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Há muitas mulheres, e homens também, que sofrem em demasia por não conseguir enfrentar com naturalidade o inevitável processo de envelhecimento. Estamos inseridos em uma sociedade que ainda vê o envelhecer como um castigo, sobretudo no caso das mulheres. Uma sociedade que privilegia sempre os mais jovens. Essa é uma forma de pensar e agir que precisa mudar, pois estamos todos envelhecendo. Uma parcela enorme da população brasileira já tem mais de 60 anos e esse processo só vai aumentar. As previsões são de que em 2050, perto de um terço dos brasileiros sejam idosos. Então, não podemos seguir adiante com todo esse preconceito contra o avançar da idade. Por isso, achei conveniente postar aqui este texto de Ana Paula Calixto, da Tribuna de Minas sobre “a arte do envelhecer.”
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Tão natural quanto viver, é envelhecer. Mas, a velhice, que é apenas uma etapa da existência, pode se tornar alvo de crueldade e preconceito da sociedade que cultua o mito da juventude.
A ideia de que o velho é ruim desencadeia comportamentos de rejeição a tudo o que é, ou remete, à velhice. E neste contexto, as mulheres são as maiores vítimas de atitudes de desrespeito com a imagem, como se o avanço da idade de uma mulher acarrete perda de valor e até de identidade. Mesmo em pleno século XXI, com toda liberdade de expressão, ainda há correntes de pensamento ditando o que as mulheres de idade mais avançada podem ou não podem, incluindo aí desde o comprimento da saia até o tipo de cabelo adequado.
A jornalista Cris Guerra, no seu livro “Moda intuitiva”, pontua que envelhecer tem seus desafios e é preciso bom humor para se readaptar, conhecer e reconhecer seu corpo e estar pronta para fazer pequenas correções de rota à medida que ele se transforma também. Mas isso não quer dizer aceitar rótulos de pode e não pode. A liberdade é a maior das tendências, inclusive a liberdade de optar em deixar os cabelos naturalmente brancos, como fez a Cris recentemente, que está próxima de completar 50 anos e continua extremamente jovial e coerente com a sua imagem. E já podemos falar que deixar de pintar os fios e deixá-los ao natural virou moda, multiplicada em tempos de pandemia. Assumir os fios brancos pode ser uma opção supercontemporânea e cada vez mais disseminada.
Prática comum entre as europeias, vem ganhando adeptas no Brasil. A decisão do cabelo natural exige paciência e dedicação: o branco não chega de um dia para o outro e não há descolorante que leve o cabelo a essa tonalidade. Cortar bem curtinho para o cabelo crescer natural é um bom começo, e fica mais jovial. Cabelos brancos também exigem cuidados com hidratação e uso de xampus especializados para grisalhos, que evitam a tonalidade amarelada. Essa decisão pelo grisalho pode trazer mudanças também no guarda-roupa.
As cores que você escolhe podem te ajudar a se adaptar ao novo visual. As roupas com tonalidades mais coloridas e vibrantes trazem alegria ao cabelo cinza. Tudo vai depender do conjunto: corte, maquiagem, acessórios, e mais: o estilo platinado nos cabelos demonstra sinal de coragem e atitude, afinal tudo é uma questão de estilo, e estilo não tem idade! Aliás, a tendência é melhorar com o tempo, mulheres maduras se apropriam do seu estilo com mais autoridade, pois a personalidade fala mais alto.
Estamos vivendo uma época de quebras de paradigmas, de ressignificar conceitos e de mudanças significativas de comportamento. Neste cenário, é flagrante a ascensão da força da mulher madura que busca se libertar de padrões de beleza e comportamento e vive a sua maturidade na plenitude, sem se preocupar com a listinha de pode e não pode, quebrando as barreiras das gerações. Todas essas mudanças permeiam o conceito de “ageless” – termo que significa “sem idade”, em inglês, que valoriza quem a mulher é, e não quantos anos ela tem.
A concepção de ageless não corresponde a uma geração, mas sim a um estilo de vida, a uma mentalidade inclusiva que valoriza a beleza como um todo, quebrando a tirania da idade. Assim, a estética madura invadiu as campanhas de moda e beleza, as passarelas, as redes sociais, e se podemos eleger uma personalidade que representa com maestria este conceito, é o ícone de elegância Costanza Pascolato.
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Ninguém melhor que Costanza – aqui na coluna brilhantemente ilustrada por DaniBrito a partir da réplica de uma foto da campanha que estrelou para uma famosa joalheria – para representar uma mulher que assume e usufrui da sua maturidade. Maior autoridade em moda e estilo do país, dona de uma personalidade marcante, Costanza chegou aos 80 anos mais elegante do que nunca! Admirada por sua altivez e autenticidade, a maneira como se comporta e se veste influencia diversas gerações.
Ao longo da sua história e nos relatos de seus três livros, Costanza traz ensinamentos de moda, beleza, comportamento e lifestyle. No seu último livro, “A elegância do Agora”, há um capítulo inteiro para a mulher adulta, no qual a autora aborda várias questões sobre o envelhecer e confessa que não fica pensando em envelhecer, se martirizando, controlando os sinais. O que ela se propõe é cuidar do que tem de melhor e se interessar por tudo.
Ela ensina que o tempo deve ser encarado como um aliado e não um inimigo, que cuidar do corpo e da aparência tem a ver com autoestima, com autocuidado, com amor próprio e satisfação pessoal, sem terrorismo de padrões estéticos, pois não adianta ir atrás da juventude que já passou. O importante é sentir-se bem fisicamente, é cuidar de você!
Encare o tempo como um aliado, aproprie-se do seu estilo de viver, de se vestir. Seja fiel às suas verdades e não aceite imposição de padrões, nem de regras baseadas nos olhares dos outros, de convenções pré-estabelecidas. Lembre-se muito bem de quem você é, de quem você lutou para ser, olhe com mais generosidade e faça da arte de vestir uma expressão autêntica da sua melhor versão. Eu, com os meus 48 anos, sigo experimentando, me reinventando e me permitindo, afinal moda é pra fazer a gente feliz!
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