Márcia Lage
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Você já parou para observar um bonzai – aquele vaso raso de cerâmica com uma mini árvore coberta de flores ou frutos, que os japoneses adoram cultivar?
Tais arranjos são uma terapia para pessoas idosas, uma forma de ludibriar o tempo. Para chegar ao máximo de sua forma um bonzai exige, no mínimo, 21 anos.
Os sete primeiros são dedicados a fazer a muda pegar.
Os sete seguintes, a amarrações que lhe darão formas únicas de escultura vegetal.
Depois disso vem o apogeu da criação, quando brotam as flores e amadurecem os frutos. Daí em diante, é só manutenção e a eternidade possível.
Um bonzai pode sobreviver ao seu criador. Que, por sua vez, tem no cultivo um propósito de vida. Um bom motivo para não morrer enquanto trabalha na edificação do seu sonho, do seu minúsculo jardim particular.
Os ocidentais não têm a paciência dos orientais para cultivar bonzais, mas os britânicos há muito descobriram o valor da jardinagem para passar o tempo de forma prazerosa e saudável.
Segundo pesquisa do Queens Gardens, 80 por cento dos britânicos cuidam pessoalmente de seus jardins. Um hobby nacional.
Já aqui, quem pode ter um jardim paga alguém para criá-lo, mantê-lo e, se possível, plantar mudas bem grandes, para não passar pela espera de vê-lo crescer.
Tive uma amiga que foi fazer alinhamento dos chacras (centros energéticos distribuídos pelo corpo, segundo o hinduismo) e recebeu a tarefa de trabalhar na terra, para equilibrar o chacra básico.
O que ela fez? Comprou mudas de couve e mandou a empregada fazer um canteiro e plantar a horta.
Não quis sujar as unhas, forçar um pouco a lombar, agachar-se. Deixou de fazer um exercício físico que, de acordo com a pesquisa britânica, vale tanto quanto uma musculação.
Meia hora de jardinagem por dia queima 250 calorias e fortalece os músculos das pernas, dos quadris, das costas e dos braços. Não é atividade que se delegue.
Aquela terrinha que fica debaixo das unhas, inclusive, carrega uma bactéria amiga (Mycobacterium Vaccae) que reduz os sintomas de asma, alergias e psoríase.
Afora tudo isso, uma flor brotando em uma lata qualquer na área de serviço, ou um ramo de alecrim ou de manjericão colhidos na hora das refeições dão uma sensação de conexão e de pertencimento que, afirma o estudo, ajudam muito no equilíbrio emocional e geram bem-estar.
Está cientificamente comprovado que o gosto pela jardinagem ou pela horticultura reduz o estresse, acalma a ansiedade, aumenta o foco e a atenção e evita doenças de idosos, como mal de parkinson, alzheimer e outras formas de demência.
Como se vê, nesses tempos de tanta angústia e ansiedade, de pouca espiritualidade, há motivos de sobra pra gente aderir à arte de cultivar plantas.
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