Maya Santana, 50emais
São mulheres livres. Senhoras de si, no melhor sentido da expressão. Mulheres que não querem mais esconder as consequências da passagem do tempo, principalmente nos cabelos. Por isso, decidiram parar de pintar a cabeleira. Agora, estão livres das tintas. Fazem, assim, opção pela praticidade, pela liberdade, abandono do padrão estético imposto à mulher até agora. Vale a pena conhecer a história delas, nesta reportagem de Talita Duvanel, de O Globo.
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Não espere ver o trio da foto ao lado sentado numa cadeira de salão de beleza, exalando tédio ou espumando papo furado ao esperar as intermináveis horas que levam uma tinta de cabelo fazer efeito. Imagine, sim, encontrar a designer de acessórios Claudia Savelli, de 53 anos, a economista Roberta Vairolatti, de 64, e a arquiteta Regina Sá, de 70, fazendo um corte moderno, com, no máximo, uma hidratação, porque a opção de vida dessas três mulheres — e de tantas outras que têm se libertado das amarras de padrões estéticos — é usar o tempo de vida para ser feliz e livre.
Tanto elas, quanto as famosas das fotos dessas páginas, não têm vergonha de assumir, no cabelo ou na pele, a passagem do tempo e se sentem dispostas a encarar o escrutínio público que se tornou o envelhecimento em tempos de redes sociais dominadas por millenials .
“Muita gente falou: ‘Mas você vai parar de pintar mesmo? Envelhece tanto’”, conta Regina Sá, que tomou a decisão aos 58. “Quem é que não envelhece? A idade e o tempo são inexoráveis. Acho uma libertação, não só pelo lado prático. De que adianta ficar lutando por tantas posições e ficar presa a esse tipo de coisa?”, questiona.
Essa abordagem em relação à idade, que começou nas mulheres de carne e osso, está chegando aos bam-bam-bam da indústria e da mídia. Mais do que adequar-se a um modismo, é uma necessidade. Para se ter ideia, segundo a agência de pesquisa Euromonitor, o segmento de coloração no Brasil teve uma queda de 2,4% entre 2013 e 2018.
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A revista americana “Allure”, considerada a Bíblia de beleza, baniu o termo anti-idade de suas matérias. No último ano, a L’Oréal colocou suas embaixadoras mais velhas, Helen Mirren, de 73, e Jane Fonda, de 81, para gastar sola de sapato em um monte de eventos, campanhas e editoriais, tudo para chamar atenção das consumidoras da mesma faixa etária, que, geralmente, não se reconhecem na publicidade.
“As baby boomers (mulheres nascidas entre 1946 e 1964, que, segundo o IBGE, corresponde a 17,4 milhões da população brasileira) , que queimaram sutiã, chegaram à maturidade ressignificando o envelhecimento”, explica Bete Marin, publicitária e cofundadora da agência Hype 60+, de São Paulo, especializada em marketing para o público sênior. “Isso tem impacto no consumo de beleza. Não tem nada a ver com desleixo, é simplesmente aceitar a passagem do tempo. A pele é bem cuidada, o cabelo, também, mas para que tanta química?”
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É nessa toada do “menos é mais” que vivem Claudia Savelli e Roberta Vairolatti. A primeira é da turma do filtro solar e do hidratante; Roberta, também, abrindo uma exceção para um botox bem leve feito anos atrás. “Pedi que fosse algo para eu parecer descansada, nada muito carregado. Não gosto de radicalismos. Conheço filhas de amigas que, com 20 e poucos anos, estão fazendo tantos procedimentos que estão parecidas com Tutancâmon”, brinca a economista.
Essa preservação forçada da juventude, que baliza atitudes e escolhas de mulheres de todas as idades, é algo bastante recorrente na América Latina e em menor proporção na Europa e nos Estados Unidos. Bete Marin tem explicações para essa diferença: “Além de a cultura latina ligar beleza à juventude e à magreza, existe o fato de que o envelhecimento da nossa população está acontecendo de maneira mais rápida do que nos países desenvolvidos”.
Roberta concorda que a sociedade privilegia a juventude. “Ter cabelo branco, por exemplo, deixa as mulheres inseguras, pensando que vão achá-las velhas. Tem gente que não fala nem idade, não é mesmo?”, diz. “Mas eu também quero ficar bem. Essa liberdade de não passar tinta é interna, é entender que estou numa nova fase da vida e que posso ser feliz e bonita nela também.”
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Felicidade e liberdade são algumas das palavras mais citadas pelas mulheres dessa geração, de acordo com relatório de uma pesquisa conduzida pela Hype 60+. “Elas estão numa fase em que já educaram os filhos e estabeleceram carreiras. Estão num momento de liberdade e de busca da felicidade. Isso significa dar um tchau aos padrões de beleza muito perversos”, analisa Bete.
É o que fez Claudia, a mais jovem da página anterior. Cabelo branco, para ela, é sinal de respeito a si própria. “Eles me dão até uma força de aceitação”, diz. “A liberdade tem que existir em todas as opções, de querer ou não fazer alguma coisa para se sentir bem consigo mesma. Mas aí a pessoa tem que perceber se está escolhendo livremente ou se está se sentindo sem saída.”
Já parou para pensar qual é o seu caso?
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