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A primavera é uma estação tão importante, tem impacto tão grande sobre nós, que sua chegada, por volta da terceira semana do mês de setembro, é celebrada por muitos países ao redor do mundo.
Cada um à sua maneira. No Japão, por exemplo, o dia em que a primavera começa é feriado nacional – é quando as cerejeiras do país explodem em flores.
Especialista explica que uma das mudanças mais relevantes que ocorrem com chegada da primavera é a luz solar, pois ela afeta o nosso ritmo circadiano, o relógio biológico interno que regula os ciclos de sono e vigília.
“A luz solar estimula a produção de serotonina, ajudando a combater a tristeza do inverno e a aumentar a sensação de bem-estar e felicidade. Essa mudança melhora nosso humor e energia” — explica ela.
Leia o artigo completo de Flávia Tomaello, do jornal argentino La Nación, traduzido por O Globo:
O início da primavera no Japão é comemorado com um feriado nacional: Shunbun no Hi. É a época da flor de cerejeira. As crianças no México costumam se vestir de flores ou animais. Em Chichén Itzá, complexo de ruínas maias, milhares de pessoas se reúnem ao pôr do sol para celebrar o retorno da serpente solar. À medida que a luz do sol desaparece, as sombras criam a aparência de uma cobra deslizando pela escada da pirâmide.
Na Polônia, uma boneca feita de palha e vestida com roupas coloridas que representam o inverno é atirada à água. Songkran, na Tailândia, é uma batalha aquática que dura três dias. Na China e nos Estados Unidos, as pessoas tentam segurar um ovo por uma das pontas como símbolo de boa sorte.
Floriade é uma celebração australiana que dura 30 dias, quando um milhão de flores decoram o Commonwealth Park na capital, Canberra. Os carpinteiros de Valência queimavam pedaços de madeira que serviam para segurar as suas luzes durante o inverno. Aos poucos, objetos velhos e trapos foram acrescentados à fogueira, dando à estrutura de madeira a aparência de um ser humano; foi assim que surgiram as Fallas valencianas.
Na Índia, Holi (“festival do amor”) é o momento em que a cor toma conta de tudo, inclusive das pessoas: elas se untam com tinta e borrifam umas nas outras com pós coloridos e água. Na Bósnia acontece o festival do ovo mexido: uma gigantesca refeição comunitária.
Por que, quase desde a origem do mundo, as pessoas se reúnem para celebrar o fim do inverno e homenagear o início de uma etapa em que o sol compete com a noite para dar mais luz que as outras estrelas?
Desde a época das cavernas este processo significou um despertar. A tradição humana foi formada a partir do ritmo inato da natureza. A maioria dos calendários começou a tomar forma com o ritmo das colheitas e da vida animal. O clima determinou a hora de se abrigar e a hora de sair e explorar. Ainda hoje, a mudança de estação que deixa para trás o tempo mais frio desperta um arrepio e uma vontade renovada. Isto é científico ou é um efeito de contágio que herdamos do nosso passado mais remoto?
Febre neuronal
A primavera torna-se uma metáfora para o renascimento pessoal. Assim como a natureza floresce, também nós somos seduzidos pela ideia de aproveitar esta estação como uma oportunidade para crescer e renovar-nos de dentro para fora.
Para Carina Castro Fumero, neuropsicóloga pediátrica com mais de 20 anos de experiência em saúde mental, a chegada da primavera não só marca uma mudança no clima e na natureza, mas também pode desencadear processos profundamente ligados à neurociência e à biologia do cérebro.
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— Uma das mudanças mais relevantes ocorre graças à luz solar, pois afeta o nosso ritmo circadiano, o relógio biológico interno que regula os ciclos de sono e vigília. À medida que a produção de melatonina diminui com o aumento da luz do dia, muitas pessoas sentem mais energia e menos sonolência diurna. Mas além disso, a luz solar estimula a produção de serotonina, ajudando a combater a tristeza do inverno e aumentar a sensação de bem-estar e felicidade. Essa mudança melhora nosso humor e energia — explica a especialista.
