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Os muitos benefícios de manter o corpo em movimento

Mônica Bousquet, 61, começou a treinar aos 54 anos. Hoje, é uma super atleta. Foto: Reprodução/Internet

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Uma reportagem inspiradora essa de Ana Carolina Sacoman, para o Estadão, sobre mulheres que despertaram para os muitos benefícios do exercício físico depois dos 50 anos.

Hoje, várias delas se submetem a uma intensa rotina diária de exercícios, porque sabem que assim garantem um bem estar e uma disposição que nenhuma outra atividade proporciona.

Vale muito conhecer a história de cada uma delas.

Leia:

“Mulheres, não deixem ninguém dizer que vocês já passaram do seu auge.” A frase é do discurso da vencedora do Oscar 2023 Michelle Yeoh, de 60 anos, mas poderia ser da Susanne, da Mônica, da Maria e de outras mulheres que já passaram dos 50 ou dos 60 anos e estão no ápice do condicionamento físico. Elas meteram o shape, como dizem por aí, com exercícios de força e treinos diários que deixam muito marombeiro com metade da idade no chinelo. Não tem milagre: barriga tanquinho, braço torneado e coxa de atleta são reflexos de alimentação equilibrada e disciplina militar para malhar.

Elas apostaram nos exercícios físicos intensos – esqueça a hidroginástica, a pegada aqui é nível Gracyanne Barbosa – pelos mais variados motivos: falta de autoestima, uma barriguinha aqui, uma dor acolá e a chegada da menopausa, que traz com ela doenças evitáveis, como a osteoporose e problemas cardíacos. A motivação? Muito além da aparência física, elas querem chegar aos 70, 80, 100 anos cheias de energia e com a saúde mental em dia – estudo recente do Dartmouth College, dos EUA, mostra que os exercícios podem ser benéficos até mesmo para a memória, assunto especialmente importante para quem passou dos 60.

E quem vê esses corpos saradíssimos mal consegue imaginar que alguns deles já foram sedentários. Caso da influenciadora Mônica Bousquet, que aos 61 anos vai estrear em um concurso de fisiculturismo. Após anos parada, um grave problema no joelho a levou ao caminho sem volta da malhação. Mas não foi fácil. Entre começar a levantar peso e tomar gosto pela coisa, foram dois longos anos de insistência pura. Só aos 54 ela engrenou de vez e não parou mais.

“Achava academia um lugar de gente desocupada, não me via lá, não era para mim”, diz. Ela não está sozinha nessa. Pesquisa feita em 2021 pela Ipsos mostra que o Brasil é um dos países em que as pessoas menos se dedicam a exercícios físicos no mundo: em média, três horas por semana, metade dos números globais. Pior: quase um terço da população (31%) diz não praticar nenhum tipo de atividade.

Mônica começou a mudar de ideia quando as dores nos joelhos diminuíram. “Hoje me sinto melhor do que aos 30 anos, sem dor e sem nenhum tipo de remédio. Nosso corpo é uma máquina maravilhosa.”

Claro que essa máquina maravilhosa precisa dar a partida com calma, aos poucos. Não adianta nada sair afoita fazendo exercícios sem critério. “É possível começar aos poucos (e chegar a um bom resultado), sim. Se você consegue levantar dois quilos, tenha paciência e não tente levantar dez e acabar se machucando”, diz o médico ortopedista Joaquim Grava, do Hospital São Luiz Morumbi, da Rede D’Or.

A lista de benefícios para quem adere a esse estilo de vida só aumenta a cada estudo publicado. Um do ano passado, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, aponta que a atividade física pode até mesmo amenizar quadros de ansiedade crônica – lembrando que o Brasil é o país mais ansioso do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). E o melhor tipo de exercício? “Aquele que você faz”, responde Susanne Neumann, de 62 anos, que vive na Alemanha, curou uma “quase depressão” com exercícios físicos, se recuperou de um câncer de mama e exibe um corpão torneado e empolgação de menina ao falar sobre o assunto. “Experimente diferentes tipos de esporte, até achar um que combina com você.”

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E aí as possibilidades são infinitas – e não exigem uma academia totalmente equipada nem muito investimento. Durante a pandemia, viraram febre os vídeos ensinando a malhar em casa com produtos de limpeza e cabos de vassoura. Patrícia Silva, de 50 anos, costuma compartilhar os exercícios feitos na sua sala, no espacinho entre o sofá e o rack, com quase 70 mil seguidores no Instagram. Ela usa equipamentos simples, como minibands, aqueles elásticos para treinos de força, e também mostra que é possível usar o próprio peso do corpo para ter bons resultados.

Outra adepta do exercício em casa é Solange Frazão, que chegou aos 60 anos com quatro netos e o corpão que a deixou famosa há mais de duas décadas. “O treino em casa pode ser muito eficiente”, diz ela. Ele também serve para quem está começando e tem vergonha de ir a uma academia lotada de desconhecidos.

