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Meryl Streep, 74 anos, é apontada como a melhor atriz de todos os tempos. E não há quem conteste isso. Seus filmes – e são muitos – costumam ser sucesso de bilheteria.
Mãe de quatro filhos – três mulheres e um homem -, ela já entrou para a história como a atriz ganhadora do maior número de Oscars. Foram três: duas vezes como Melhor Atriz e uma como Melhor Atriz Coadjuvante.
Ela é tão especial que já foi indicada ao Oscar 21 vezes.. Embora americana, encarnou a ex-primeira-ministra britanica Margaret Thatcher com brilhantismo, tanto que um dos Oscars de Melhor Atriz foi pelo filme A Dama de Ferro.
Neste artigo publicado pelo Estadão, a autora fala de como Meryl Streep usa os óculos como acessório importante no seu trabalho de atriz:
Em The Post – A Guerra Secreta, o filme de 2017 sobre a perseguição do Washington Post aos Pentagon Papers, Meryl Streepinterpreta a editora Katharine Graham por trás de um imenso par de óculos. Streep está sempre colocando os óculos para ler o jornal e os tirando quando para de ler.
Ou então cochilando na sua mesa com os óculos pendurados no braço, ou apertando os olhos enquanto manuseia as hastes dos óculos, ou girando os óculos distraidamente no colo.
Quando assisti ao filme, eu me inclinei para meu companheiro e disse: metade da atuação de Meryl Streep é “esse lance dos óculos”.
Vai ser fabuloso
Minha intenção era insultar. Não estava gostando do filme e acabei descontando na Meryl Streep. Mas, nos anos seguintes, fiquei ligada nas formas aparentemente ilimitadas com que Streep manipula os óculos na tela.
É impressionante a frequência com que nossa atriz de cinema mais célebre construiu suas performances em uma das partes mais hackeadas do ofício. Agora sigo essa tendência não com incredulidade, mascom reverência.
Comecei a ver os pares de óculos no rosto de Streep como uma arma de Chekhov: em algum momento, você sabe que eles vão aparecer – e vai ser fabuloso.
Trabalha sem medo
Streep não se intimida com esses clichês. Em vez disso, ela os trabalha sem medo, deleitando-se com sua excentricidade em um momento, depois os imbuindo de uma delicadeza inesperada no próximo. Ela parece entender que o tirar de óculos é tão repisado porque é imensamente gratificante de ver.
O que você está pensando
Em O Diabo Veste Prada, em que Streep interpreta a exigente editora Miranda Priesly, não há quase nenhuma cena em que ela não se entregue ao lance dos óculos, acariciando desdenhosamente seus óculos escuros ao desaparecer dentro de uma limusine, ou abaixando impiedosamente os óculos de leitura para examinar a nova contratada, Andy Sachs.
Miranda é baseada em Anna Wintour, editora-chefe da Vogue, que raramente é vista sem óculos escuros cobrindo os olhos.
Os óculos, disse Wintour à CNN, são “incrivelmente úteis porque você evita que as pessoas saibam o que você está pensando”. Ela acrescentou: “Talvez tenham virado uma muleta”.
Como uma cortina
Se Wintour usa óculos para esconder sua vida interior, Streep faz o contrário. Ela manipula os óculos com segurança para acentuar o poder de Miranda, que é seu olhar perspicaz. (Seu olhar para moda, que inclui os acessórios, que incluem os óculos).
Uma das cenas mais poderosas de O Diabo Veste Prada é quando Andy encontra Miranda com os olhos turvos em seu quarto de hotel, o rosto inesperadamente despido de óculos, pois é o instante em que ela se recupera da notícia de que seu marido pediu o divórcio.
Streep consegue usar os óculos como uma cortina, valendo-se deles para reter acesso total a suas personagens até que ela avance para uma camada mais íntima da performance.
Big Little Lies
Ela também consegue usar óculos mais sutilmente: em Adaptação, interpreta a escritora nova-iorquina Susan Orlean com um par de armações ovais de arame, e aqui o lance dos óculos fica implícito.
Deitada na cama em um momento melancólico, os óculos aparecem no seu rosto em uma cena e desaparecem na próxima, sugerindo uma súbita variação no humor.
Ou então ela brinca com os óculos de um jeito mais aberto: em Ela É o Diabo, ela ajusta a ponte de seus óculos com o dedo médio.
Gloriosamente peculiar
Não é um movimento sutil e, ainda assim, é penetrante em sua revelação da personagem bizarra de Mary Louise – um tipo feroz de santidade. Parece que Streep está se desafiando a fazer uma teatralidade cada vez mais ampla parecer gloriosamente peculiar. Neste ponto de sua carreira, por que ela deixaria qualquer adereço intocado? (Tradução de Renato Prelorentzou)
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