Esta reportagem de Mariana Coutinho, do portal G1, não explica a razão de as mulheres estarem se casando mais tarde. Talvez seja só questão de bom senso. O fato é que os casamentos de mulheres com menos de 24 anos diminuíram e os de mulheres com mais de 50 anos cresceram nos últimos 10 anos. “Seja uma celebração tardia, um segundo enlace ou um primeiro amor que chegou mais tarde, o casamento nessa faixa etária está cada vez mais comum”, diz a reportagem. A cerimonialista Lilian Noel confirma a tendência e dá a sua opinião: “Os casamentos nessa faixa etária às vezes são até mais emocionantes, porque envolvem filhos e netos na cerimônia.”
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O vestido será branco e longo, como ela sempre quis, e cada detalhe está sendo pensado há meses. O momento mais esperado é a entrada das alianças, trazidas por sua neta, Manoela, de apenas 5 meses. Aos 54 anos, a assistente social, enfim, vai celebrar e formalizar o compromisso com Aldo Oliveira, de 55, com quem divide a vida há quase três décadas e tem dois filhos, de 20 e 24 anos. Como ela, cada vez mais brasileiras maduras estão casando. E com tudo a que têm direito.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, de 2007 a 2017, o número de mulheres com mais de 50 anos que se casam formalmente quase dobrou . Em 2007, elas equivaliam a 3,3% das noivas. Dez anos depois, correspondem a 5,9%. A pesquisa, baseada nos registros civis, mostra também que a brasileira está subindo ao altar mais tarde, com aumento de casamentos entre os 25 e os 34 anos e queda no número de noivas abaixo dos 24.
Seja uma celebração tardia, um segundo enlace ou um primeiro amor que chegou mais tarde, o casamento nessa faixa etária está cada vez mais comum. A cerimonialista Lilian Noel, que organiza o casamento de Luisa e Aldo, conta que tem recebido mais demandas de noivas e noivos 50+. “A maioria quer fazer algo mais simples, às vezes só no civil e com um almoço”, explica. No entanto, há casos como o de Luisa, de noivas que querem realizar um sonho antigo: “Acho muito importante quebrarmos esse tabu de que não se pode fazer festa depois de certa idade. Os casamentos nessa faixa etária às vezes são até mais emocionantes, porque envolvem filhos e netos na cerimônia”, opina Lilian.
Luisa, que se casa em novembro, diz que a ideia partiu dela: “Meu noivo preferia fazer uma viagem. Mas eu quis fazer a festa. Quando fomos morar juntos, lá nos anos 1990, não tínhamos dinheiro para fazer uma comemoração. Agora, com os filhos crescidos, nos animamos, e finalmente pudemos celebrar o nosso amor”, conta. O casamento será em clima campestre, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, e os noivos não abriram mão de todos os detalhes das cerimônias tradicionais. Quanto a preconceitos com a idade, Luisa diz não ter problemas: “Meus filhos adoraram a ideia! Acho que não tem idade limite para isso. Estamos fazendo tudo ao nosso gosto. Eu não quis usar véu, por exemplo, mas fiz um vestido bem de noiva e com meu estilo. As noivas mais velhas também podem ser gatas”, brinca.
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O cabeleireiro e maquiador Nino Wenschutz, da empresa Necessaire Fashion , especializada em casamentos, concorda. Ele conta que as noivas mais velhas geralmente pedem maquiagens menos pesadas nos olhos, mas abusam dos batons em tons de bordô e vermelho. “Usamos os mesmos produtos, mas o olhar para essas noivas é especial. Tomamos cuidado para suavizar rugas e marcas de expressão e ver o que funciona para cada uma. Elas geralmente têm resistência em usar cílios postiços, mas se surpreendem com o resultado”, comenta. Quanto aos penteados, Nino diz que é comum o cabelo mais curto ou preso, mas isso também não é regra.
