Maya Santana, 50emais
Acho que já escrevi isto aqui. Aos quase 68 anos, se alguém me perguntar que conselho daria a uma pessoa que já passou dos 40, eu faria uma única recomendação: concentre toda a sua atenção na sua aposentadoria. Conheço vários casos de gente que se descuidou e chegou aos 60/65 sem ter pensado em como manter o mesmo(pelo menos) padrão de vida do qual desfrutou ao longo das décadas em que trabalhou. O resultado dessa displicência com o futuro é sempre lastimável. Para alertar os futuros aposentados, publico esta entrevista do economista e especialista em longevidade holandês Chris Madsen, feita por Maria da Luz Miranda, do blog Depois dos 50, de O Globo.
Leia os conselhos que ele dá:
A expectativa de vida cresce, a preocupação com a aposentadoria segue a mesma escala. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2060, os brasileiros devem encostar nos 81,2 anos vividos. Para quem está beirando os 50 anos, é hora de apressar o passo para garantir dias seguros no futuro.
O conselho é do especialista em longevidade holandês Chris Madsen, , matemático e economista, presidente resseguradora Blue Square Re, do Grupo Aegon. De passagem pelo Brasil para uma série de palestras, ele fez questão de pontuar que há uma demanda crescente por produtos de acumulação de recursos. Sem contar que o envelhecimento populacional em curso pressiona também os governos, que terão de financiar as futuras pensões.
Há uma idade ideal para a aposentadoria?
Não. Acredito que a aposentadoria é uma decisão muito pessoal e individual. Se eu olhar para mim mesmo, por exemplo, eu não vejo hoje a necessidade de me aposentar completamente. Isso pode ser necessário um dia, mas eu gosto de pensar que vou continuar trabalhando ou fazendo algo que gere valor até eu morrer ou que minha saúde permita. De qualquer forma, para a maioria das pessoas, entendo que a idade ideal seja quando elas atingirem o que chamo de Idade de Equilíbrio para a Aposentadoria.
A partir de quais conceitos se estabelece a Idade de Equilíbrio para a Aposentadoria?
Basicamente, é a idade em que as economias acumuladas são suficientes para arcar com a aposentadoria. Matematicamente, você pode descrever esse conceito usando elementos como a expectativa de vida, o valor poupado regularmente, a idade em que a pessoa começou a poupar e a idade em que ela deseja se aposentar. O que é único sobre a Idade de Equilíbrio para a Aposentadoria é que ela permite que você avalie os trade offs (conflito de escolhas). As pessoas normalmente pensam que precisam poupar para a aposentadoria e que essa é a única variável. Contudo, a própria idade de aposentadoria é uma variável relevante. Em outras palavras, decidir se aposentar mais tarde também deve fazer parte do planejamento de aposentadoria para quem não consegue ou não quer poupar muito. Adiar a aposentadoria pode ser uma das soluções para quem tem esse perfil. Ou seja, ao final, algum ajuste será necessário para compensar a falta de dinheiro para financiar a aposentadoria.
O que é uma boa aposentadoria, do ponto de vista financeiro?
Na maioria dos países, entende-se que uma boa aposentadoria é aquela em que você mantém pelo menos 70% da sua renda média no momento da aposentadoria. Esse percentual é um dos componentes a ser considerado no planejamento de uma aposentadoria utilizando o conceito da Idade de Equilíbrio para a Aposentadoria. Se você quer manter 70% da sua última renda média, você precisará poupar mais do que se você quiser 50%, por exemplo. E vice-versa: quem deseja manter 50% da renda média não precisará economizar, tanto quanto quem quer manter 70% ou 80% dos rendimentos.
Qual a hora ideal para começar a planejar a aposentadoria?
Todo mundo deveria começar a se planejar assim que possível. Mas para a maioria das pessoas isso deve acontecer quando elas começam a trabalhar. O planejamento precoce é muito valioso: a poupança acumulada entre os 20 e 30 anos é, possivelmente, tão importante quanto o que se poupa dos 30 aos 50. Isso porque esses recursos têm mais tempo para render e se multiplicar, aumentando a poupança. Começar cedo é muito importante. Se você tiver sorte, seus pais já começaram a pensar nisso desde quando você era uma criança. Quanto mais cedo começa o planejamento e a poupança, melhor será a aposentadoria. Quem ainda não começou, deve começar o quanto antes.
Pessoalmente, acho que seria interessante levar em consideração nesse debate os elementos em torno do conceito da idade de equilíbrio. Apenas como exemplo, ter alguém se aposentando aos 50 anos com 70% dos rendimentos médios é realmente algo muito caro. Pensando em alguém se aposentando aos 50 anos com 70% dos rendimentos e 25 anos de contribuição, com a expectativa de vida atual, se o governo não poupou 50% do salário dessa pessoa todos os anos só para a previdência, essa idade não será uma opção sustentável. A discussão da idade mínima de aposentadoria é, sem dúvida, um dos principais elementos de qualquer reforma. É sempre um ponto sensível de discussão, mas que entra nessa lógica de que, ao final, algum ponto precisa ser compensatório. Se você não tem poupança suficiente, você não consegue financiar um rendimento tão alto por tanto tempo.
Como o senhor pensa que países como o Brasil devem se preparar para o boom de idosos que nos espreita, com a longevidade alcançando patamares não imaginados antes?
A maioria dos países que eu já tive a oportunidade de estudar tem uma idade de aposentadoria que se move de acordo com a expectativa de vida. Ela sobe à medida em que a população vive mais. Se você observar a pressão que existe sobre o sistema público previdenciário brasileiro, certamente alguma medida concreta terá de ser analisada. Um dos pontos que se discute no mundo é a definição atual de aposentadoria. Se você tem 50 ou 60 anos, está bem fisicamente e tem habilidades para estar no mercado, por que não continuar na ativa, mesmo que seja por um ou dois dias na semana? Esse é apenas um exemplo de todas as possibilidades que existem na discussão desse tema. Quando se olha para a aposentadoria e as tendências no mundo, isso será cada vez mais comum, conforme as pessoas forem envelhecendo, elas serão treinadas novamente para o mercado e começarão a trabalhar por meio período, o que tornará possível complementar suas rendas.
Como o senhor acha que serão os velhos daqui a 20 anos e como estaremos lidando com o envelhecimento no mundo? Teremos um colapso ou teremos encontrado uma forma de garantir o equilíbrio?
Eu não acho que a sociedade vá entrar em colapso, mas acho que será uma grande e profunda discussão. As pessoas esperam os benefícios que são prometidos, mesmo que eles não sejam sustentáveis ou realistas. As pessoas sentem que têm direito a estes benefícios e isso se torna uma discussão emocional. Como em qualquer outro país, haverá um longo e acalorado debate, mas acredito que o Brasil encontrará uma forma de lidar com os desafios da longevidade e estabelecer um equilíbrio.