50emais
A constatação que homens mais velhos correm mais risco de ter filhos com problemas físicos e psiquiátricos, como esquizofrenia, foi feita através de vários estudos importantes, como o da Universidade de Stanford, na Califórnia(EUA), de 2018. Antes, como explica o artigo de Marcelo Testoni, do Uol, que você vai ler abaixo, acreditava-se que a idade pesava apenas para a mulher na hora de gerar filhos. Mas, agora, está claro que a idade paternal conta. “O risco de diabetes gestacional foi 34% maior em mães com parceiros mais velhos,” diz um dos pesquisadores que participaram dos estudos da Universidade de Stanford.
O artigo fala também sobre maternidade tardia. E cita Dr. Paulo Camiz, geriatra e professor de clínica geral do Hospital das Clínicas, de São Paulo, segundo quem, a mulher mais velha traz mais riscos para a filha ou o filho que venha a ter.” Os estudos deixam claro que, (no caso das mulheres), principalmente a partir dos 35 anos, há um aumento do risco, que é maior a cada ano que passa, de se gerar filhos com alguma trissomia, algum distúrbio cromossômico, e um dos mais comuns é a síndrome de Down”, afirma o médico.
Leia:
Alguns estudos internacionais sugerem que a paternidade tardia oferece riscos à saúde dos filhos que virão a nascer. Em 2014, uma pesquisa sueca demonstrou que pais acima dos 45 anos têm mais risco de terem crianças com autismo, esquizofrenia e outros problemas psiquiátricos. Os cientistas alegam que mutações espontâneas acumuladas no DNA do esperma devido ao envelhecimento seriam as grandes responsáveis.
Já em 2016 e mais recentemente em 2018, outros trabalhos, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e publicados no periódico científico BMJ, reforçaram que a idade paterna avançada afeta todo o espectro da fertilidade masculina e mais, pode levar a taxas mais altas de doenças congênitas (cardíacas, nanismo), distúrbios psiquiátricos (esquizofrenia, transtorno bipolar) e até câncer em filhos. Nem as mães escaparam dos efeitos negativos observados.
Segundo Michael L. Eisenberg, um dos autores dos estudos e chefe de medicina reprodutiva masculina de Stanford, o risco de diabetes gestacional foi 34% maior em mães com parceiros mais velhos. Para Hilary K. Brown, pesquisadora de saúde pública reprodutiva da Universidade de Toronto, no Canadá, por muitos anos acreditava-se que a idade avançada só importava para as mulheres. “Mas a idade paternal também conta”, garante.
Lara Sepúlveda de Andrade, médica pela UFPI (Universidade Federal do Piauí), geriatra e preceptora do ambulatório de geriatria e gerontologia do curso de medicina da Afya Educacional, assim como Alex Meller, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e urologista do Hospital Israelita Albert Einstein (SP), concordam com os estudos citados de que a paternidade tardia influencia na ocorrência de alterações e deficiências genéticas.
Leia também: Cardiologista: Evite estes cinco alimentos. Eles provocam inflamação no seu corpo
“Elevam-se os riscos a partir dos 40 anos e se intensificam a partir dos 60 anos”, aponta Meller. Andrade complementa: “A idade paterna influencia não só nas características do esperma (menor volume, alteração no número e qualidade dos espermatozoides), mas também na integridade do DNA, e isso pode se manifestar em infertilidade, abortos espontâneos, problemas na gestação e comprometimento da saúde dos nascidos vivos.”
Geraldo Caldeira, ginecologista e obstetra da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), da SBHR (Sociedade Brasileira de Reprodução Humana) e do serviço de reprodução humana do Hospital Santa Joana (SP), também está de acordo e explica que por conta do envelhecer surgem falhas na replicação do DNA que os espermatozoides carregam e que não são corrigidas pelo organismo, aumentando o risco de deficiências genéticas —e consequentemente doenças.
Entretanto, essas alterações não podem ser estendidas igualmente a todos os homens, argumenta Andrade, alegando que a ocorrência também depende de fatores individuais variáveis e está sujeita a danos e exposições que podem ocorrer ao longo da vida, relacionadas ao ambiente, doenças crônicas, alterações hormonais, infecções e varizes testiculares (varicocele).
E quanto à maternidade tardia?
Segundo Paulo Camiz, geriatra e professor de clínica geral do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), Nelson Douglas Ejzenbaum, pediatra e neonatologista membro da Academia Americana de Pediatria e Alexandre Pupo, ginecologista e obstetra do Hospital Sírio-Libanês e do Hospital Albert Einstein (SP), o risco de complicações é muito mais baseado pela idade da mãe e maior do que pelo pai ser mais velho.
“A maior parte dos estudos feitos em homens trabalha com a idade de 40 anos e os principais problemas em crianças, com mais evidência, são os psiquiátricos, mas é algo muito discreto. Já da parte da mulher, os estudos deixam claro que, principalmente a partir dos 35 anos, há um aumento do risco, que é maior a cada ano que passa, de se gerar filhos com alguma trissomia, algum distúrbio cromossômico, e um dos mais comuns é a síndrome de Down”, aponta Camiz.
Leia também: Agnaldo Silva: “Em nosso país, ninguém é mais discriminado do que os idosos”
Diferentemente dos homens, que não param de produzir espermatozoides, mesmo após a baixa da testosterona, a mulher tem os óvulos contados desde o nascimento e com o aumento da idade não é parte deles que se altera, mas todos, aumentando os riscos no filho, diz Ejzenbaum.
“Além disso, quando a paciente tem mais de 35 anos, a gravidez é considerada de risco porque o corpo entra numa fase de amadurecimento e não a suporta com a mesma segurança, é difícil de se adaptar e fica sobrecarregado”, elenca Pupo.
Assim, é comum alterações de diabetes, elevação da pressão (pré-eclâmpsia) e risco de a criança nascer abaixo do peso e prematura. Como consequência, mais hospitalizações na gravidez e maior mortalidade materna e fetal.
Planeje-se e busque um médico
Se a ideia é focar primeiro nos estudos e na carreira para depois formar uma família, tudo bem. Hoje, graças aos avanços da medicina reprodutiva, com tratamentos (inseminação artificial, fertilização in vitro, terapia de reposição hormonal), procedimentos (cirurgia para melhorar a produção de espermatozoides, retirada, congelamento e doação de material biológico), barriga solidária, mulheres e homens são capazes de ter filhos mais tarde.
“A grande importância dos estudos está em chamar a atenção para a importância do planejamento familiar dos homens e o acompanhamento das gestações cujos pais tivessem uma idade mais avançada”, explica Lara.
Não é para alarmar, mas facilitar o acesso ao conhecimento. O pesquisador dá a outros profissionais a oportunidade de também se beneficiarem desses dados, assim como pacientes.
“No caso da mulher, por exemplo, ela não consegue gestar depois dos 45 anos, com óvulos dela. Precisaria receber uma doação de óvulos de outra mulher para poder gestar depois dessa idade. O útero leva mais tempo para envelhecer do que os ovários”, informa Caldeira.
No que compete aos homens, Meller acrescenta que, além das falhas na replicação do DNA, os espermatozoides diminuem sua capacidade de fecundar. “O processo fica mais complicado, o que necessita, muitas vezes, de um médico especializado para melhorá-lo e até de reprodução assistida.”
Por isso, se o casal estiver com dificuldades para engravidar deve investigar a causa com um médico. Em conclusão, é o correto a se fazer quando se fala em saúde e fertilidade.
Leia também: Sete hábitos que aceleram o envelhecimento da pele, o maior espelho da idade