A primeira manifestação de preconceito contra a minha idade ocorreu quando ainda não havia completado 40 anos. Naquela época, decidi abandonar o meu trabalho no Estadão, em São Paulo, e voltar para a Inglaterra, onde já havia morado durante dois anos. Quando comuniquei a decisão a uma grande amiga, a primeira coisa que me disse: Você não deveria abandonar um bom emprego com esse idade. Acho que está velha para recomeçar a vida em Londres.
Claro que não dei a menor confiança. Arrumei tudo e viajei cheia de confiança. Mas a todo momento a gente vê esse preconceito se manifestar, sobretudo se a pessoa passou dos 50 ou dos 60. É algo que está impregnado na cultura, em nós mesmos, e que, como diz a autora do texto abaixo, Sílvia Ruiz, do blog Ageless, publicado pelo Uol, é preciso combater com vigor.
Leia o que ela diz:
Se você já passou dos 40 anos, quantas vezes já ouviu ou repetiu a frase: “não tenho mais idade para isso”? Quantas vezes já evitou um novo corte de cabelo, um modelo de roupa da moda, um programa noturno diferente, uma aula nova na academia, com o argumento de que não é mais apropriado para sua idade?
Quantas vezes ouviu que não poderia mudar de emprego ou, pior, teve uma vaga negada por “ser velho demais para ela”? Esse tipo de atitude e de pensamento tem nome: etarismo (ou ageismo) que é toda forma de estereótipo, preconceito e discriminação baseado em idade. Ele está em todos nós e é tão comum que quase não nos damos conta. Mas isso tem que mudar.
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Até mais ou menos os meus 46 anos, eu nunca havia pensado na questão da idade, sobre o número de anos que já tinha vivido. Nunca foi minha preocupação. Até que chegou um momento em que me peguei pensando várias vezes na tal frase “não tenho mais idade para isso”.
Comecei a perceber que meu corpo estava mudando, que meus colegas de trabalho tinham a idade dos meus filhos, que as mulheres nas capas de revista, nos tutoriais de maquiagem no YouTube ou nas propagandas de TV não me representavam mais. Me dei conta de que minha geração meio que tinha ficado invisível. Ou, pior, retratada de uma maneira totalmente equivocada e estereotipada. Foi inclusive por essa constatação que eu comecei a escrever o Ageless e a discutir sobre esse tema no meu perfil no Instagram (@silviaruizmanga).
A única certeza que temos na vida é que todos nós vamos ficar velhos (menos quem morrer antes, obviamente). E ainda assim é algo que a gente se esforça muito para negar. Basta ver o tanto de cremes “anti-idade” que há nas prateleiras das farmácias por aí, ou o tanto de pessoas que mentem ou omitem a idade. Perguntar a idade de uma mulher é considerado falta de educação no Brasil (nunca entendi isso. Aliás, tenho 50)! Ou seja, o etarismo faz parte da nossa cultura, está nas nossas entranhas.
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O preconceito está em todo lugar, a gente passa a vida ouvindo que ficar velho é feio, a gente vê as atrizes mais velhas das novelas sendo demitidas ou ficando com os papéis de mãezonas, sem vida sexual, sem carreira, sem amor, sem diversão. Passamos a vida temendo terminar nossos dias num asilo, pobres e sozinhos, pensando que isso é envelhecer. É um medo real e legítimo, mas é nosso papel lutar contra essa cultura do medo e da negação. Para o nosso próprio bem.
A verdade é que o etarismo tem impacto direto e real na nossa saúde, não apenas em como nos sentimos ou nos vemos. Estudos mostram que quem encara o processo de maneira positiva tem mais cuidados preventivos com a saúde, como se alimentar bem e fazer exercícios, além de ter menos depressão e ansiedade e, pasme, vive mais. Ou seja, negar o processo natural da vida só o torna pior para nós.
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Por isso eu gostaria de propor neste post que a gente aprenda a celebrar a nossa idade, a se adaptar às mudanças que chegam e a parar de negar o presente e o futuro. Em 2020 eu completo 50 anos e pretendo comemorar cada minuto. Nunca me senti tão bem. Comigo mesma, com minha família, com meu casamento, com meu corpo e com minha saúde. Hoje tenho muito mais consciência sobre a necessidade de cuidar do corpo e da mente do que tinha aos 30. Não tenho a pretensão de ter 20 anos, mas faço questão de ser o melhor de mim aos 49. Dá mais trabalho do que aos 30? Do ponto de vista físico, certamente! Mas emocionalmente, mentalmente é tão mais fácil!
Este espaço jamais será sobre ser contra ou anti-envelhecimento, mas, sim, sobre envelhecer bem, na nossa máxima potência, sobre combater os estereótipos que a sociedade (e muitas vezes nós mesmos) insistimos em nos enquadrar. É sobre aprender a tocar um instrumento, a falar um novo idioma, a começar um novo esporte, ter consciência de que apenas podemos.
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