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Aos poucos, a paisagem humana vai mudando no país, com o visível envelhecimento da população. É só você fazer um teste: quando sair à rua para ir ao banco, supermercado ou a uma loja, repare à sua volta. Vai ver um número expressivo de homens e mulheres de cabelos brancos ou tingidos. Essa transformação está levando ao surgimento de novas profissões, como a do cuidador de idosos online, e reforçando outras: a do cuidador que trabalha na casa do idoso, do geriatra do conselheiro de aposentadoria e outras. Nesse artigo de O Globo você vai ver quais são as 10 profissões em alta no país, em decorrência do crescente envelhecimento dos brasileiros.
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Um estudo publicado pela Fundação Dom Cabral Longevidade aponta dez carreiras que ganham força com o aumento do número de pessoas com mais de 60 anos no Brasil. Cuidador de idosos, geriatra e gerontólogo lideram a lista de profissões mais demandadas na chamada ‘economia prateada’.
A pesquisa é a terceira de uma série sobre longevidade desenvolvida pelo projeto da Fundação Dom Cabral (FDC) em parceria com a Hype50+ e patrocinada pela Unimed – BH e aponta oportunidade em meio ao aumento do desemprego no país.
Segundo o IBGE, a taxa de desemprego ficou em 14,2% no trimestre encerrado em janeiro, a maior taxa já para o período desde o início da série história, em 2012.
O levantamento também destaca como promissoras, nesta ordem, as carreiras de terapeuta ocupacional; cuidador remoto, que mantém companhia ao idoso de forma online, e bioinformacionista, que tem por objetivo criar medicamentos mais eficientes para doenças genéticas.
No fim da lista, aparecem as profissões de consultor de bem-estar para idosos; conselheiro de aposentadoria; curador de memórias pessoais, que compila memórias do idoso em formatos como livros e filmes, e especialista em adaptação de casas.
A coordenadora do FDC Longevidade, Michelle Queiroz, explica que as profissões foram selecionadas com base nas demandas que já surgem hoje com o crescimento da população idosa no Brasil.
— O critério de escolha para a lista tem a ver com a demanda que vimos no mapeamento do que surge a partir desta revolução da longevidade, o impacto que ela traz para a sociedade e a profissão como uma das respostas — conta Queiroz.
Esse mercado de trabalho, que se expande com a chamada ‘economia prateada’ – atividades econômicas ligadas a idosos -, é uma tendência que vale a pena estar de olho para quem busca uma colocação profissional, aponta a CEO da Glaciano Resultados Humanos, Bianca Glaciano.
— É importante que pessoas que estejam nessa busca compreendam o mercado de trabalho da terceira idade como potencial. Os mais velhos estão se alimentando melhor, procurando atividades físicas e até cuidadores para o dia a dia. É um mercado bem promissor para as próximas décadas.
No entanto, Queiroz ressalta que, apesar de serem cada vez mais necessárias, muitas profissões na lista ainda enfrentam uma desvalorização tanto na regulamentação da carreira, como em sua remuneração.
Esse é o caso dos cuidadores de idosos que, em dez anos, passaram de 5.263 profissionais, em 2007, para 34.051, em 2017. Um aumento de 547%, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged. No entanto, a profissão ainda não é regulamentada.
A responsável pela pesquisa do FDC Longevidade explica que essas profissões ainda não são vistas com a devida importância devido a fatores como desconhecimento e preconceito.
— Os estudos mostram que a gente já tem defasagem em várias áreas, que podem ser por dois pontos de vista. O primeiro é no sentido da gente ter há poucos anos uma mentalidade voltada a buscar soluções para essa trajetória. O outro lado é o impacto do ageísmo, o preconceito etário — diz Queiroz.
Envelhecimento da população
A tendência para o crescimento de profissões ligadas a idosos acompanha o envelhecimento da população brasileira. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) contínua do IBGE, no fim de 2020 havia 39 milhões de pessoas no Brasil com 60 anos ou mais, o que representa 18,4% da população.
Esse número praticamente dobrou nos últimos dez anos. Em 2010, o Censo Demográfico do IBGE contabilizou 20,5 milhões de idosos, cerca de 10,8% da população à época.
Uma edição anterior do FDC Longevidade Trendbook já havia mostrado que o envelhecimento da população impulsiona não apenas carreiras ligadas a pessoas acima de 60 anos, como aumenta a própria participação dos idosos no mercado de trabalho.
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Dados da Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia mostraram que, entre 2013 e 2017, houve um crescimento de 43% no número de pessoas com mais de 65 anos que trabalhavam com carteira assinada. Porém, a colocação profissional para estas pessoas não é fácil.
Empreendendo na terceira idade
Segundo dados do Caged, entre março e junho de 2020 houve 4,3 mil demissões de trabalhadores com mais de 65 anos, um número 47% maior que no mesmo período do ano anterior.
Para Queiroz, os idosos que querem se manter na ativa enfrentam não apenas a dificuldade dos altos índices de desemprego, como também o ageísmo — discriminação de pessoas devido à sua idade.
— O profissional maduro, quando vai querer ingressar no mercado, enfrenta uma série de preconceitos. Ou porque ele nem é chamado para o processo seletivo, ou porque, quando está na empresa, é demitido por chegar a uma idade que não “serve” mais para o mercado.
Neste contexto, ela explica que o empreendedorismo pode se tornar uma saída para o idoso.
É o que aponta o crescimento da busca por crédito para investimento ou abertura de próprio negócio entre pessoas acima de 60 anos, segundo levantamento feito entre clientes da fintech de empréstimo pessoal Lendico.
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De acordo com a empresa, 18% das demandas de crédito de pessoas idosas em 2020 foi com essa finalidade, um aumento de 6% em relação ao ano anterior. A faixa etária é também a que mais busca este tipo de crédito. Para pessoas com menos de 60 anos de idade, 15% das solicitações foram para empreendimentos, um número 3% menor.
— Tem alguns aspectos que podem contribuir para isso. Tem a questão de hoje 60 anos não significar que a pessoa está inativa, mas também está muito ligado à dificuldade dessas pessoas de entrar no mercado de trabalho. Então, elas buscam empreender — explica o CEO da Lendico, Marcelo Carvalho.
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