Esse fenômeno é popularmente conhecido como “febre da primavera” . Norman Rosenthal, professor de psiquiatria na Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, dedicou-se à pesquisa dos transtornos afetivos sazonais (TAS). É autor, entre outros livros, de Defeating SAD (Defeating Seasonal Affective Disorder), onde descreveu pela primeira vez a patologia. Há mais de quarenta anos, Rosenthal emigrou da África do Sul para Nova Iorque para formação profissional.
O primeiro inverno sob a neve tomou conta dele com uma espécie de tristeza que crescia à medida que os dias ficavam mais curtos, mas que se transformava em euforia na primavera. Ele continuou a experimentar a mesma coisa nos anos seguintes.
Kathryn A. Roecklein, doutoranda em ciências da saúde e pesquisadora da Universidade de Pittsburgh, concorda com Castro Fumero sobre as mudanças no ritmo cicardiano, processo que regula as mudanças no características físicas e mentais que ocorrem em um dia.
As modificações são feitas pelo hipotálamo, localizado no cérebro, que envia sinais para diversos órgãos do corpo, inclusive para a glândula pineal que, em resposta à luz, suspende a produção de melatonina, hormônio que causa a sensação de sonolência. Em dias curtos, o relógio se altera, ocasionando dias fisicamente mais curtos, onde o ritmo circadiano torna-se letárgico.
Roecklein se especializou em verificar a forma como a sensibilidade da retina à luz proporciona efeitos circadianos e no sistema nervoso central.
— Acumulamos anedotas de pessoas que relatam sentir mais energia, melhor humor e um sono mais reparador durante a primavera. A ciência mostrou que essas observações estão relacionadas à exposição à luz. Este fato tem dois tipos de efeitos. Primeiro, informa ao relógio circadiano a hora do nascer do sol, mantendo nossos corpos em sincronia com a Terra. Em segundo lugar, a luz tem efeitos sobre a atenção que podem fazer com que as pessoas se sintam menos deprimidas, mais alertas, cognitivamente mais capazes de processar tarefas e mais enérgicas — constata.
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Segundo Silvia Alava Sordo, psicóloga e autora, entre outros livros, de “A psicologia que nos ajuda a viver”, há pesquisas que sugerem que cada hora adicional de ar fresco reduz significativamente a probabilidade de desenvolver transtornos depressivos.
— A investigação nos diz que aqueles que passam mais tempo ao sol relatam maior bem-estar e menos anedonia. Na verdade, a exposição diária ao sol durante 30 minutos reduz os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, em 15% e isso melhora o humor e reduz os sintomas de ansiedade e depressão — enumera.
Despertar do amor
Diante da sabedoria popular que fala do amor se esverdeando assim que os botões da primavera ficam visíveis, os especialistas falam de uma conexão não relacionada ao sexo.
— Existem muitas substâncias hormonais e neurotransmissores que estão interligados de forma complexa. Eles enviam mensagens e estimulam-se graças aos efeitos da luz e da temperatura que mudam com a chegada da primavera. A sensação de bem-estar no seu humor tem a ver com a serotonina, nosso antidepressivo natural. Esse neurotransmissor é estimulado pela luz e também na prática de atividade física, prática que é mais frequente quando os dias são mais longos — esclarece Laura Maffei, médica endocrinologista especializada no tratamento do estresse.
Além disso, a endocrinologista comenta que é adicionada ocitocina, um antídoto natural para o cortisol, substância que produz estresse.
— A oxitocina, chamada de hormônio do amor , está na verdade relacionada ao apego, e não à paixão. É estimulado quando estamos com amigos e familiares, geralmente em ambientes sociais, outra atividade que é incentivada quando os dias ficam mais longos — afirma.
Rosenthal acrescenta que é provável que ocorram muitas mudanças bioquímicas e físicas à medida que os dias se expandem. De acordo com ele, os neurônios receptivos, privados de serotonina durante os meses de inverno, estão agora repletos desse neurotransmissor.
— O resultado dessa inundação que afeta os receptores extrassensíveis pode ser a febre primaveril. Sabemos também que a exposição solar aumenta a atividade na amígdala, que é a área do cérebro onde as emoções são geradas, e no córtex pré-frontal, que é o setor responsável por regulá-las. Tudo isso influencia o bem-estar emocional — diz Alava Sordo.
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