Maya Santana, 50emais
Conheci algumas pessoas que sofriam desse mal terrível, que é ruido no ouvido. O som vem lá de dentro e é contínuo. Uma manhã acordei com o telefonema de uma amiga apavorada, porque havia amanhecido com um barulho intenso e perturbador dentro do ouvido. Procurou um especialista, fez um tratamento e hoje está praticamente normal. Mas outros não têm a mesma sorte, vivem um drama: há anos sofrem do mal e ainda não encontraram um alívio para seu suplício. Uma das consequências dessa situação é que muitos acabam se se deprimindo. Agora, surge uma esperança, como mostra este artigo do Correio Braziliense.
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Quase todo mundo já teve, ao menos uma vez na vida, a perturbadora sensação de ouvir um som inexistente. No geral, isso acontece depois de muito tempo exposto ao barulho, mas também pode surgir sem causa evidente. Para algumas pessoas, porém, o fenômeno é crônico e pode, inclusive, atingir os dois ouvidos simultaneamente. As consequências de viver com a impressão de ter um apito ou zumbido constante na cabeça são muitas: vão de dificuldade de concentração a depressão e ansiedade.
Agora, em um experimento com 20 voluntários, descrito na revista Science Translational Medicine desta semana, pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, demonstraram que um tratamento experimental não invasivo é capaz de minimizar e, em alguns casos, acabar com o problema. Trata-se de um aparelho que consegue calar os sons fantasmas se focando na atividade desordenada de alguns nervos no cérebro.
Baseado em anos de pequisa sobre as causas da condição, o equipamento usa sons e impulsos elétricos fracos, precisamente cronometrados, que ativam os nervos sensíveis ao toque, com objetivo de controlar as células nervosas danificadas para que voltem à atividade normal. Depois de quatro semanas de uso diário do dispositivo, os participantes reportaram que o volume dos sons fantasmas diminuiu e que a qualidade de vida melhorou. Um tratamento-placebo, que usou apenas sons, não produziu qualquer efeito, ressalta o artigo.
Na fase pré-clínica, os experimentos foram realizados em porquinhos-da-índia. Depois, passou-se à fase de teste com humanos, no esquema duplo-cego: nem os voluntários nem os cientistas sabiam quem estava recebendo o placebo ou o tratamento verdadeiro. Agora, a equipe da Universidade de Michigan está perto de começar a comercializar o equipamento. Atualmente, os cientistas trabalham com financiamento dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos para realizar novos testes e, assim, aperfeiçoar a abordagem.
“O cérebro, especificamente a região do tronco cerebral chamada núcleo coclear dorsal, é a raiz do tinnitus”, diz Susan Shore, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Michigan que liderou a equipe de pesquisadores. Quando os principais neurônios dessa região, chamados células fusiformes, se tornam hiperativos e sincronizam-se uns com os outros, o sinal fantasma é transmitido para outros centros, em que ocorre a percepção. “Se conseguimos parar com esses sinais, então, paramos com o tinnitus. É o que nossa abordagem tenta fazer, e estamos encorajados por esses resultados iniciais, verificados em animais e humanos”, diz.
Sentidos
Chamada estimulação-alvo bimodal auditiva-somatossensorial, a abordagem envolve dois sentidos. O equipamento toca um som que chega aos ouvidos, alternando-o com intervalos de pulsos elétricos suaves e precisamente cronometrados, aplicados às bochechas ou ao pescoço. Isso desencadeia um processo conhecido por plasticidade dependente do tempo de estímulo (STDP, sigla em inglês), primeiramente explorada em animais, que leva a mudanças de longo prazo na taxa em que os nervos disparam. A abordagem pretende recompor a atividade das células fusiformes, que normalmente ajudam o cérebro a receber e processar tanto sons quanto sensações, como um toque ou uma vibração, o que os cientistas chamam de insumos somatossensoriais. Clique aqui para ler mais.