A rotina de Solange Frazão, aliás, começa às 5h30, com meditação e pelo menos uma horinha de treino pesado todos os dias, “até a falha”. A expressão no universo maromba significa “até você não aguentar mais”. Uma caminhada ou corrida fecham o dia. “Sou um exemplo de que é possível (mulheres mais velhas malharem pesado). Cada um tem o seu possível, mas é preciso se perguntar: você está fazendo o seu possível para curtir seus netos, bisnetos, ter saúde e se amar?”

Além de belos corpos definidos, saúde mental e autoestima em dia, essas mulheres estão conquistando outra coisa: seguidoras fiéis que veem nelas um espelho e a esperança de que é possível melhorar os hábitos. Com mais de 260 mil seguidores no Instagram, Maria Moya, de 56 anos, costuma ver seus vídeos de treino pesado contabilizarem milhões de visualizações em poucas horas. “Tem gente que fala que não vai para a academia sem antes olhar os meus stories”, conta ela, que sempre malhou, mas o corpo atual, todo definido, foi conquistado aos 53 anos.

Solange Frazão, outra que aderiu com paixão ao exercício físico. Foto: Reprodução/Internet

“A internet mudou a minha vida. Nunca imaginei que aos 56 anos poderia influenciar positivamente tantas mulheres, é maravilhoso”, afirma. “Recebo mensagens maravilhosas (pelas redes). Quero mostrar que a vida não acabou porque você envelheceu”, conta Susanne Neumann. “Descobri que podia motivar outras mulheres.”

Junto com os fãs vêm os haters, certo? Elas juram que não é o caso e que a parcela dos que desaprovam a exposição é mínima. “As redes têm mais troca de experiência, de informação. Eu inspiro minhas seguidoras, mas elas me inspiram também, me motivam a ir treinar”, conta Karina Lucco, mãe do cantor Lucas Lucco e “caçula” entre as entrevistadas, com 47 anos. “Até tem um ou outro hater, mas eles são minoria”, diz Maria Moya.

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O mesmo, afirmam, serve para a malhação in loco. As olhadelas na academia são mais de admiração e surpresa do que preconceito ou desprezo.

As mudanças que chegam com a menopausa também podem ser o empurrãozinho que muitas esperam para mudar o estilo de vida. “Parece que, com a menopausa, todo dia você acorda diferente. O cabelo começa a cair, a pele fica ressecada”, diz Patrícia Silva, que começou a jornada fitness há 10 anos, aos 40.

Junto com a menopausa vêm a reposição hormonal e algumas polêmicas, como o famoso chip da beleza. O dispositivo de silicone de até 5 centímetros é implantado no corpo para liberar um ou mais hormônios continuamente e, apesar de não ter sido provado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), seu uso para fins estéticos não é incomum. A promessa é de aumento da disposição física, emagrecimento e ganho de massa muscular.

“Algumas mulheres que fazem exercícios intensos estão buscando o chip da beleza como um caminho mais fácil (para ganhar massa muscular). Está virando uma febre, e isso preocupa”, afirma Luciana Janot, cardiologista e referência médica do Centro de Reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein. Isso porque o dispositivo pode trazer vários efeitos colaterais, como inchaço, queda de cabelo e acne, entre outros.

Karina Lucco está no quarto implante de reposição hormonal e diz que sentiu mais força nos treinos, mas que o chip não faz milagres. “O chip da beleza não vai ajudar nada se você não treinar. As pessoas acham que ele vai fazer milagre, não é assim.” A menopausa, é bom lembrar, não diminui a força nem a resistência.

E para os que chegaram até aqui pensando que na verdade o que essas mulheres têm em comum é uma boa genética, um recado do médico Joaquim Grava: “A genética influencia na sua estrutura corporal, mas gosto de dizer que o que influencia mesmo é a genética da boa vontade. A boa vontade de levantar e se movimentar. Não existe genética que deixa o abdômen definido”.

O que aprendi com elas

Comece a treinar. Do jeito que der: em casa, na academia do bairro, na praça. Apenas comece;
Não há idade certa para começar a se exercitar. E nunca é tarde para isso;

Ninguém na academia está prestando atenção em você – ou não como você pensa. Pare de se preocupar com os outros e faça seus treinos;

Alimentação é mais da metade do caminho para a construção de um corpo saudável – eu não disse magro, ok? Pense em fazer uma reeducação alimentar, se for o caso;

Cuidado para não sair afoita levantando um monte de peso e se lesionar. Comece aos poucos;

Se for treinar em casa, cuidado redobrado para executar os exercícios. Se puder, tenha um espelho para conferir os movimentos;

A pessoa toda definida que está treinando do seu lado não é melhor do que você. Ela só começou antes;
Experimente vários tipos de esportes até encontrar o preferido;

Persistência. Pode ser que demore para você engrenar nos exercícios e para ver os resultados;
Não se culpe por desistir. É só voltar quando achar que é a hora.

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