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Saúde é aquilo que todo mundo deseja, mas só valoriza quando perde

“A auto-observação nos dá discernimento. E essa capacidade de saber o que é bom e o que é ruim para si mesmo é a base da saúde. Foto: Reprodução/Internet

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Um texto muito importante de Angélica Banhara, da coluna Espiritualidade e Bem Estar, de O Globo, sobre a medicina milenar indiana Ayurveda, reconhecidamente eficaz, inclusive pela ONU.

São quatro pilares básicos para viver com saúde física e mental, de acordo com o primeiro brasileiro a se formar em medicina na Índia, Matheus Macêdo, especializado na ayurveda: alimentação, sono, movimento e silêncio.

A grande verdade, como mostra o artigo, é que temos uma enorme dificuldade em cuidar da nossa saúde. Sabemos o que nos faz bem e o que nos faz mal. Mas nem sempre optamos pelo caminho do saudável.

Leia?

Saúde é aquilo que todo mundo deseja, mas só valoriza quando perde. Sabemos da importância da saúde, mas sentimos a maior dificuldade de cuidar dela.

Há 30 anos trabalho nessa área, com o objetivo de informar e inspirar as pessoas a terem uma vida mais saudável e em equilíbrio. E faz quase dois anos que mergulhei dos estudos do Ayurveda, a medicina milenar indiana, reconhecida pela ONU (Organização das Nações Unidas) por sua importância e eficácia na promoção de saúde, o que comprovo aplicando no meu dia a dia.

Os textos mais antigos do Ayurveda têm entre 3000 e 4000 anos e as hipóteses levantadas desde então vêm sendo testadas, atualizadas e transmitidas de geração em geração. Em sânscrito Ayu significa vida e Veda, conhecimento. Assim, o Ayurveda é o conhecimento da vida.

“Os textos milenares do Ayurveda são a nossa herança. Resultado de milhares de anos e milhares de pessoas observando e testando a natureza com o objetivo de compreender melhor o que deixa o ser humano saudável ou doente, feliz ou triste”, diz Matheus Macêdo, o primeiro brasileiro formado em medicina na Índia, com especialidade em Ayurveda, no curso BAMS (Bachelor of Ayurveda, Medicine and Surgery).

Ele acaba de lançar o livro “Os 4 Pilares da Saúde” (Editora Planeta), onde traduz de maneira prática e didática esse conhecimento milenar.

Matheus sintetiza o Ayurveda em quatro pilares básicos para viver com saúde física e mental: alimentação, sono, movimento e silêncio. Esse conceito está totalmente alinhado à definição da OMS (Organização Mundial da Saúde) de que saúde vai além da ausência de doença: trata-se de um estado de completo bem-estar físico, mental e social.

De acordo com o Ayurveda, se existe sofrimento de qualquer natureza, a pessoa está doente. Se alguém não se sente bem, não está feliz, está doente. Daí a importância de cuidar de cada um dos pilares.

A alimentação costuma ser o caminho mais óbvio para melhorar a saúde, porque a comida nos sustenta e serve de substrato para a formação dos tecidos do corpo. Segundo o Ayurveda, o primeiro passo para comer mais saudável é evitar o que lhe faz mal. “Parece simples, mas, se sua prioridade ao se alimentar for sentir prazer, diminuir a ansiedade ou compensar um dia difícil, talvez suas escolhas não considerem com a devida atenção o efeito desses alimentos na sua saúde”, diz Matheus.

O sono é um momento de recolhimento. Para conseguir dormir direito, é preciso criar um ambiente que acolha esse processo, esse momento de interiorização no qual se perde consciência do mundo exterior e desliga seus sentidos.

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“E isso não vai acontecer se a pessoa responde a emails na cama, vê séries extremamente tensas antes de dormir ou se fica colada nas redes sociais até o momento de fechar os olhos. Antes de recorrer a remédio, é importante parar de fazer o que está espantando o sono, porque a luz azul das telas e o excesso de adrenalina atrapalham a produção de melatonina, o hormônio responsável por dormir bem.”

