Maya Santana, 50emais
Eu tenho 67 anos de vida, mas se alguém me perguntasse quantos anos eu sinto que tenho, eu diria algo em torno dos 58. Vivo com muita disposição, que conquisto diariamente fazendo longa caminhada matinal e alguns exercícios de alongamento. Mas já sinto as minhas limitações decorrentes do avançar do tempo: dificuldade para agachar e me levantar, pequenas dores inexplicáveis aqui e ali, menos facilidade para lidar com matemática, medos que antes não estavam lá e outros pequenos incômodos. No geral, me sinto muito bem e me considero privilegiada de, nessa altura da vida, não tomar qualquer remédio, nem para pressão arterial. Estou dizendo tudo isso a propósito deste artigo de David Robson,da BBC Brasil, que você vai ler, sobre “por que pessoas que se sentem mais jovens do que são podem viver mais.” No meu caso, o que gostaria mesmo é de viver até lá pelos 85. E, então, partir em paz para a próxima estação.
Leia:
Imagine por um momento que você não tenha uma certidão de nascimento e que sua idade pudesse ser determinada apenas pela maneira como você se sente por dentro. Quantos anos você diria que tem?
Assim como sua altura ou tamanho de sapato, o número de anos que se passaram desde que você chegou ao mundo é um fato que não pode ser mudado. Mas as experiências diárias sugerem que nós frequentemente não vivemos a idade da mesma forma, e muitas pessoas se sentindo mais velhas ou mais jovens do que realmente são.
Cientistas estão cada vez mais interessados nesse tema. Eles estão descobrindo que nossa “idade subjetiva” pode ser essencial para entender por que algumas pessoas parecem ficar mais jovens com a idade e outras esmorecem com o passar do tempo.
“Sentir-se mais jovem pode influenciar decisões importantes tanto para o presente quanto para o futuro”, diz Brian Nosek, professor de Psicologia da Universidade de Virgínia.
Há estudos que mostram que nossa “idade subjetiva” pode ser um indicador antecedente importante para questões relacionadas à saúde, incluindo as estimativas de risco de morte. De certa forma, dizem os especialistas, você realmente “é tão velho quanto sente que é”.
Motivados por esses resultados, muitos pesquisadores estão tentando determinar os fatores biológicos, psicológicos e sociais que moldam a experiência do envelhecimento – e como esse conhecimento pode nos ajudar a ter vidas mais longas e saudáveis.
Esses esforços estão em marcha há décadas. Alguns dos primeiros estudos sobre a diferença entre “idade psicológica” e a cronológica apareceram nos anos 1970 e 1980.
O ritmo se intensificou nos últimos dez anos, quando um grande volume de novos estudos investigou os potenciais efeitos psicológicos e físicos dessa discrepância.
Uma das correntes mais intrigantes dessa pesquisa tem explorado a forma como a “idade subjetiva” influencia nossa personalidade. O atual senso comum diz que as pessoas tendem a amadurecer conforme envelhecem, se tornando menos extrovertidas e abertas a experiências novas.
Essas mudanças, contudo, seriam menos acentuadas em pessoas “jovens de espírito” e mais nítidas em pessoas com “idade subjetiva” mais avançada que a biológica, de acordo com os cientistas.
O interessante é que pessoas com “idade subjetiva” menor, por outro lado, também seriam mais cuidadosas e menos neuróticas com o passar do tempo – transformações positivas que costumam vir naturalmente com o envelhecimento biológico.
Assim, ter uma “idade subjetiva” menor não seria necessariamente sinônimo de uma permanente imaturidade.
Se sentir mais jovem que a idade real teria ainda impacto positivo sobre a saúde mental e reduziria o risco de depressão e de doenças como a demência.
Yannick Stephan, da Universidade de Montpellier, na França, examinou dados de três estudos longitudinais – conduzidos no decorrer de vários anos, para avaliar o impacto do tempo sobre os resultados – que, juntos, avaliaram mais de 17 mil pessoas de meia idade e idosos.
Neles, a maioria dos entrevistados se sentia em média oito anos mais jovem do que sua idade cronológica.
Alguns, contudo, sentiam-se mais velhos – e as consequências, nesses casos, eram sérias. Uma “idade subjetiva” entre 8 e 13 anos maior que a idade biológica elevava o risco de morte entre 18% e 25% durante os períodos do estudo, mesmo quando controlados outros fatores demográficos como educação, raça e estado civil. Clique aqui para ler mais.