50emais
Um ótimo artigo de Laysa Zanetti para o Uol sobre a quebra de um tabu pelo cinema, ao retratar em filmes e séries a vida sexual de mulheres e homens com mais de 50 anos.
Os filmes jogam por terra aquela teoria preconceituosa que diz que depois de uma certa idade as pessoas não se interessam por sexo. Velhos e velhas podem ter uma rotina sexual ativa. O envelhecimento da população está mostrando isso.
Entre os filmes relacionados no artigo, está Boa Sorte, Leo Grande, com a atriz Emma Thompson, 63, e o ator Daryl McCormack, 29, em cartaz nos cinemas brasileiros.
Leia:
Em “Boa Sorte, Leo Grande”, Emma Thompson interpreta uma professora de religião que, na faixa dos 60 anos, viúva, nunca conheceu o sexo com outra pessoa que não fosse seu marido. Ela também nunca sentiu um orgasmo, ou viveu uma grande aventura.
Por isso, quando resolve contratar os serviços de um profissional do sexo, chamado Leo Grande, precisa lidar com vários sentimentos além do desejo de explorar a vida a dois entre quatro paredes: a autoconsciência do corpo, a vergonha da intimidade e o conflito do que sente em relação ao rapaz também fazem parte desta complicada equação.
A sutileza do filme que está em cartaz nos cinemas é algo raro de se ver nas telas, seja em filmes ou séries. Para as artes audiovisuais, cenas de sexo até costumam ser atrativas, mas raramente com casais formados por pessoas mais velhas. O assunto acaba se tornando um tabu, mas obras como o filme dirigido pela australiana Sophie Hyde mostram que há formas de abordar o tema com aprofundamento.
Mas ele não é o único. No filme “Do Jeito que Elas Querem” (2018), Diane Keaton, Jane Fonda, Candice Bergen e Mary Steenburgen interpretam quatro amigas que participam de um clube de leitura, e escolhem sair do tradicional e ler a trilogia de “Cinquenta Tons de Cinza”.
Com isso, as quatro acabam decidindo se inspirar na leitura picante e apimentar suas próprias vidas sexuais. Eventualmente, o longa passa a abordar as aventuras que elas ainda podem viver acima dos 40 anos, mesmo que uma delas seja viúva, outra seja divorciada e a outra tenha uma vida íntima pouco inspirada com o marido.
A história é um pouco diferente, mas igualmente pontual, na série de comédia “Grace and Frankie”, em que Lily Tomlin e Jane Fonda interpretam duas amigas que foram deixadas pelos maridos — que viviam um romance às escondidas há décadas. Embora nunca tenham se dado muito bem, as duas decidem morar juntas para se ajudarem no período pós separação.
As duas têm personalidades diametralmente opostas, com Grace levando uma vida mais séria e Frankie adotando um estilo mais despojado e hippie de enxergar a realidade. Aos poucos, elas começam a entender que têm muito a aprender uma com a outra, e o jeito sem pudores de Frankie ao falar de sua vida sexual ativa acaba contagiando a outra.
Eventualmente, as duas desenvolvem até mesmo brinquedos sexuais para mulheres mais velhas, e os diálogos que a comédia constrói ao redor de libido derrubam mitos para todas as idades.
Já na série “Mrs. Fletcher”, da HBO, a atriz Kathryn Hahn (de “WandaVision”) interpreta uma mulher divorciada que sempre levou uma vida mediana. Após o filho entrar na faculdade, ela decide ocupar o seu tempo consigo mesma, e abandona os estereótipos de mãe e dona de casa para desbravar sua jornada sexual.
Vivendo a infame “crise da meia-idade”, Eve resolve experimentar seu despertar sexual e relembrar a sua própria juventude. Dessa forma, a série discute assuntos como vergonha do corpo e políticas de gênero dentro de uma sátira urbana sobre sexualidade não explorada e a busca saudável pelo que há de disponível para esta mulher.
A comédia romântica “Hope Springs” (2012), estrelada por Meryl Streep e Tommy Lee Jones, aborda de frente certas dificuldades. O filme conta a história de um casal dedicado, cujos filhos já estão criados e fora de casa. Os dois, no entanto, dormem em quartos separados por uma série de razões. Então, eles resolvem passar uma semana em um resort para fazer terapia de casal, e assim reacender a paixão dentro do casamento.
Para o professor de sociologia Torbjorn Bildtgard, da Universidade de Estocolmo, o problema da grande maioria de filmes e séries que abordam a vida sexual de pessoas mais velhas é o mesmo:
“O que eu acho interessante na abordagem é que não é cômica nem perigosa”, afirmou ao jornal britânico INews. “Eles seguem uma regra subjetiva para tratar sexualidade de casais velhos nas telas, de que ela deve ser apenas sugerida, e nunca mostrada de verdade.”
Para a diretora Sophie Hyde, no entanto, abordar a sexualidade sobretudo de mulheres nos cinemas passa por traços mais complexos.
“As mulheres ainda são vistas como objetos que estão à disposição dos homens”, reflete, em entrevista a Splash.
“Para que os homens comentem sobre seus corpos, para olhar seus corpos, que suas histórias existem para servir os homens. Eu acho que isso ainda é um problema. A gente ainda tem que explorar toda a possibilidade de que todos somos humanos. E as histórias das mulheres ainda são limitadas por conta das histórias que nos contaram e que temos visto. Então, a gente realmente precisa de mais histórias de mulheres, homens, pessoas que não se encaixam nestes dois gêneros, diferentes idades, raças, culturas, riquezas, origens sócio-econômicas, todas estas coisas. Na verdade, a gente só precisa de mais histórias diferentes.”
Veja também:
Emma Thompson fala da dificuldade de fazer cena nua aos 62 anos
Grace and Frankie: Elas nos ensinaram a encarar o envelhecimento com mais leveza