Maya Santana, 50emais
Uma crônica delicada e brutal, ao mesmo tempo, publicada por Betise Head em seu blog – elementarmeuscaros.com . Criado recentemente, o Elementar… traz histórias intrigantes de, como ela mesma define, “uma expatriada flanando nesta terra de excêntricos há 32 anos.” Betise mora em Londres e partiu de um caso com desfecho trágico entre dois ingleses – de idades muito diferentes, envolvidos sexualmente – para contar a história de uma antiga professora, que ela nunca esqueceu . A crônica realça a fragilidade da pessoa mais velha quando enlaçada pelo que acredita ser o amor de alguém mais jovem.
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Inspirada na história de Peter Farquhar e Benjamin Field, ou melhor no choque que me causou, na perplexidade em que fiquei e na saudade que me deu da maravilhosa professora de português, Marinete Veloso, sentei e escrevi esta crônica. Mudei nome, sexo, nacionalidade e me baseei em depoimentos de ex-alunos e amigos de Peter Farquhar.
Carminha era uma daquelas professoras de quem os alunos tem saudades. Inspiradora. Ela amava a língua portuguesa e a literatura de uma maneira geral, mas, particularmente, a brasileira. Lia de tudo com o mesmo entusiasmo e interesse: romances, novelas, autobiografias, depoimentos históricos, poemas.
Em suas aulas, passava longo tempo discutindo linha por linha de uma poesia, procurando significados ocultos. E a classe inteira se envolvia. Imaginava as emoções do poeta, palpitava com o ardor dos sentimentos, se emocionava com a sensibilidade perfeita na escolha das palavras. E, assim, Carminha incutia em cada aluno a mesma paixão pela literatura.
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Pelos corredores do colégio, era parada constantemente por observações afetivas e sorrisos largos de alunos ora entusiasmados, ora agradecidos. E sempre fascinados com esta capacidade da Professora Carminha de … como poderiam explicar? De… não parecer uma professora. De provocar uma antecipação deliciosa ‘a sua próxima aula, uma vontade louca de se inteirar do programa de estudos só para poder deixá-la feliz. E ver aquele sorriso exultante iluminando a classe.
E, entre seus colegas de trabalho, não era diferente. Sua candura no tratar as pessoas era inigualável e seu entusiasmo pelo ensino, contagiante. “Como é que ela conseguia tantos elogios de pais e alunos?” se perguntavam. Muitos dos pais – hoje escritores, jornalistas, publicitários, dramaturgos e professores- tinham sido alunos da Carminha. Escolheram o colégio quase que só por causa dela. Era amiga de muitos ex-alunos.
Emocionalmente, porém, era uma mulher solitária. Homossexual e profundamente religiosa, Carminha acreditava haver um conflito nisto. Vivia uma vida celibatária e era atormentada por isto. Foi quando decidiu alugar um quarto de sua casa ‘a jovem Marina. Altamente inteligente e articulada, a moça do interior do Estado compartilhava com Carminha o mesmo fascínio pela palavra escrita.. Apesar das 4 décadas que as separavam, era fácil entender a energia que as atraíam.
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Carminha acreditava ter encontrado, aos 69 anos, uma mulher que a amava. Marina a transformou. Eram inseparáveis. Passavam horas em livrarias, conversando sobre as últimas publicações, debatendo as razões para a premiação deste livro e não daquele. Em seu diário, no dia em que se casaram, Carminha anotou: “ Nunca fui tão feliz na minha vida. Lá se foi o medo de morrer sozinha”.
““Cruel, calculista, manipuladora, enganadora. Marina tinha um profundo fascínio em controlar, humilhar e matar”, relatou o principal investigador ‘a imprensa presente na corte quando Marina foi condenada pelo assassinato de Carminha. A intoxicação amorosa transformou em envenenamento por drogas e álcool. E, no final, asfixiamento.