotoMePoeEmRisco. Em sucessivas entrevistas, dedicou a personagem de Bacurau a Marielle Franco. Sônia guerreira, engajada. Serão 70 anos esta noite. Comemorados à distância. No isolamento, mas no coração dos brasileiros. A história continua.
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