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Aos 64, ele percorre o Caminho de Santiago pela 13ª vez

Para o jornalista e professor Giovanni Faria, o grande valor da jornada está em percorrê-la, e não em concluí-la

01/04/2024
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Giovanni Faria em Oviedo, no Caminho Salvador, em julho de 2018 — Foto: Acervo pessoal

50emais

Você se disporia a andar à pé 30 km por dia? É esse o percurso que um peregrino normalmente faz quando se lança na aventura de percorrer o Caminho de Santiago de Compostela, no norte da Espanha.

Mariza Tavares, do blog Longevidade: Modo de Usar, publicado por O Globo, entrevista o jornalista e professor Giovanni Faria, que, no final do ano, pretende viver a experiência de cruzar, pela 13ª vez, o Caminho.

“Às vésperas de meu 13º. Caminho e nove anos depois do primeiro, digo que muita coisa mudou além da idade. Minha disposição só cresceu, juntamente com o desejo de superar desafios” – explica ele essa sua necessidade de voltar sempre.

Você que tem vontade ou pretende fazer o Caminho de Santiago não pode deixar de ler essa entrevista, com muitas dicas para que a aventura transcorra de maneira tranquila, livre de transtornos,como as quase inevitáveis bolhas nos pés.

Leia:

Ele se prepara para, em dezembro, fazer pela décima-terceira vez o Caminho de Santiago de Compostela – e o mais incrível é que não tenha patrocínio nessa verdadeira façanha! Peregrinos podem escolher diferentes percursos e o jornalista e professor Giovanni Faria fez questão de trilhar vários, tanto no verão quanto no inverno.

Aos 64 anos, tem certeza de que está muito melhor, física, mental e espiritualmente, do que há nove anos, quando realizou a primeira jornada. Nesse relato emocionante, compartilha os perrengues, as descobertas e a magnitude de uma experiência tão marcante que fica difícil não querer repeti-la.

Fui a Santiago de Compostela pela primeira vez como turista, em 2014. Meu irmão mais novo, Ricardo, estava completando o Caminho e quis fazer uma surpresa em sua chegada à Plaza del Obradoiro (Praça do Obradoiro), destino final dos peregrinos. Minha irmã caçula, Monique, também foi comigo. Decidimos que nos reuniríamos numa missa na Catedral de Santiago para marcar a passagem de 30 anos de morte de nosso pai, Francisco. Naquela ocasião, me emocionei ao ver centenas de peregrinos chegarem à Obradoiro, exaustos mas felizes pela conclusão da jornada. Eu ainda não alcançava seu significado.

Na época, qual era o quadro da sua saúde física e mental?

Em 2014, vivia um período conturbado: tinha perdido o emprego e colocara um stent numa veia calibrosa do coração que tinha um entupimento de 90 por cento. Escapei de um infarto por pouco. Buscava algo que me trouxesse paz. Faltava chão. Literalmente. Decidi ali mesmo, no coração da Galícia, na Espanha, fazer meu primeiro Caminho no ano seguinte. Estava acima do peso, mal conseguia andar um quilômetro, e apostei as fichas numa jornada que me obrigaria a percorrer cerca de 30 quilômetros todos os dias. Levei a sério.

Como você se preparou para a primeira expedição?

Passei a frequentar as reuniões mensais da Associação do Caminho de Santiago na Casa de Espanha, no Humaitá (na Zona Sul carioca), onde peregrinos contam suas experiências e trocam ideias. Ali entendi o tamanho do desafio que enfrentaria. Passei a caminhar cinco vezes por semana, sempre com uma mochila com um saco de arroz de cinco quilos, simulando o peso aproximado que deveria carregar.

Qual foi o percurso escolhido e a sensação ao completá-lo?

O primeiro foi no verão europeu, tendo início no dia 29 de junho de 2015, na cidade de Saint-Jean-Pied-de-Port, aos pés dos Pirineus: ponto de partida da maioria dos peregrinos, é o chamado Caminho Francês. Em média, cerca de 500 mil pessoas percorrem as dezenas de Caminhos todos os anos. O primeiro trecho na montanha, de aproximadamente 30 quilômetros, foi duro, tanto nas subidas íngremes quanto nas descidas abissais. Mas de uma beleza ímpar. Já podia dizer que, em um dia, cruzara a França para a Espanha em oito horas, com seis quilos nas costas e uma montanha de “amigos de infância” que a jornada proporciona.

