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Um texto com observações finas da maior poetisa viva do Brasil sobre o envelhecimento. Adélia Prado tem 88 anos. É doutora na arte de viver.
Sua obra é de tal modo valiosa, que ela acaba de ganhar o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras, e o Prêmio Camões, o mais importante da Lingua Portuguesa.
E ela continua ativa: está preparando um novo livro para ser lançado em breve, com título provisório de Jardim das Oliveiras, referência ao local onde Jesus teria rezado na véspera da crucificação.
No texto abaixo, a poetisa de Divinópolis, no interior de Minas, escreve: “Todos vamos envelhecer… perderemos estatura, lábios e cabelos. A boa notícia é que a alma pode permanecer com o humor dos dez, o viço dos vinte e o erotismo dos trinta anos.”
Leia:
Todos vamos envelhecer… Querendo ou não, iremos todos envelhecer. As pernas irão pesar, a coluna doer, o colesterol aumentar.
A imagem no espelho irá se alterar gradativamente e perderemos estatura, lábios e cabelos.
A boa notícia é que a alma pode permanecer com o humor dos dez, o viço dos vinte e o erotismo dos trinta anos.
O segredo não é reformar por fora.
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É, acima de tudo, renovar a mobília interior: tirar o pó, dar brilho, trocar o estofado, abrir as janelas, arejar o ambiente. Porque o tempo, invariavelmente, irá corroer o exterior.
E, quando ocorrer, o alicerce precisa estar forte para suportar.
Erótica é a alma que se diverte, que se perdoa, que ri de si mesma e faz as pazes com sua história.
Que usa a espontaneidade pra ser sensual, que se despe de preconceitos, intolerâncias, desafetos.
Erótica é a alma que aceita a passagem do tempo com leveza e conserva o bom humor apesar dos vincos em torno dos olhos e o código de barras acima dos lábios.
Erótica é a alma que não esconde seus defeitos, que não se culpa pela passagem do tempo.
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Erótica é a alma que aceita suas dores, atravessa seu deserto e ama sem pudores.
Aprenda: bisturi algum vai dar conta do buraco de uma alma negligenciada anos a fio.