Márcia Lage
50emais
Está muito comum entre maiores de 50 uma tal de Fascite Plantar. Parece um surto, de tanta gente se queixando e se tratando.
Quatro dos meus irmãos, de hábitos e pesos diferentes, mas nenhum obeso, estão com a doenca, caracterizada por inflamação da membrana que encobre a planta dos pés. E mais três amigos.
Uma delas, a jornalista Dil Mota, define a doença como pisar em agulhas. “É uma dor lancinante, principalmente de manhã, ao sair da cama. Chega a dificultar ações corriqueiras como vestir, calçar, caminhar”.
O tratamento da Fascite Plantar é sempre com fisioterapia. Dil está fazendo sessões de Terapia de Onda de Choque (TOC), um método pouco conhecido e ainda indisponível no SUS. Custa 460 reais cada sessão e dói mais que a própria inflamação, ela disse.
É que o TOC provoca o derretimento das placas endurecidas nas solas dos pés, com ondas de laser, explica o ortopedista Glauco Remigio Pinto Coelho, especialista em medicina esportiva. Tortura, resume Dil.
Perguntei ao médico se a Fascite Plantar está relacionada à artrose do quadril e do joelho, porque tive um amigo que se livrou do problema de andar em brasas quando colocou uma prótese no fêmur.
– A Ortopedia tradicional não tem estudos sobre essas associações – disse o médico. Ela segmentou demais suas especialidades, não vê o paciente como um todo. Mas, na minha vivência, está tudo interligado. O corpo humano é uma estrutura única. Todos os órgãos estão relacionados e se um adoece, outros vão junto – afirma Glauco.
Ele gosta de fazer a analogia do corpo como uma casa: base, paredes, telhado. Os pés são a base de sustentação. Se aparece um desgaste no quadril ou nos joelhos (que seriam as vigas), ocorre uma sobrecarga que aos poucos produz a inflamação, explica.
A pessoa tem que ser realinhada e balanceada para voltar a pisar corretamente (primeiro o calcanhar, depois a ponta dos pés). É por isso que as próteses dos corredores têm o formato de um arco. Essa é a pisada correta da nossa compleição física.
– Antigamente não havia tanta incidência da Fascite Plantar, lembra o ortopedista. Porque andávamos descalços. Só usávamos sapatos em ocasiões especiais.
Hoje,ficamos calçados o tempo todo. Os pés vão sendo comprimidos, como se estivessem engessados. E não é o tipo de calçado que faz o estrago. É o tempo que ficamos calçados. E se for em pé, tanto pior.
O médico garante que a maior prevenção da Fascite Plantar é libertar os pés. Deixar que eles respirem e voltem à sua posição original, com os dedos abertos e o arco do pé flexível. Ficar sempre descalço em casa. E nos parques, praças, praias e outros locais de lazer, aproveitar para por o pé no chão. Caminhar sobre gramas, pedriscos, areia. Alivia o estresse e realinha a pisada.
O ortopedista acredita que a ingestão constante de alimentos inflamatórios (glutem, açúcar, álcool, gorduras trans e conservantes das comidas processadas) têm grande participação na formação de doenças degenerativas. Além de provocarem sobrepeso, outro fator que causa Fascite Plantar.
“Temos que buscar o equilíbrio entre nossos hábitos alimentares e os exercícios físicos. Somos bípedes, programados para andar, correr, alongar. E a tendência das pessoas, quando vão envelhecendo, é reduzir atividades. O sedentarismo é o maior inimigo de nossa saúde”, afirma.
– Um corpo de 60 anos nunca vai voltar a ser de 20 – reconhece Dr. Glauco. Mas pode chegar aos 100 sem perder mobilidade.
Um estudo com maiores de 80 anos nos Estados Unidos mostrou que cinco minutos de caminhada por dia já melhora as funções do coração e do pulmão.
O ideal, para pessoas nessa idade, é que pratiquem pelo menos em torno de três horas de caminhada por semana. Tem que começar. E não parar mais.
Exames de anamnese nas boas academias de ginástica oferecem consciência postural e ajudam o profissional a estabelecer exercícios de fortalecimento e correção das alterações que o corpo vai sofrendo ao longo da vida.
Palmilhas e calçados específicos indicados pelo ortopedista podem alinhar as pisadas, que quando são para dentro (pronada) ou para fora (supinada) causam Fascite Plantar.
Resumindo, a receita é a de sempre: manter o peso, não exagerar em atividades físicas de muito impacto, se alimentar de forma saudável e ter conhecimento do corpo.
Qualquer alteração na forma de andar (pisadas arrastadas, mancas, curtas, tortas, são sinais de que o corpo se desalinhou e podem ocorrer após infartos, AVC, Covid, Dengue, Chicugunha, Zica, outras doenças muito comuns atualmente.
E não adianta fazer o que o amigo fez. O médico deve ser consultado. Só ele vai indicar o tratamento adequado. Que pode ser, simplesmente, o prazer do contato direto com a terra.
Anti-inflamatórios só em último caso. Cirurgias ortopédicas não são mais realizadas. A prevenção é o grande remédio, conclui Glauco Pinto Coelho.
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