Em Santa Catalina de Somoza, no Caminho Francês, em janeiro de 2023 — Foto: Acervo pessoal

Que perrengues enfrentou?

O maior desafio do iniciante é saber lidar com as quase inevitáveis bolhas nos pés. Elas nascem do atrito da pele com a meia em meio ao suor. Com o tempo, e o aprendizado no uso de géis, cremes e vaselinas adequados, tudo se resolve. Mas os desavisados sofrem. Uma peregrina da República Dominicana, que encontrei no “pueblo” (aldeia) de Hontanas, tinha meia dúzia delas em cada pé. O procedimento de cura é simples e indolor: cruze uma agulha com linha por dentro da bolha e mantenha a linha em seu interior – ela vai funcionar como uma espécie de dreno, retirando toda a água e secando a região. No dia seguinte, pés novos. Reencontrei a peregrina serelepe como se nada tivesse acontecido.

Leia também: Dobra número de brasileiros que percorrem Caminho de Santiago

“Em 2015, cometi um erro de principiante: andei depressa demais. Com o passar dos anos, encontrei meu ritmo, mais lento, cadenciado, conversando com todo mundo, parando nos pontos interessantes, descansando numa sombra, comendo um bom ‘jamón’ (presunto), bebendo uma ‘caña’ (chope) sob o sol inclemente. Não repeti a correria de chegar ao albergue para garantir uma cama”.
Você faz o trajeto sozinho? Qual é a relação com as outras pessoas que caminham e como os peregrinos se abrigam à noite?

A maioria das pessoas faz o Caminho sozinho. Pode até estar em dupla ou num grupo, mas cada um no seu ritmo. O inglês é a língua universal, só menos usado que o gestual. A maioria dos peregrinos é espanhola – afinal, tudo termina em Santiago de Compostela, a cidade que desde o século IX recebe pessoas para visitar o túmulo do primeiro apóstolo de Cristo martirizado, Santiago Maior. Franceses, americanos, italianos e alemães são as nacionalidades mais comuns, mas a presença de orientais cresce ano a ano. Os encontros ocorrem nos albergues, onde pernoitamos em condições bem simples.

Depois de andar 30 quilômetros, um banho, uma refeição e cama são tudo o que o peregrino precisa para repor as energias para o dia seguinte. São de três categorias: os pertencentes à Igreja Católica não cobram nada, mas aceitam donativos; os municipais custam entre cinco e dez euros, enquanto os particulares, com mais recursos, entre dez e 15 euros. São acomodações coletivas e cheguei a ficar numa com 60 camas num só ambiente. Às 22h as luzes são apagadas, não se permite conversa e, claro, os roncos varam a madrugada em decibéis elevados. Às 4h, os apressadinhos estão prontos. No verão, praticamente todos, a fim de fugir do absurdo calor espanhol.

“Em Carrión de los Condes, cidade na “meseta” espanhola, espécie de deserto onde só se vê plantação de trigo, um albergue é comandado por cinco freiras que tocam instrumentos e cantam muito bem. Uma delas, com noções de enfermagem, cuidava das bolhas dos peregrinos; outra fazia questão de levar as mochilas escada acima, para o alojamento. Antes do jantar, trocavam seus afazeres por instrumentos musicais e cada peregrino cantava uma música de seu país. Parecia a Torre de Babel”.
Você fez inúmeras rotas em diferentes estações do ano: o que o leva a renovar o entusiasmo para encarar o desafio?

Depois do primeiro Caminho, em 2015, não consegui parar, com exceção do período da pandemia. Foram 12 percursos: quatro vezes o Caminho Francês, sendo uma no inverno; duas vezes o Caminho Português Central, saindo do Porto; uma vez o Caminho Português da Costa, pelo litoral desde o Porto; uma pelo Caminho Primitivo, todo pela montanha, partindo de Oviedo; uma pelo Caminho Inglês, desde La Coruña; outra pelo Caminho Salvador, de León a Oviedo; uma vez o Caminho de Muxía a Santiago; e o Caminho entre Finisterre, o fim da terra antes do descobrimento da América, como pensavam os europeus, e Santiago. No total, 5.500 quilômetros. A razão que nos leva ao Caminho é variada. A maioria o faz por questões religiosas e há o enorme interesse cultural e arquitetônico. O menos relevante é a atividade física. Não é preciso bater metas, nem cumprir determinado número de quilômetros. Conheci um brasileiro naturalizado espanhol que andava cinco quilômetros por dia: não tinha pressa e, principalmente, não queria que o Caminho acabasse.

