Se a indústria da moda está cada vez mais inclusiva — corpos de todas as cores e tamanhos desfilam — uma fronteira ainda precisava ser quebrada: a presença de mulheres com o cabelo branco nas passarelas de alta costura. Isso porque quando o assunto é vestido de gala, os estilistas geralmente preferem mostrar suas roupas com as tradicionais “manequins”, mulheres altíssimas e esqueléticas, que transmitem muito pouco além da roupa que vestem, assim como acontece com as versões em plástico nas vitrines das lojas. Porém, na “Haute Couture Week”, semana que antecede o “Paris Fashion Week”, essa convenção da moda foi rompida.
Enquanto a Chanel levou uma amazona com cavalo e tudo para desfilar, a italiana Valentino fez a plateia suspirar. Pierpaolo Piccioli, diretor criativo da marca, ofereceu duas coisas raramente vistas nas passarelas das roupas feitas a mão: cabelos grisalhos e corpos curvilíneos. Piccioli, ao falar de sua coleção, disse não saber se o “bom gosto” realmente existe. “Gostos são gostos e a única diferença na moda, principalmente na alta costura, é a habilidade de ‘usar’ aquilo que você está vestindo e não ‘ser usado’ pela roupa”, explicou em seu Instagram enquanto enaltecia uma de suas modelos, a norte-americana Kristen McMenamy, de 57 anos.
A beleza marcante das mulheres que decidiram envelhecer naturalmente — sem botox ou tintas capilares — começou a aparecer na publicidade, inicialmente no papel de avó e só recentemente como objetos de desejo. Atrizes consagradas como Jodie Foster e Andie MacDowell pratearam o tapete vermelho do último Festival de Cannes e encabeçam uma tendência que veio para ficar. O fenômeno não acontece apenas no exterior, no Brasil as cinquentonas — ou mais — estão em campanhas de maquiagem, roupas e também nas passarelas, ainda que de maneira mais tímida.
“As modelos precisam ter personalidade, uma identidade que as defina como únicas”, explica Anderson Baumgartner, diretor da WAY Model, agência que cuida de nomes como o de Alessandra Ambrósio. No site da empresa, aliás, as mulheres de cabelo branco ocupam o mesmo espaço com as chamadas “New Faces”, como são conhecidas as jovens recém-descobertas, e não há uma divisão de casting.
A alemã Constanze Von Oertzen, de 57 anos, começou a modelar na juventude em Nova York, mas logo no início da carreira veio para o Brasil onde se casou e teve quatro filhos. Ao voltar ao mercado da moda, ela diz que se enche de orgulho de trabalhar com a idade que tem e fala sobre a importância de ter mulheres como ela sendo representadas. “As pessoas mais maduras têm um poder financeiro mais alto e, quando a mulher consegue se identificar, também é mais fácil para a marca conseguir vender”, disse. Ao mostrar que são seguras de si, essas mulheres revelam capacidade de influenciar diferentes gerações.