A atriz Débora Olivieri também não abriu mão de uma festa depois que encontrou o seu “gringo”, como gosta de se referir ao marido, o diretor de sistemas holandês Ruud Dankers, de 65 anos. Débora se casou pela segunda vez, três anos atrás, aos 58, com a bênção das filhas. O vestido em renda off-white foi confeccionado para ela por sugestão da irmã: “Nem imaginava me casar. Tinha escolhido um modelo mais simples, mas minha irmã disse: ‘Você é a noiva, é a dona da festa, tem que ser especial!’. Inclusive, é engraçado, porque quando me casei com 26 anos, usei uma roupa lilás e roxa e agora, aos 60, usei vestido de noiva mesmo”, conta.
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Débora redescobriu o amor depois de 15 anos solteira: “Eu vivia bem sozinha, era livre e feliz. Mas agora é ainda melhor. É uma história engraçada: nós nos conhecemos no Tinder. Minha filha insistiu que eu baixasse o aplicativo como uma brincadeira durante uma festa de ano-novo. Dias depois, eu abri o celular e lá estava ele! Conversamos, marcamos um jantar e nos apaixonamos”, lembra. Ruud era viúvo e visitava o Rio com frequência por ter despejado as cinzas de sua primeira mulher no Jardim Botânico. Mal sabia ele que encontraria um novo amor na cidade.
Depois de dois anos namorando, Débora e o holandês resolveram oficializar a relação: “Ele é muito romântico: pediu a minha mão durante o casamento da minha filha, e fez questão de marcar a nossa cerimônia no mesmo dia em que nos conhecemos”. O casal se divide entre Brasil e Holanda nos períodos em que Débora grava novelas na Rede Globo. Ela estará na próxima trama das sete, “Salve-se quem puder”. Às mulheres mais velhas que pensam em se casar, a atriz aconselha: “É a sua oportunidade de ser feliz, se solte, experimente! E não pense no que os outros vão falar. Para mim, foi muito emocionante ver minhas filhas na minha celebração. Foi algo inesperado e maravilhoso!”.
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O estilista curitibano Edson Eddel, conhecido por seus vestidos de festa, ressalta que quem deve ser agradada nesse momento é a noiva: “Falo que não tem certo ou errado. Ela tem que se sentir bem e vestir o que quiser”, opina. Por receber uma demanda maior de clientes mais velhas, Edson criou, em 2014, uma coleção pensada especialmente para as 50+. “Gosto de fazer vestidos não convencionais. Não trabalho muito com renda, por exemplo. Quando a noiva é mais velha, tento mostrar o que ela tem de mais bonito e esconder o que tem que esconder”, explica.
Em sua coleção, os vestidos são todos brancos, mas os modelos variam entre curtos, longos, com e sem cauda e com decotes variados. No entanto, Edson não considera que há uma regra de cor. Um dos vestidos que mais gostou de fazer era vermelho. Ele foi usado por Ildete Freitas, que se casou em julho deste ano, aos 70 anos, em um castelo em Colombo, região metropolitana de Curitiba. “Cheguei a provar vários modelos brancos e beges, mas vermelho sempre foi minha cor favorita, então resolvi investir nela”, diz a noiva, que abriu mão de véu, mas usou uma longa capa.
Ela conheceu seu marido, Cesar Caetano, de 55 anos, pela internet: “Eu estava viúva e ele também. Esse é meu terceiro casamento. Nos outros dois, não fiz nenhum tipo de festa, então dessa vez quis fazer tudo. Tem a questão de ele ser mais novo também. Mas isso não foi um problema para ninguém. Acredito que amor não tem idade”, comenta. Ildete tem três filhos e três netos.
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Ela foi levada ao altar pelo filho mais novo, vestido com uniforme da Marinha, e o neto de 4 anos entrou com as alianças. A noiva fez questão de escolher cada detalhe do casamento e contratou até um cover de seu cantor favorito, Elvis Presley, para animar a festa. “Foi perfeito! Tudo como sempre sonhei!”, avalia.