“O grande valor do Caminho está em percorrê-lo, e não em concluí-lo, embora isso seja uma façanha a comemorar. Ouvi dezenas de relatos de peregrinos frustrados ao entrar na Plaza del Obradoiro ante a realidade de que, no dia seguinte, não haveria para onde ir, nem amigos a encontrar. ‘Choro mais de tristeza porque acabou do que de alegria porque cheguei’, me disse a brasileira Rose, de São Paulo, na chegada em 2015. Daí aquela decisão quase de uma criança diante de um brinquedo: quero de novo! Cheguei a fazer três em 2018”.
Compartilhe algumas histórias marcantes de tantas que você vivenciou.

Em 2018, conheci Elizabeth, 78 anos, da Nova Zelândia. Andava devagar e ainda carregava duas mochilas. Havia ficado viúva e pôs os pés na estrada. No fim de tarde, deu de cara com o albergue lotado e teria de caminhar mais cinco quilômetros para tentar a sorte em outro, porque não há sistema de reservas. Cedi minha acomodação para ela e, num papelão estirado no chão da cozinha, ao lado do fogão a lenha, dormi feito um anjo. Os “pueblos” sempre encontram uma solução quando há gente demais, como abrir igrejas e colégios se for necessário. Em 2017, dormi, com um certo frio na barriga, no banco de uma catedral. Sono dos deuses.

Entre os “amigos de infância” havia especialmente italianos, sempre bons na cozinha do albergue e generosos no partilhar o vinho: o macarrão é o alimento-mor do peregrino. Lembro-me de um grupo de três sicilianos que carregou no colo, nos ombros, do jeito que arrumaram, o quarto integrante, que torcera o pé, por dezenas de quilômetros. São muitas histórias de vida: o monge irlandês John fazia o Caminho Francês com vestes franciscanas e um violão nas costas, tentando renovar a fé em Deus depois de perder os pais. A cada quilômetro, ajoelhava-se e rezava. Albert, de 67 anos, saíra Bruxelas a pé horas depois de sepultar a esposa, que morrera de câncer.

Leia também: Cresce o nº de brasileiros no Caminho de Santiago de Compostela

“Saí do cemitério, peguei a mochila e vim. Para que ficar em casa sem a pessoa com quem convivi meio século?”, disse-me, pouco depois de completar cinco meses de sua estrada de três mil quilômetros. Mathie, 21 anos na época, contou-me na ponte romana na entrada de Pamplona que fazia o Caminho com os pais e uma irmã, todos buscando forças para suportar a morte de seu irmão, ocorrida num acidente de carro em Quebec, no Canadá. O médico Paulo, no Caminho Português Central, em Ponte de Lima, a cidade do vinho verde, me revelou que recebera o diagnóstico de câncer e decidiu andar 400 quilômetros sozinho para pensar como seguiria na vida.

Como será sua próxima jornada?

A partida para o 13º. será no dia 1 de dezembro. O Caminho de la Plata tem início em Sevilha, na Andaluzia, e depois passa por cidades de porte médio bem romanas, como Mérida, Salamanca, Ourense e Zamora, além de outras menores. Estou ansioso para conhecer um “pueblo” que aguça a curiosidade pelo nome: El Cubo de Tierra del Vino. É um trajeto longo, com mais de mil quilômetros, que acompanha toda a fronteira próxima a Portugal. A distância entre as cidades é grande, com trechos acima dos 40 quilômetros. Farei em julho um treino na minha região preferida para caminhadas no Brasil: Minas Gerais. O ponto de partida será na cidade de Águas de Prata, em São Paulo, mas logo depois cruzarei a divisa para as bandas mineiras, até a chegada, novamente em São Paulo, na cidade de Aparecida. São aproximadamente 350 quilômetros do chamado Caminho da Fé.

No Brasil, você também costuma caminhar com frequência. Quais foram as trilhas mais interessantes que fez?

