Para todo mundo ler. Um texto assinado pela presidente da Academia Brasileira de Letras, Ana Maria Machado, sobre o depois desta eleição de domingo, independentemente de quem vença. No artigo, publicado em sua coluna quinzenal em O Globo, com o título de “O dia seguinte”, a escritora fala da segunda-feira, o dia depois do pleito. O que nos espera
Leia o artigo:
O Brasil define dia 26 como vai ser governado nos próximos quatro anos. Num pleito emocionante, os favoritismos oscilam e as previsões são arriscadas. No entanto, dá para ter certeza de uns pontos que se apresentarão no dia seguinte e no mandato que começa no Ano Novo, vença quem vencer.
O primeiro é econômico: a conta vai chegar e todos teremos de pagar. Eleitores que votaram no governo ou que o rejeitaram. Os preços administrados e represados terão de ser corrigidos. Os subsídios arbitrários mostrarão seus efeitos. O baixo crescimento, a inflação estourando a meta, o descontrole fiscal deverão ser enfrentados. Seja quem for o eleito, terá de agir logo, sem empurrar com a barriga, se tiver um mínimo de senso de responsabilidade. Ao acabar a validade das imagens da propaganda eleitoral, será necessário encarar a realidade de que não se poderá fugir: tomar algumas medidas duras de ajuste para consolidar conquistas que são de todos.
O segundo ponto incontornável é que o país que emerge das urnas está dividido. Rachado em dois grandes grupos e subdividido em um sem-número de partidos políticos e facções. Mais que isso: é uma sociedade que se radicalizou numa campanha cheia de distorções, má-fé, mentira, agressões, ódio.
Vai ser necessário pacificar o Brasil. Em vez de desqualificar divergências, tentemos, antes de mais nada, entender por que algumas pessoas que amamos, admiramos ou respeitamos votaram diferente de nós. As relações pessoais não podem ser pautadas por superficialidades ressentidas e agressivas como as que se têm visto, na permanente demonização de quem não pensa igual. Por mais que algumas opiniões nos espantem e até nos choquem, é possível reconhecer o que o outro lado fez de bom, seja plantando e enraizando a estabilidade na economia, seja podendo colher seus frutos na redistribuição de renda e nos programas sociais. Daqui para a frente, há que fazer um esforço mútuo de entendimento na consolidação de denominadores comuns essenciais para o país crescer e os cidadãos continuarem melhorando. Manter a crise e as hostilidades não pode ser o projeto de futuro de nenhum dos dois lados.
É indiscutível que teremos de caminhar juntos. O caminho coletivo que a nação vem construindo no último quarto de século incorporou conquistas que todos (excetuando os irresponsáveis dispostos a tocar fogo no circo) queremos ver consolidadas. Antes de mais nada, a democracia, com respeito às instituições, à Constituição, aos direitos humanos, à separação de poderes, à liberdade de opinião. Em seguida, a estabilidade da economia, a responsabilidade fiscal, a possibilidade de desenvolvimento com regras claras. E também os programas de cunho social e a redistribuição de renda. Clique aqui para ler mais.