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A notícia da morte de Elizabeth Segunda, nesta quinta-feira(8), aos 96 anos anos, não poderia vir num momento pior para os britânicos. Ela morreu nesta tarde, no Castelo de Balmoral, na Escócia, onde a família real passa as férias de verão.
Morei lá durante mais de uma década e sei como a população admirava e respeitava a soberana, que marcou a história ao se tornar a rainha com mais tempo de reinado no país – mais de 70 anos.
A Grã-Bretanha, que acaba de anunciar uma nova primeira-ministra, passa por um dos momentos mais delicados da sua história recente, com uma economia que atravessa uma profunda crise, inflação alta, problemas sérios de fornecimento de energia, enfim, um período de enormes dificuldades para a população, sobretudo para a camada mais pobre. É nesse cenário que desaparece Elizabeth II, símbolo maior de estabilidade do país.
Leia mais sobre a morte da soberana neste artigo de Vivian Oswald, especial para O Globo — Londres:
Dezenas de milhões britânicos sentem-se órfãos. A morte da rainha nesta quinta-feira, aos 96 anos, marca o fim de uma era. Em um país cada vez mais polarizado, Elizabeth Alexandra Mary Windsor era ponto pacífico, a face que ainda unia a grande maioria da população: ricos e pobres, monarquistas e até alguns republicanos. Seu reinado — o mais longevo da história britânica — durou sete décadas. Atravessou o período da Guerra Fria, sucessivas crises políticas e econômicas, entrou e saiu da União Europeia, enfrentou uma pandemia global.
“A rainha morreu pacificamente em Balmoral nesta quinta-feira”, diz a nota do Palácio. “O rei [Charles] e a rainha consorte [Camilla] continuarão em Balmoral nesta noite e retornarão a Londres amanhã.”
Lilibeth, como era chamada pelo pai, o rei George VI, de quem herdou a Coroa em 1952, quando tinha apenas 25 anos, se tornou para os súditos símbolo de força e estabilidade em um mundo onde tudo parece tão efêmero. Era respeitada e aprovada por 75% dos britânicos, segundo números de uma pesquisa feita no segundo trimestre deste ano pelo instituto YouGov.
Foi após a morte do consorte, o mais longevo da história britânica, em 9 abril de 2021, que o Reino Unido finalmente se deu conta da fragilidade da soberana. Vestida de preto, apareceu sentada sozinha em um dos bancos de madeira da capela do Castelo de Windsor. Estava isolada do resto da família durante as exéquias por conta do coronavírus. A imagem estampou as primeiras páginas dos jornais do mundo inteiro. Solitária e triste, era apenas uma nonagenária de carne e osso que enfrentava o luto após um casamento de 74 anos.
Quando ficou viúva, foi buscar refúgio em Windsor, sua residência favorita, o mais antigo castelo ocupado do mundo, onde viveu seus últimos dias de casada. Dali passou a tremular o pavilhão da Casa Real. A monarca resolveu não voltar mais para o Palácio de Buckingham, apenas para compromissos inadiáveis. Ela chegou a retomar as atividades oficiais, mas aparições públicas foram se tornando cada vez mais raras.
Durante todos esses anos, Elizabeth II parecia inabalável. Por dever de ofício, guardou para si opiniões políticas e posições sobre a maioria dos temas considerados sensíveis. Talvez por isso tenha cometido poucos erros. Nem mesmo os escândalos da família real — e não foram poucos — mudavam a atitude da monarca. Em 1992, depois da separação do príncipe Charles e do príncipe Andrew e de um incêndio em Windsor, admitiu em público que vivia um “annus horriblis”. Mal sabia ela que depois viriam a morte da princesa Diana, e uma imensa comoção nacional e internacional, em 1997, acusações de pedofilia contra Andrew, em 2020, e o afastamento do neto, o príncipe Harry, das funções oficiais do palácio e da família real após seu casamento com a atriz americana divorciada Meghan Markle.
Philip sempre foi a face mais humana do casal. Eram dele as gafes, as manifestações de emoções ou vontades que ela não se permitiu. Elizabeth II dançou conforme a música, como se esperava dela. Encontrou 12 dos últimos 13 presidentes dos Estados Unidos. Viajou o mundo. Foi até o Brasil em 1968, na única visita de uma soberana britânica à América Latina.
O mistério sobre o que terá se passado na cabeça desta rainha durante tantos anos ocupou o imaginário coletivo britânico e mundo afora. Foi a deixa para tantas interpretações no cinema, no teatro e na televisão. O mundo dos Windsors fascina.
Veja reportagem sobre a visita da monarca ao Brasil, em 1968, quando o país já vivia uma ditadura militar:
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