O Brasil está pegando carona no efeito Santiago e criando trajetos em formatos semelhantes. Em fevereiro, completei o Caminho Nhá Chica, na região de São Lourenço. Em Minas, há oito anos faço longas caminhadas em áreas dos parques nacionais, o que garante o mínimo de segurança e assistência em caso de emergência. Já percorri cerca de três mil quilômetros em Diamantina, Serro, São Tomé das Letras, Tiradentes, Caraça, Carrancas, Serras do Cipó e da Canastra e Ibitipoca. Foram cerca de 60 cidades mineiras atravessadas a pé, mochila nas costas e bastões nas mãos. Também vou às Regiões Serrana, Norte e Noroeste do Rio de Janeiro. Gosto de andar na roça, por causa da paisagem e acolhida humana. Por fim, como moro em Niterói e meus filhos no Leblon, no Rio, costumo fazer uma daquelas maluquices que me dão prazer. Saio a pé de Icaraí até a estação das barcas, no Centro da cidade, faço a travessia da Baía de Guanabara e sigo: Aterro do Flamengo, Copacabana, Ipanema, Leblon. No dia seguinte, volto. São 18 quilômetros.

O que você sugere para quem quer começar? Qual é o equipamento básico para um peregrino?

Além do preparo, caminhar longas distâncias exige equipamento adequado, de boas marcas. As botas devem ser impermeáveis; camisas, calças e casacos com proteção UV. Aqui não dá para economizar: tenho botas que já rodaram quatro mil quilômetros e ainda vão longe. Bastões são fundamentais para ajudar no equilíbrio, impulsionam na subida e tiram a pressão sobre os joelhos na descida. E afugentam os cachorros mais afoitos. Para não se perder, especialmente em zonas rurais, dois conselhos: usar roupas e mochilas coloridas (vermelho, abóbora, amarelo), que ajudam na localização; e o aplicativo Wikiloc, espécie de Waze da galera das andanças, que indica as rotas mesmo off-line. Na minha mochila não pode faltar creme para o rosto e o corpo, porque o sol castiga a pele; agulha e linha, para as bolhas; um apito, eficiente em caso de necessidade de ajuda; recipiente para água, muita água; bateria reserva para o celular; fruta, e banana é a ideal; e, por fim, perneiras, uma proteção feita em couro.

“Em áreas de cobra, cobrir as pernas do joelho para baixo é fundamental. Na Serra do Mar, minha trilha no carnaval passado, a todo instante era possível ver uma plaquinha na beira da estrada com a foto de uma cobra e a inscrição informal: ‘Oi, eu também estou aqui!’. Se tomar cuidado, o risco é zero”.

Leia também: A jóia que Minas ainda não percebeu o valor

O que mudou da primeira caminhada até essa 13ª.? Física e mentalmente?

Às vésperas de meu 13º. Caminho e nove anos depois do primeiro, digo que muita coisa mudou além da idade. Minha disposição só cresceu, juntamente com o desejo de superar desafios. Não faço maluquices, sei dos meus limites. Não sou atleta, nunca fui, nem pretendo ser. Mas não admito ficar parado – já fiz isso demais na vida – e em maio completo 49 anos de carteira assinada. Não tenho tempo a perder e sonho alto, sonho longe.

“Acho que posso um dia sair de Moscou, na Rússia, em direção a Santiago. Não serei o primeiro, pois conheci um russo que fez isso, sem pressa, em seis meses, vencendo os quase cinco mil quilômetros de distância entre as duas cidades. Hoje, estou mais bem preparado do que estava em 2015. Quem sabe… Que a física me perdoe, mas tenho contado a idade mais pelos quilômetros percorridos do que pelo tempo de vida. Assim, espero chegar bem aos 70… mil quilômetros andados. Então, como dizemos como saudação quando passamos por um peregrino: ‘Buen camino!’

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Iniciei minhas atividades como jornalista na década de 70. Trabalhei em alguns dos principais veículos nacionais, como O Estado de S. Paulo e Jornal de Brasil. Mas a maior parte da minha carreira foi construída no exterior, trabalhando para a emissora britânica BBC, em Londres, onde vivi durante mais de 16 anos. No retorno ao Brasil, criei um jornal, do qual fui editora até me voltar para a internet. O 50emais ganhou vida em agosto de 2010. Escolhi o Rio de Janeiro para viver esta terceira fase da existência.

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