Elisa Santana, 50emais
Conheci o trabalho da atriz Ruth de Souza nos idos dos anos 70, mais precisamente em 72 – eu uma adolescente, ela uma senhora de mais de seus 50 anos – pela televisão, quando tomei gosto por novelas assistindo o Bem amado, de Dias Gomes. Não tive o privilégio de vê-la trabalhando no teatro. Pena.
Hoje me deparei com sua biografia e me pus a pensar na história de uma mulher negra, nascida 33 anos depois de “abolida a escravidão”, que seguiu a carreira de atriz por mais de 60 anos, em um país racista, machista, misógino e com o conceito de que o sinônimo de atriz, era puta.
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Imaginem isto há 80 anos. Se até hoje o bicho pega, imaginem na época desta mulher negra, que conseguiu na década de 40 sair do Brasil com uma bolsa para estudar teatro pela Fundação Rockefeller, na universidade de Howard, em Washington, e na Academia Nacional do Teatro Americano, em Nova York.
Foi a primeira atriz a ser indicada ao prêmio Leão de Ouro, em Veneza, no ano de 1954. Fez inúmeros trabalhos no cinema e na televisão. Ela chamava isto de sorte, tal a situação dos negros no “Brasil de sempre”.
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Eu acredito na luta pelo ser, pela liberdade do/de ser, pelo amor à profissão…Ruth, aos 98 anos, se vai, porque o trabalho dela foi feito. Ser feliz fazendo o que gosta, ser livre pra ser o que se é, ser companheira e abridora de caminhos aqui na terra para que muitos mais pretos possam saber que valem e que também podem.
Lá se foi a primeira dama do teatro dos pretos! Vá com Deus, Ruth, que do outro lado a festa de sua espera já começou!
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