Maya Santana, 50emais
Já falei desse livro aqui no 50emais: Mistérios da Libido na Velhice, da jornalista paulista Tânia Celidônio. Agora estamos reproduzindo a longa e reveladora entrevista que a autora concedeu ao site do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon. Tânia explica em detalhes, na entrevista, como surgiu a ideia de escrever um livro sobre sexo na maturidade, como foi que fez a pesquisa com homens e mulheres de mais de 55 anos, matéria prima que transformou em Mistérios da libido… à venda apenas na versão digital, por 12 reais o exemplar. Leitura que recomendo.
Leia a entrevista:
Tania Celidonio, 66 anos, faz parte de uma geração que vivenciou incontáveis transformações nas relações interpessoais. Dentre os muitos desafios da época, ela engrossou a luta dos jovens para romperem comportamentos sociais, afetivos e, é claro, sexuais, além de muitos tabus e tradições familiares – tudo em plena ditadura militar.
De lá para cá, obviamente, tudo mudou. Mas quanto? Como a libido das moças e dos rapazes que viveram o auge da liberação sexual influenciou a vida adulta dessa turma, com cinco décadas de experiências a mais? As vivências passadas afetaram, positiva ou negativamente, o entendimento e a prática do sexo na maturidade?
Dúvidas como essas são exploradas no livro “Mistérios da libido na velhice”, lançado pela jornalista no ano passado (disponível apenas em versão digital, à venda na Amazon por R$ 12; assinantes do Kindle Unlimited podem baixá-lo gratuitamente). Trata-se de uma coletânea com as respostas que 250 homens e mulheres deram a 13 perguntas lançadas pela escritora. Todos os entrevistados têm mais de 55 anos.
A intenção inicial era levantar um “material humano” que rendesse crônicas, contos e até um romance. Mas os testemunhos se revelaram tão especiais – ora espontâneos, criativos, contundentes, ora pessimistas, angustiados, ressentidos –, que ela decidiu organizá-los e trazê-los à tona, jogando luz sobre um tema que não é tão abordado abertamente como deveria.
“Há lindos depoimentos. Tão tocantes que estou escrevendo um texto para o teatro com o material que recebi. Ainda não sei como vai ficar, mas acho que as experiências que recebi nesses relatos são muito ricas para ficarem limitadas à pesquisa que fiz”, opina.
Neste bate-papo com o portal do Instituto de Longevidade, ela conta um pouco sobre seu trabalho. Confira:
Já na introdução do livro, você pontua sobre o uso proposital da palavra “velhice”. Acredita que as pessoas evitam o termo ou têm alguma dificuldade em assumir essa fase da vida?
Assumir o envelhecimento, com os prós e contras, é muito difícil, principalmente para as mulheres, que desde sempre viveram sob pressão para tentar manter, a qualquer preço, a aparência jovem, esbelta e sexy. Assumir que estamos ficando velhos ou que somos velhos é admitir que atingimos a última etapa de nossa existência. Não gosto de usar terceira idade, nem melhor idade. Acho que quem tem 66 anos, como eu, sabe que não está na melhor idade. Já a palavra idoso é mais formal e, na minha opinião, apenas um jeitinho de não ter que pronunciar as palavras velho ou velha. Fomos crianças, adolescentes, adultos e agora somos velhos. É isso!”
Em sua opinião, falta falar mais do sexo na maturidade? Em um trecho você cita que o livro é uma “tentativa de tirar a velhice da invisibilidade e das sombras para discutir o sexo praticado e vivido por quem já entrou ou está quase lá, no inverno da vida”.
A epígrafe do livro é da Simone de Beauvoir e está no livro “A Velhice”, publicado em 1970. E até hoje, quase 50 anos depois, o que ela coloca ainda é superatual: Se os velhos manifestam os mesmos desejos, os mesmos sentimentos, as mesmas reivindicações que os jovens, eles escandalizam; neles, o amor, o ciúme parecem odiosos ou ridículos, a sexualidade repugnante, a violência irrisória. Devem dar o exemplo de todas as virtudes. Antes de tudo, exige-se deles a serenidade; afirma-se que possuem essa serenidade, o que autoriza o desinteresse por sua infelicidade. É como se nosso lugar no mundo fosse o da invisibilidade a partir de uma suposta serenidade. Mas não é nada assim. O amor, o tesão, a paixão, a angústia e o ciúme continuam a existir e podem incomodar e desestabilizar. É claro que pode haver mais serenidade, mas ficar velho não é estar ‘desplugado’ do mundo das sensações.
A maioria dos entrevistados tem uma visão positiva ou negativa sobre o sexo na velhice?
Acho que houve um equilíbrio interessante nas respostas – tanto dos homens como das mulheres: depoimentos muito negativos e outros muito positivos sobre o sexo na velhice. O interessante é que, mesmo quando falam sobre as dificuldades de manter uma ereção, no caso dos homens, e do ressecamento vaginal, no caso das mulheres, ambos descrevem descobertas de prazer em outras zonas erógenas do corpo. Menos prazer genital e mais brincadeiras com o corpo. Entre os que não fazem mais sexo, por falta de opção ou por falta de vontade (libido), há muitos exemplos”.
Pode citar alguns?
Uma mulher de 72 anos conta que transou com quem quis desde muito jovem, mas que há dez anos parou de sentir vontade de fazer sexo e hoje curtiria mesmo é ser amiga de mais homens. Há mulheres de 70 anos que estão casadas e fazem sexo com seus maridos. Com menos frequência, mas com muito prazer, segundo elas. Entre os homens, há os que pararam de fazer sexo porque se sentem invisíveis. Sempre preferiram mulheres mais jovens, mas dizem que agora só atraem as mais velhas e essa possibilidade, pra eles, está fora de questão.
Também há muitas mulheres solteiras que adorariam ter um parceiro casual, mas não conseguem. Uma outra, no entanto, citou os sites de relacionamento tipo Tinder e disse que lá é possível arrumar parceiros para fazer sexo sem nenhuma dificuldade”.
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O que mais te surpreendeu dentre as respostas obtidas, ou seja, algo que realmente não esperava?
Poucos homens manifestaram interesse em pagar por sexo a essa altura da vida, e várias mulheres comentam sobre o medo de procurar homens mais jovens. Medo do preconceito, medo de ser explorada.
Também me chamou a atenção o fato de muitas mulheres declararem que preferem se masturbar, ter prazer sozinhas. Uma das mulheres que respondeu a pesquisa escreveu simplesmente que “não existe liberação sexual para as mulheres pobres”. Acho que por essa eu não esperava. Talvez na vida real eu entenda que pode ser exatamente assim por conta do machismo, mas não pensei que fosse receber um depoimento tão direto, tão “na lata”. Clique aqui para ler mais.