O movimento é a natureza do corpo humano. Se você tem um corpo capaz de se movimentar e passa o tempo todo sentado ou deitado, não está fazendo o básico. “A dinâmica do corpo humano é a seguinte: tudo aquilo que você não usa, você perde. E mais importante do que fazer uma hora de academia duas vezes por semana é colocar mais movimento no dia a dia e evitar ficar muito tempo sentado.”

O quarto pilar da saúde é o silêncio, que Matheus define como presença, ou seja, procurar “estar presente”, atento ao que está fazendo em cada momento do dia. Comer prestando atenção nos alimentos, sentindo o cheiro e o gosto, conversar com o outro sem olhar o celular.

“Quantas vezes estamos fazendo uma coisa, mas pensando em outras várias? Isso esgota nossas energias e nos desequilibra, minando o foco e a capacidade de concentração. Talvez por isso seja tão difícil terminar aquele projeto e prestar atenção na reunião ou na aula.”

Alinhando esses quatro pilares, muito se organiza dentro de você e o efeito altera sistemas maiores e menores – porque tudo está conectado. “Uma pessoa que está se exercitando dorme melhor. Se ela é fisicamente ativa e dorme bem, naturalmente fica menos ansiosa, tem mais energia, faz melhores escolhas e se sente mais equilibrada para se relacionar com os outros. Alguém que se alimenta bem sente mais disposição, não precisa de multivitamínicos ou remédios para dormir. Tudo faz sentido e, no fundo, todo mundo sabe que os quatro pilares são importantes. Mas como alinhá-los é a grande questão. E essa é a proposta do livro.”

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A ideia não é mudar tudo ao mesmo tempo. O Ayurveda é uma ciência de auto-observação, e esse é o primeiro e maior ensinamento: se auto-observar para se conhecer. Ao acordar, se pergunte: dormiu bem ou ainda está cansado? Quando termina de comer, se sente bem ou fica pesado, sonolento? Você consegue se concentrar no seu trabalho ou fica “viajando”?

Outro ponto importante é entender que a saúde é resultado das nossas escolhas. “A maioria das doenças que mais matam hoje são crônicas. Cronos significa tempo, ou seja, doença crônica não acontece de um dia para o outro, é algo que pode demorar décadas para se desenvolver.”

Matheus comenta que costumamos ter muito critério na hora de colher os frutos das nossas atitudes, mas bem menos de rigor na hora de plantar. “Na hora de colher, a pessoa chega na árvore e reclama: ‘Manga de novo? Eu queria maçã’. Mas o que determina se você vai colher manga ou maçã não é a árvore na hora que ela dá o fruto. O momento de decidir sobre a fruta que você quer comer é na hora que você planta. E isso aconteceu um bom tempo atrás.”

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Em geral, quando estamos doentes, buscamos um remédio para aliviar a dor, o desconforto. No Ayurveda, o primeiro passo para tratar uma doença ou resolver um problema é parar de fazer o que está gerando a doença — ou o problema. Precisamos exercitar a auto-observação para perceber isso, porque nosso corpo diz o que nos faz bem e o que faz mal. Ele manda vários sinais e, se não ouvimos e tomamos uma atitude, ele grita. E o grito se manifesta na forma de doença.

“O que eu mais escuto quando ensino Ayurveda é: ‘Ah, Matheus, mas isso é óbvio’. Alguns até brincam que eu não ensino Ayurveda, mas bom senso. E é isso mesmo. Precisamos ter bom-senso e fazer o óbvio, mas que não vem sendo feito”, diz Matheus.

E conclui: “A auto-observação nos dá discernimento. E essa capacidade de saber o que é bom e o que é ruim para si mesmo é a base da saúde. Mas o que vem em seguida é ainda mais fundamental: a coragem de colocar em prática aquilo que entendemos que é melhor. Só que essa é também a parte mais difícil do processo”.

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