Maya Santana, 50emais
Eu tinha 17 anos quando a baiana Martha Vasconcelos foi a vencedora do concurso de Miss Universo, em Miami, nos Estados Unidos, em julho de 1968. E me recordo muito bem. Vivíamos aqui em plena ditadura militar, que havia começado em 1964, com o golpe que derrubou João Goulart. Mas, alienada, assim como tanta gente, eu gostava de assistir a programas como concursos de beleza. A primeira brasileira a ganhar o grande título foi a gaúcha Ieda Maria Vargas. Era 1963 e ela tinha 18 anos. Cinco anos depois, em 1968, foi a vez de Martha Vasconcelos. Ela parecia saída de uma revista de beleza: era linda. Esta reportagem publicada pelo blog Acervo, de O Globo, quando completa exatos 50 anos dos acontecimentos daquele distante 68, relembra como foi que a baiana chegou lá e o que aconteceu depois.
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Quando as caixas de som anunciaram o nome da Miss Universo de 1968, a pessoa mais incrédula no Miami Beach Auditorium naquele dia 13 de julho, há exatos 50 anos, era a própria Martha Vasconcellos. Última brasileira a vencer o concurso, a baiana de então 20 anos estava lá contra a vontade da família e não fazia a menor questão de ganhar a coroa. Meio século depois da notícia, que fez a cidade de Salvador festejar até de madrugada, a equipe do Blog do Acervo pediu para Martha comentar as fotos publicadas pelo GLOBO na época.
“Quando descobri que ganhei foi um espanto. Um espanto negativo. Porque a minha família era contra. Meu pai era completamente contrário à exposição de um concurso de beleza, achava uma coisa sem nenhum merecimento. E eu mesma não pensava em ganhar. Eu era muito presa em casa e aquilo tinha sido uma oportunidade de sair, viajar, conhecer pessoas. Foi uma vitória inesperada e totalmente fora do script da família”, conta Martha.
Logo após se tornar Miss Universo, derrotando outras 64 mulheres a baiana disse numa entrevista que sua maior preocupação era se casar o mais rapidamente possível com o namorado de infância, o engenheiro Reinaldo Loureiro. Só então foi informada de que perderia a coroa se de fato se casasse. “Não tinha pensando nisso”, ponderou ela, que adiou o casamento e passou um ano em Nova York, cumprindo os compromissos que seu novo título exigia, como comparecer a eventos e participar de ensaios fotográficos.
“Eu e as outras meninas tínhamos um convívio muito pacífico e alegre. Me diverti muito! Primeiro porque não achava que ia ganhar a coroa. Encarei aquilo desde o início como uma brincadeira de adolescente ou uma despedida de solteira”, conta a brasileira. “Não foi para mim nenhum esforço. Compara, por exemplo, com um curso universitário, em que tenho que estudar e escrever. Não tinha nada disso num concurso de miss. E naquela época não existia cirurgia plástica. Nem peruca a gente usava. No máximo, cílios postiços”.
“Saí de Salvador, na época uma cidade pequena, e fui parar em Nova York. Fiquei hospedada no Hilton! O mundo se abriu para mim, com várias oportunidades. Foi grandioso e, ao mesmo tempo, assustador. Tudo era muito diferente, foi um verdadeiro choque cultural. Na primeira vez que fui passear na Broadway, por exemplo, eu não gostei. Achei uma loucura, aquelas luzes todas. Mas, enfim, acabei me acostumando com aquela vida”, conta Martha. Clique aqui para ler mais.