Maya Santana, 50emais
Sempre achei que deveríamos falar mais da morte. Afinal, não dá para esquecer que o único fato certo da vida é que, mais cedo ou mais tarde, vamos todos desaparecer. E nenhum de nós, a rigor, tem a menor ideia para onde vamos depois que cessamos de viver aqui na terra. Eu pensava que, tendo mais consciência que somos finitos, que podemos ir embora a qualquer momento, as pessoas seriam mais compreensivas umas com as outras. A vida seria melhor e mais alegre, porque todo mundo tentaria usufruir da existência da forma mais plena possível, em sintonia com a natureza, com os animais e com os outros seres humanos. Para minha surpresa, pesquisas mostram que não é nada disso. Se soubessem a data de sua morte, as enquetes mostram, as pessoas seriam ainda mais intolerantes do que já são.
Leia a reportagem do site da BBC Brasil:
Você e todos os que já conheceu irão morrer um dia. De acordo com psicólogos, essa verdade desconfortável fica escondida no fundo de nossas mentes e acaba direcionando tudo o que fazemos, desde ir à igreja, comer vegetais e fazer ginástica a nos motivar a ter filhos, escrever livros e fundar um negócio.
Para pessoas saudáveis, a morte geralmente exerce uma influência subconsciente. “Na maior parte do tempo, passamos os dias sem pensar em nossa mortalidade”, diz Chris Feudtner, pediatra e especialista em ética do Hospital Infantil da Filadélfia e da Universidade da Pensilvânia, nos EUA. “Lidamos com isso focando em coisas que estão mais à nossa frente”.
O que aconteceria, no entanto, se não houvesse dúvida sobre o momento de nossa morte? E se de repente soubéssemos exatamente o dia e como morreríamos? Embora isso seja impossível, considerações cuidadosas desse cenário hipotético podem lançar luz sobre nossas motivações como indivíduos e sociedades – e dar pistas de como usar nosso tempo limitado na Terra da melhor forma possível.
Primeiramente, como a morte define o comportamento no mundo? Nos anos de 1980, psicólogos passaram a estudar como lidamos com a enorme ansiedade e o medo da percepção de que não somos nada além de “peças de carne conscientes que respiram e defecam e que podem morrer a qualquer momento”, como define Sheldon Solomon, professor de psicologia de Skidmore College, em Nova York.
A teoria de gerenciamento de terror, cunhada por Solomon e colegas, sugere que os humanos se apegam a crenças culturalmente construídas – de que o mundo tem sentido, por exemplo, e de que nossas vidas têm valor – a fim de afastar o que de outra forma seria um terror existencial paralisante.
Em mais de mil experimentos, pesquisadores concluíram que, quando lembrados de que vamos morrer, nos apegamos mais às nossas crenças e nos esforçamos para aumentar o senso de valor próprio. Também ficamos mais defensivos em relação as nossas crenças e reagimos com hostilidade a qualquer coisa que as ameace.
Mesmo acenos sutis à mortalidade – como um flash de 42,8 milissegundos da palavra “morte” na tela do computador ou uma conversa que comece numa casa funerária – são suficientes para engatilhar mudanças comportamentais.
Como são algumas dessas mudanças? Quando lembrados da morte, tratamos aqueles que são semelhantes a nós em aparência, inclinação política, origem geográfica e crenças religiosas de forma mais favorável. E nos tornamos mais desdenhosos e violentos com pessoas que não compartilham dessas semelhanças. clique aqui para ler mais.