Almir Gonçalves, Luiz Giácomo e Koji Teramito (à direita) treinam patinação. Todos têm mais de 60 anos
Este artigo de Tatiana Gerasimenko para o IG sobre o descendente de japoneses Koji Teramito, 76 anos, é inspirador. Sempre tive loucura para aprender a andar de patins. Com o passar do tempo, foi me parecendo cada vez mais remota a possibilidade de realizar o feito de sair por aí me equilibrando em cima de duas rodas. Agora, leio esta história fascinante. Um estímulo para quem, como eu, achava que a idade tornava quase impossível aprender este tipo de esporte. Um belo desafio para 2014.
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Podemos comparar o nosso corpo a um carro: se usamos o combustível errado, chega uma hora que uma ou outra peça acaba estragando”. É desta forma que Koji Teramito explica sua própria história. Após um câncer no intestino e uma operação no coração para desobstruir artérias entupidas, entendeu que precisava cuidar melhor da própria engrenagem. Comprou diversos livros sobre saúde e apostou nos patins como forma de fazer o organismo voltar à ativa. “Quando um carro quebra, você troca a peça. O nosso corpo recupera a peça estragada – não 100%, é claro, mas 90%”. Pode parecer simples para uma pessoa de 20 ou 30 anos. Mas Koji é a prova de que a teoria funciona mesmo aos 70. Foi nesta idade que ele passou a treinar e competir sobre rodinhas.
“Praticava esportes quando era criança, até uns 19 anos, mais ou menos, mas depois fui atrás do dinheiro”, explica o atleta sênior, que exibe em sua sala diversas medalhas e troféus de campeonatos no Brasil, Chile e Argentina. “Tive câncer no intestino aos 45 por não fazer atividade física, e depois do susto comecei a me preocupar mais com a saúde”. Foi quando apostou na corrida de rua para ver se colocava tudo em ordem. Contudo, em 2005 foi ao cardiologista e percebeu que tinha errado em um ponto: embora estivesse gastando energia, exagerava no torresmo. “Entendi como funcionava o corpo. É comer para viver, e não o contrário. Cada músculo do nosso corpo é um pequeno motor, e cada um deles precisa de combustível, mas para queimá-lo precisamos de oxigênio, de atividades. Coração forte, veia limpinha”, explica Koji, que antes de se dedicar às corridas cuidava de uma oficina mecânica, hoje está nas mãos dos filhos.
Pódio em campeonato sul-americano
Como a corrida acabava prejudicando seus joelhos, Koji começou a andar regularmente de patins no parque Villa-Lobos, onde algumas corridas eram realizadas. “Peguei o gosto, mas acabaram as corridas”, conta ele. “Um dia estava passeando, brincando, e vi uma turma treinando”. Perguntou para Marcel Lionese, que é técnico da seleção brasileira de patinação de velocidade na categoria master, se podia patinar com eles. Deu certo: há três anos passou a integrar oficialmente o time Gotcha Roller Team, que treina nas manhãs de sábado e domingo.
Koji não está nem aí para o que os outros pensam. “Já cheguei a escutar que era ridículo alguém na minha idade andar de patins, mas eu respondi dizendo que patinar é como qualquer outro esporte, apenas não há muitas pessoas da minha idade fazendo isso”, conta, rindo. Na contramão, diversos jovens admiram sua iniciativa, que acaba fazendo com que outras pessoas de idade comecem a patinar depois de vê-lo no parque. A dica? “A gente tem que fazer, não tem importância se faz feio!”, brinca. “Para mim demora um ano para aprender o que os mais jovens aprendem em um mês, mas e daí?”. A persistência valeu a pena: no ano passado, Koji ficou em terceiro lugar no Campeonato Sul-Americano realizado na Argentina.