Ingo Ostrovsky
50emais
Chama a atenção dos entendidos os altos índices de audiência do “remake” da novela Pantanal, escrita originalmente por Benedito Ruy Barbosa e que ocupou boa parte do ano de 1990 na telinha da extinta TV Manchete.
O dicionário de traduções me informa que “remake” em português é refazer… mas a palavra em inglês está tão difundida e usada que nem precisa explicação. É que nem “revival”, usada mais comumente para casos amorosos. Em inglês era ‘revaival’ mas virou o que virou em português e ninguém reclama, pelo contrário.
Menos mal que Pantanal em inglês é… Pantanal.
Sou pouco noveleiro. O que leio, entretanto, são rasgados elogios à produção da TV Globo e à performance dos novos atores. São lindas as imagens da abertura, na voz de Maria Betânia. Me lembro de louvores semelhantes mais de 30 anos atrás, na primeira versão da trama. E olha que 30 anos atrás a Globo era líder das líderes e a ousadia da TV Manchete foi imensa naquele momento.
Nesses 30 anos, entretanto, alem do enorme desenvolvimento da dramaturgia e da própria linguagem televisiva, o que aconteceu foi um reconhecimento de que o Pantanal representa um pedaço importante da natureza brasileira, que precisa ser preservado. Na década de 90, os temas ecológicos ainda eram tímidos, a consciência de que o homem está destruindo o planeta ainda engatinhava, a palavra meio-ambiente não era tão popular.
Hoje o Pantanal é considerado um santuário.
E foi esse santuário que o fotógrafo paulista Ricardo Martins retratou no recém-lançado Pantanal, um livro belíssimo que – ô sorte – ganhei de presente. São centenas de fotos que vão além da simples beleza do clique. Revelam uma história sobre a natureza e premiam a perseverança de Martins em procurar o ângulo certo para a imagem certa.
Como estamos no século 21, algumas fotos são acompanhadas de um QR Code, aquele código que ganha vida quando vê a câmera do seu celular. Abrem-se pequenos vídeos onde o fotógrafo explica como fez a foto e dá detalhes do que foi fácil e do que foi difícil. Como o filhote de iguana-verde, os tuiuús e a arara azul. Num dos vídeos, Ricardo explica como seguiu pelo rio uma ariranha até que ela entrasse no facho de luz do sol que clareou a foto e detalhou inclusive os dentes desse belo e perigoso animal.
Os jacarés do Pantanal são talvez os bichos mais famosos da região, mas eu nunca os tinha visto em alegre confraternização com um grupo de capivaras… Martins me proporcionou essa descoberta. E tem mais: com sua câmera a bordo de um drone, Ricardo Martins nos oferece imagens de tirar o fôlego. O Pantanal visto de cima, como as Salinas e a Serra do Amolar. Na Serra, aliás, o fotógrafo documenta detalhes e mostra segredos guardados há milhares de anos.
Toda essa riqueza tem uma razão de ser: o homem pantaneiro. Nosso fotógrafo foca muito bem os vaqueiros e os pescadores. Fiquei conhecendo Edevaldo, Belmiro, Jorge, José Marcio e muitos outros brasileiros como eu e você, interessados em respeitar suas famílias, ensinar segredos aos filhos, vaquejar em paz e pescar com sucesso para continuar vivendo do que a natureza tem de melhor.
Ricardo Martins nasceu no interior de São Paulo, em São José dos Campos, bem longe das terras que ele retrata com maestria nesse livro. Inspirou-se num pantaneiro que o Brasil conheceu pela escrita, o poeta Manoel de Barros, cujas palavras abrem o livro:
“Eu sou nascido no Pantanal. Sou filho do Pantanal. Gosto do Pantanal. Tenho amor pelo Pantanal. O que me dá dinheiro, o que me dá o ócio é o Pantanal… Eu sou poeta. E poeta é o sujeito que inventa. Eu invento o meu Pantanal”.
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