Maya Santana, 50emais
Em termos de longevidade, com certeza os japoneses têm muito a nos ensinar. Japão é o país com o maior número de velhos do planeta. É um povo que, por causa da alimentação e do modo de vida, vive mais que o resto do mundo. Especialmente, na ilha de Okinawa – um lugar que está entre as chamadas zonas azuis ou áreas do globo terrestre onde a população costuma ultrapassar os 100 anos. Foram os japoneses que criaram o conceito de “ikigai”, uma teoria sobre a qual você vai saber mais nesta reportagem de Eva Ontiveros, para a BBC.
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Você sabe por que se levanta pela manhã? Se consegue responder a isso, então, você já encontrou seu ikigai, um conceito japonês antigo que pode ser a chave para uma vida longa, feliz e saudável.
Não existe uma tradução direta para o termo. O mais próximo que se pode chegar é a descrição feita por Ken Mogi, autor do livro Ikigai: Os cinco passos para encontrar seu propósito de vida e ser mais feliz (Astral Cultural, 2018).
“Ikigai é a sua razão de viver”, diz o neurocientista japonês. “É o motivo que faz você acordar todos os dias.”
O conceito vem de Okinawa, um grupo de ilhas ao sul do Japão com uma população de moradores centenários bem acima da expectativa de vida média, mesmo para os padrões japoneses.
Muitos acreditam que o ikigai é o segredo de sua longevidade. O termo é bem conhecido em todo o país, como explica Mogi, e a ideia representada por ele está se espalhando para outras partes do mundo.
Segundo o autor, é “muito importante identificar as coisas que você gosta de fazer e que te dão prazer, porque elas dão propósito à vida e levam a uma existência longa e feliz”.
“E não se trata apenas de viver por um longo tempo, mas de aproveitar a vida e saber o que você quer fazer com ela”, afirma.
O ikigai também é algo muitas vezes relacionado à vitalidade.
“É a felicidade que vem de sempre ter algo para fazer, de estar ocupado”, diz Francesc Miralles, que, junto com Héctor García, escreveu Ikigai: Os segredos dos japoneses para uma vida longa e feliz (Intrínseca, 2016).
A ideia por trás disso é que, “se você encontra algo que dê sentido à sua vida, isso o faz seguir em frente e o mantém motivado”, diz Miralles.
Como achar seu ‘ikigai’?
Não é difícil, segundo Mogi. Você pode começar por algo simples como beber uma xícara de café pela manhã.
“Em geral, somos tão obcecados com o sucesso e grandes metas que a vida acaba se tornando intimidadora. O legal do ikigai é que você pode partir de coisas pequenas até chegar aos grandes objetivos de vida.”
Ser fácil de começar é um dos fatores que levam cada vez mais pessoas de fora do Japão a se interessarem pelo conceito, e alguns livros já foram publicados sobre o assunto.
“Qualquer um pode partir do que está ao seu alcance e começar a sentir-se bem e a experimentar os benefícios que isso traz antes de, gradualmente, evoluir para objetivos maiores.”
Mas todo esse bem-estar em potencial depende de um pequeno detalhe: encontrar um ikigai.
E se você não sabe o que mexe com você?
-se no espelho: que tipo de pessoa é você? Pense no passado e no que te dá prazer. Isso te dará uma pista. Como neurocientista, eu acredito que as coisas que nos dão prazer são reflexos do tipo de pessoas que nós somos.”
Mas ampliar seu horizonte para objetivos maiores pode ser mais complexo. “Se você não sabe o que quer da vida, comece fazendo uma lista do que você não quer, quais situações te deixam desconfortável ou infeliz, quais atividades prefere evitar”, aconselha Miralles.
Você pode descobrir que há várias coisas que te deixam feliz: aprender coisas novas, cuidar do jardim, ajudar outras pessoas, resolver problemas, fazer música… ou vender coisas, falar em público.”
Miralles admite que encontrar um ikigai não é sempre um processo simples. “Há pessoas que sabem o que querem ser desde a infância, mas a maioria de nós não sabia o que queria.”
E há o peso do cotidiano: “Vamos à escola, procuramos emprego, lidamos com obrigações e pagamos contas… e, com isso, podemos nos distanciar de nossos impulsos naturais”.
Para ajudar a encontrar sua paixão, o escritor sugere seguir o conselho do cientista da computação e palestrante motivacional Randy Pausch (1960-2008): “Resgate seus sonhos de infância. Quais eram? Desenhar por horas? Dançar? Correr? Pense em quando era pequeno e no que te deixava feliz e você não faz mais”.
“A beleza do ikigai é que é algo muito pessoal”, diz Mogi. “Não é algo dado a você, de forma passiva. Você precisa explorar sua mente e cultivar seu ikigai.”
Isso torna-se muito importante em sociedades como a japonesa, que podem ser vistas como bastante homogêneas, afirma Mogi, “porque cada pessoa tem seu ikigai, e isso vira uma forma de celebrar as diferenças individuais”.
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Quantos ‘ikigais’ você pode ter?
Há muitas formas de ter prazer. Na verdade, é importante ter vários ikigais, dos mais simples aos mais ambiciosos.
“A maioria das religiões só acreditam em um deus. Mas, no Japão, acreditamos que há 8 milhões de deuses”, diz Mogi.
“Isso influencia como os japoneses veem o ikigai: não acreditamos que há só uma coisa importante, não perseguimos apenas um objetivo, pode haver milhares de coisas diferentes que podem nos dar prazer.”
Mogi dá um exemplo como isso se aplica em sua vida prática. “Meu ikigai menor é correr 10 km em Tóquio todos os dias. Mas, como cientista, minha maior alegria é ter ideias novas e, talvez, dar uma contribuição para o mundo. Isso também é meu ikigai”.
Há alguma prova de que o ‘ikigai’ funciona?
Mogi está convencido de que sim, e aponta estudos realizados pela Universidade Toho, em Tóquio, que investigam o sentido e significado da vida e sua correlação com a taxa de mortalidade em idosos. Clique aqui para ler mais.