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“Primeira lição de velhofobia: As mulheres mais jovens reforçam os estigmas e preconceitos contra as mulheres maduras. Nós mesmas reforçamos as nossas prisões.”
É o que afirma a antropóloga e escritora Mirian Goldenberg, estudiosa do envelhecimento feminino e uma verdadeira militante do movimento contra o preconceito de idade. com 30 livros publicados. Entre eles A bela velhice; Coroas; Corpo, envelhecimento e felicidade; Velho é lindo! e tantos outros.
Totalmente devotada ao tema, ela nos convida a uma profunda reflexão, ao explicar que, “em mais de 30 anos de pesquisas, cheguei a uma triste conclusão: as próprias mulheres reforçam e fortalecem os preconceitos relacionados à maturidade feminina.”
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Fui comprar uma calça jeans de uma grife famosa e uma vendedora bem jovem me tratou com total desprezo. Ela me olhou dos pés à cabeça como se dissesse: “Você não se enxerga sua velha ridícula? Não quero a etiqueta da minha loja desfilando na bunda murcha e caída de uma velha baranga”. Saí de lá arrasada, apesar de, na época, só ter 40 anos. Como a jovem não percebeu que estava alimentando o preconceito contra ela mesma no futuro?
Primeira lição de velhofobia: As mulheres mais jovens reforçam os estigmas e preconceitos contra as mulheres maduras. Nós mesmas reforçamos as nossas prisões.
Por que você fica tão feliz de parecer mais jovem?
Na Alemanha, em 2007, dei oito palestras sobre o corpo como capital na cultura brasileira. Após a minha palestra na Universidade Livre de Berlim, uma socióloga me perguntou: “Por que você fica tão feliz de parecer mais jovem? Por que considera um elogio parecer ser o que você não é mais? É infantil essa postura de depender do olhar e da aprovação dos outros. Você mesma é que deve se sentir bonita e atraente. Eu sei avaliar se sou atraente ou não. É só me olhar no espelho”.
Foi como um tapa na minha cara. Percebi que eu sempre respondia à pergunta “Quantos anos você tem?” com “Quantos anos você acha que eu tenho?”. Aos 50 anos, ficava eufórica quando os mais mentirosos diziam que eu parecia ter 38. Quanto mais mentiam, mais feliz eu ficava.
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Segunda lição de velhofobia: Dizer que pareço mais jovem não é um elogio, mas uma forma de desqualificar e deslegitimar a beleza da mulher madura.
Em mais de 30 anos de pesquisas, cheguei a uma triste conclusão: as próprias mulheres reforçam e fortalecem os preconceitos relacionados à maturidade feminina.
Grande parte dos sofrimentos das mulheres é criada por nós mesmos: não posso mais isso, não posso mais aquilo, estou velha, gorda, feia e acabada, sou uma fracassada e por aí vai.
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Depois eu conto o que eu estou fazendo para aprender a envelhecer com mais prazer e amor.
Mas primeiro, preciso “ouvir” cada uma de vocês.
Tenho certeza de que, juntas, com coragem, generosidade e verdade, podemos mudar essa triste realidade.
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