Maya Santana, 50emais
Uma boa reflexão de Mórris Litvak, fundador e CEO da MaturiJobs, para o Estadão, sobre como o mercado de trabalho é mais cruel com a mulher, quando ela passa dos 50 anos, do que com o homem. A conclusão do autor do artigo é que, embora viva mais que o homem, ela sofre com o preconceito etário nas empresas “mais cedo do que os homens.” É preciso dizer que o mercado alimenta um preconceito contra a pessoa mais velha em geral, mas a mulher é mais afetada por esse preconceito .
” Precisamos urgentemente debater o preconceito etário não só no mercado de trabalho, mas em nossa sociedade como um todo, e parte disso deriva de uma cultura em que o padrão de beleza jovem é cultuado e muito valorizado, o que faz com que os mais velhos pareçam visualmente obsoletos, especialmente as mulheres,” diz o autor do artigo.
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Na onda do aplicativo que fez sucesso nas redes sociais ao envelhecer o rosto das pessoas, reparei em minhas redes que os homens compartilharam muito mais essas fotos do que as mulheres. Ao perguntar a amigas e familiares, algumas disseram que ficaram horrorizadas com sua foto envelhecida. Outras simplesmente se negaram a entrar na brincadeira.
Com o avanço da expectativa de vida cada vez mais rápido e a longevidade cada vez maior, principalmente entre as mulheres – a expectativa de vida delas ao nascer chegou a 80 anos em 2019, segundo o IBGE -, seria de se esperar que elas continuassem no mercado de trabalho também por mais tempo. Mas o que acontece é justamente o contrário: as mulheres sofrem com o preconceito etário nas corporações mais cedo do que os homens.
A professora do departamento de Administração Geral e Recursos Humanos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Maria José Tonelli diz que os preconceitos em relação à idade e à raça são maximizados quando se trata de profissionais do sexo feminino.
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Essa tese foi confirmada em pesquisa realizada no ano passado pela MaturiJobs em parceria com a NOZ Pesquisa e Inteligência, onde mais de mil pessoas responderam sobre sua vontade de empreender após os 50 anos e 65% dos respondentes eram mulheres. Com uma média de 58 anos, 48% confirmam que já passaram por alguma situação profissional em que houve discriminação por conta de sua idade.
Uma das respondentes disse: “Com 56 anos, tenho enviado CV’s há um ano e ninguém chama. Muitas empresas começam o questionário online perguntando a idade. Já houve quem dissesse que não se sente confortável tendo como parte da equipe alguém mais velho do que o próprio gestor. É muito preconceito com o fator idade. O sexo feminino é o segundo fator de preconceito.”
Essa pesquisa mostrou que há grande interesse dos 50+ em empreender, porém principalmente em função da falta de oportunidades no mercado de trabalho.
Em 2015, um estudo do Escritório Nacional de Pesquisas Econômicas dos EUA encontrou fortes evidências de discriminação etária na contratação de candidatas mulheres. As conclusões sugerem que a discriminação por idade é um problema especialmente feminino.
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Eu mesmo tenho ouvido com frequência cada vez maior mulheres falando sobre essa dificuldade e muitas já desistiram de buscar um emprego. Elas contam que com 40 anos já estavam velhas para o mercado de trabalho.
Como pode isso, se dizem que “os 50 são os novos 30”? E, afinal, quem ousa chamar uma pessoa de 50 anos de velha hoje em dia? Aparentemente, o mercado de trabalho.
Os jovens profissionais que trabalham no departamento de recursos humanos das empresas têm de tomar consciência de seu importante papel em abrir espaço para as mulheres maduras e para os candidatos 50+ em geral.
Ao mesmo tempo, segundo um artigo do ano passado da Wharton School of the University of Pennsylvania, as mulheres mais velhas podem ser o segredo para impulsionar a economia dos EUA nas próximas décadas, garantir participação massiva dessas mulheres mais maduras depende de ofertas de emprego que satisfaçam condições por elas exigidas.
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Por exemplo, para algumas delas, a maximização da renda não é o principal objetivo. Muitas têm altos níveis educacionais. E com a responsabilidade reduzida de cuidar dos filhos, agora que eles cresceram, elas estão prontas para assumir ou continuar tendo um emprego, mas não em qualquer trabalho. Para elas, uma forma de trabalho que ofereçaflexibilidade num ambiente envolvente pode representar uma alternativa mais atraente do que a aposentadoria definitiva.
Dos mais de 90 mil cadastrados em nossa plataforma de oportunidades para pessoas 50+, as mulheres representam 50,5%, porém nos cursos, eventos e workshops que realizamos, elas são sempre no mínimo 70% do público. Ou seja, as mulheres são muito mais proativas a buscar atualização, fazer networking e encontrar alternativas para não ficar paradas.
Tenho reparado que os homens se fecham mais quando saem do mercado de trabalho após os 50 anos, têm mais dificuldade com a perda de status e do sobrenome corporativo, mas são em maior número quando falamos de tecnologia ou startups nesses eventos. Já quando o tema é autoconhecimento, fundamental para quem está nesta fase da vida e em transição de carreira, os homens praticamente não aparecem.
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Precisamos urgentemente debater o preconceito etário não só no mercado de trabalho, mas em nossa sociedade como um todo, e parte disso deriva de uma cultura em que o padrão de beleza jovem é cultuado e muito valorizado, o que faz com que os mais velhos pareçam visualmente obsoletos, especialmente as mulheres.
Se as mulheres são mais da metade da população no Brasil e mesmo as jovens, com sorte, também envelhecerão (independentemente de raça, orientação sexual ou condição social), o que falta para tomarmos consciência e começarmos a mudar esse cenário em nosso país?
* Mórris Litvak é fundador e CEO da MaturiJobs e da MaturiServices (plataformas de recolocação e desenvolvimento profissional para pessoas 50+), graduado e pós-graduado em engenharia de software pela FIAP de São Paulo (morris@maturijobs.com).
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