Eu tive a alegria de conhecer as três em um evento do qual participei em São Paulo, em setembro do ano passado, quando o novo coronavírus ainda não havia dado as caras, e era possível reunir 200 pessoas em um auditório. Fomos lá para um encontro de trabalho. Já conhecia Sonia, Gilda e Helena através do canal que mantêm no youtube. E fiquei encantada com aquelas senhoras simples, cheias de humor, que se lançaram nessa aventura deliciosa chamada Avós da Razão, um trocadilho bem pensado, que deu às três sucesso e dinheiro depois dos 70 anos.
Leia a reportagem de Sônia Racy para o Estadão:
Aos 91 anos, Helena Wiechmann, está feliz. “Com a nossa idade, nesse tempo de pandemia, estamos conseguindo trabalho. Devemos ser um fenômeno mundial”. Junto com às amigas Gilda Bandeira de Mello, 78, e Sonia Bonetti, 84, Helena criou em 2018 o Avós da Razão – canal no YouTube onde as três respondem perguntas de internautas, dão conselhos e opiniões sobre diversos temas. Com muito humor e irreverência, o trio tornou-se sucesso nas redes sociais. Fazem postagens, lives, dão palestras…
Empresas enxergam nelas uma forma de falar com seus públicos. Bradesco, Arezzo, Emel e Boticário são algumas delas. Helena, a mais velha das três, falou à coluna de seu apartamento em Pinheiros – onde passa, sozinha, a quarentena. Veja principais trechos.
Como surgiu a ideia do Avós da Razão?
Nós sempre nos encontrávamos em botecos para tomar nosso uísque, conversar e dar risada. A nora de uma de nós três sugeriu que fizéssemos um canal para continuar essa conversa em público. Não é que deu certo? Temos vários seguidores no YouTube e no Instagram. São pessoas de todas as idades, entre eles muito jovens.
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Mas que tipo de pergunta fazem?
Olha, tem de tudo. Os jovens têm curiosidade em saber como eram as coisas na nossa época de juventude, outros nos perguntam sobre sexo, sobre como é envelhecer.
Por exemplo?
Um deles nos perguntou se nós ‘dávamos’ no primeiro encontro. Respondi, eu dei e fiquei com ele até ele morrer. Sempre fui assim, sem preconceitos, nunca dei bola para formalidades, separações, homossexualidade, se a moça era dadeira. Nada disso tem a menor importância.
Você já tinha trabalhado antes?
Fui educada para casar, em Bebedouro, no interior do Estado. Mas meu sonho era vir para São Paulo. Quando cheguei aqui, em 1950, me hospedei com uma prima que tinha cinco filhos. Uma amiga me disse ‘procura algum trabalho nos anúncios classificados do Estadão’ e lá encontrei meu primeiro emprego, numa importadora de livros técnicos e científicos. Conheci muita gente interessante. Depois trabalhei numa publicação chamada Quem é Quem no Brasil onde fazia entrevistas. Entrevistei Lasar Segall, Paulo Vanzolini e muitos outros. Depois fiquei anos na Vera Cruz, produtora de cinema. Mais tarde me casei e fiquei cuidando de filhos. Mas continuava a trabalhar com traduções.
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Como acha que o Avós da Razão contribui para mudar a imagem dos idosos?
Os velhos costumam ficar muito isolados. Talvez um pouco por culpa deles que se acomodam e quase não saem de casa. Isso acaba trazendo muita solidão. Então acho que se mostramos que podemos nos divertir, que somos informadas sobre o mundo atual, é prova de que temos muito a oferecer. E se nós podemos é porque os outros velhos também podem. Temos que tirar os velhos da cristaleira. (risos).
Como é a relação de vocês com a tecnologia, já que estão nas redes sociais?
Eu não entendo nada disso. Acredita que ganhei o meu primeiro celular de amigas que não me informaram que precisava carregar? Daí quando parou de funcionar, eu o joguei fora!
E que conselho dá sobre o futuro?
Olha, não tem jeito. O que digo é ‘continua a viver para ver o que acontece’. Tenho pensado no que um amigo me falou. Ele estava preocupado porque não queria ir para o céu. Achava que não ia ter nenhum amigo lá. Isso me fez concordar. Também não quero. O que vou fazer lá? Não deve ter graça nenhuma.
Veja elas aqui, falando de quarentena:
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