Maya Santana
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A pandemia fez com que muitos de nós deixassemos de fazer aqueles exames preventivos que fazíamos anualmente, até a chegada do novo coronavírus. Vai completar dois anos que eu mesma não vou ao médico. Conto isso, porque tem me preocupado, nos últimos tempos, o número de colegas jornalistas diagnosticados com câncer. Esta manhã, assistindo ao noticiário, fiquei estupefata quando informaram sobre a morte de Cristiana Lôbo, jornalista goiana, comentarista política da Globonews. Ela tinha apenas 64 anos. Morreu em um hospital de São Paulo, em decorrência de um mieloma múltiplo, câncer de um tipo de células da medula óssea(plasmócitos), responsáveis pela produção de anticorpos que combatem vírus e bactérias.
Nesta semana, já havia me comovido com o depoimento corajoso, ao vivo, na televisão, da jornalista Lilian Ribeiro, 37, que apareceu para apresentar o programa de lenço na cabeça. Ela perdeu o cabelo depois das primeiras sessões de quimioterapia. Lilian notou dois nódulos numa das mamas. Começou a fazer exames no final de agosto e, em primeiro de outubro, veio o diagnóstico cruel: câncer. “Passei semanas em profunda amargura. Você é confrontado com sua finitude. A gente vive como se não fosse morrer. Uma hora vai acabar, mas eu não quero que acabe agora” – contou ela à jornalista Adriana Mourão, do Estadão, ela própria vítima de um câncer de mama.
Foi também um câncer de mama, o mais comum entre as mulheres no Brasil, que afastou por um tempo a jornalista Zileide Silva de seu trabalho na televisão. Ela retornou à TV há quatro meses, após se submeter a uma cirurgia. Poucas semanas atrás, a jornalista participou de um programa de TV e falou da sua difícil experiência: “Dá um medo. Essa é uma notícia que ninguém quer receber, o câncer. Tem esse medo de câncer quase ser um sinônimo de morte. Dá um terror de como enfrentar isso, só que a gente tem uma corrente de amigos, família e médicos,” disse ela, aproveitando para enfatizar a importância do autoexame, essencial para identificar estágios iniciais do câncer de mama. Foi assim também que ela descobriu o nódulo, fazendo autoexame.
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Essas histórias me trazem à lembrança a jornalista Valéria Sffeir, que não resistiu à virulência de um câncer de pulmão e, em poucos meses, mesmo se tratando em hospital de ponta, nos deixou aos 57 anos. Acompanhei de perto a doença de Valéria. Ela começou a se sentir mal no início de 2010. Morreu em outubro, exatamente com a mesma doença que levara seu pai. Como havia deixado de fumar já há algum tempo, ela não se preocupou em fazer o exame de prevenção. A doença se instalou e, como acontece com o câncer de pulmão, só deu os primeiros sinais de que algo estava errado, quando já não havia muito o que fazer.
O jornalismo, que exerci por mais de 40 anos, na imprensa escrita e no rádio, exige muito daqueles que o têm como profissão. O bom jornalista, aquele devotado ao que faz, vive crônicamente estressado. Nesses tempos de internet, em que a velocidade com que os fatos, nacionais e internacionais, circulam muitiplicou por muito, eu diria que exercer o jornalismo, mais do que nunca, se tornou uma atividade de risco. A vida atribulada, corrida, com pouco sono e alimentação nem sempre a mais apropriada, vai debilitando a saúde, abrindo caminho para doenças, muitas vezes fatais. Daí a importância vital da prevenção.
Especialistas dizem, no entanto, que, no caso do câncer que acometeu Cristiana Lôbo, não tem uma causa específica, por isso não existe formas de prevenir o mieloma múltiplo. O que significa que, afirmam eles, a única maneira de se evitar essa e outras doenças é levando uma vida mais saudável, ou seja, alimentar-se bem, praticar exercícios, evitar abusar do cigarro e do álcool.
Pela própria natureza da profissão, nem sempre essa vida saudável está ao alcance de jornalistas.
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