Já escrevi isso aqui. Sempre que me perguntam se tivesse que dar um conselho, apenas um, às pessoas mais jovens, eu diria: planeje a sua aposentadoria. Não só em termos financeiros, mas o que você vai fazer quando deixar de trabalhar e o tempo for todo seu. Como estamos vivendo cada vez mais, a gente se aposenta e ainda tem muitos anos de vida pela frente. E é fundamental ter planos, saber o fazer para preencher esse tempo de maneira saudável, satisfatória.
Leia a ótima reportagem de Marcia Di Domenico para o Uol:
A transição da vida profissional ativa para a aposentadoria é um momento marcado por emoções e expectativas conflitantes para muita gente. Se por um lado a entrada na nova fase traz sensação de missão cumprida, libertação de algumas obrigações e satisfação por finalmente ter tempo para fazer o que gosta, por outro pode vir carregada de angústias.
Com as mudanças na rotina e a quebra do círculo de relacionamentos ligados ao trabalho, o excesso de tempo livre pode resultar em uma sensação de vazio capaz de afetar o bem-estar psicológico e até a saúde física dos mais velhos.
Um levantamento de 2013 do Institute of Economic Affairs, no Reino Unido, demonstrou que a transição para a aposentadoria eleva em 40% o risco de desenvolver depressão e em até 60% o de ficar fisicamente doente. No Brasil, não há pesquisas que comprovem o impacto que se aposentar tem sobre a saúde mental, embora muitos especialistas garantam que ele existe mais ou menos na mesma proporção.
Com o aumento da expectativa de vida, os brasileiros devem estar preparados para viver pelo menos mais 22 anos quando chegarem aos 60, de acordo com as estimativas do IBGE. Saber o que fazer com tanto tempo disponível pode ser um desafio que homens e mulheres tendem a viver de modo diferente.
“Elas tendem a sentir menos o impacto negativo do rompimento com a rotina de trabalho por estarem acostumadas a se dividir em vários papéis ao longo da vida, além de se interessarem mais por se conhecer e se cuidar”, fala Candice Pomi, psicóloga com especialização em gerontologia pelo Hospital Albert Einstein e mentora em longevidade.
Foco nas habilidades e interesses
Planejar como se deseja desfrutar os anos pós-aposentadoria não é uma questão apenas de pensar em como ocupar o tempo, dizem os especialistas, mas de que forma fazer isso aproveitando as capacidades que desenvolveu ao longo da vida e pensando naquilo que traz prazer e realização.
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“Quando demandas externas como trabalho e criação de filhos já não consomem a maior parte da rotina, é importante buscar dentro de si coisas que deem sentido à vida. Quem consegue fazer isso tende a envelhecer melhor”, sugere Ana Maria Caramujo Pires de Campos, professora do curso de psicologia da Escola de Ciências da Saúde da FMU.
“Fazer planos, definir metas para realizá-los e participar de cada etapa até a concretização é uma forma de ocupar o tempo agora com algo que vai trazer satisfação mais adiante”, comenta Irani Argimon, psicóloga e professora da pós-graduação em gerontologia biomédica da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul). Pode ser planejar uma viagem, fazer uma reforma em casa, iniciar um negócio, não importa.
Parar de trabalhar, aliás, é cada vez menos uma escolha de quem passa dos 60 anos, seja por necessidade de complementar a renda, seja por ter disposição para se manter ativo e querer tocar um projeto pessoal ou tentar uma nova carreira. Mas há outras formas de preencher os dias quando se tem mais tempo do que obrigações.
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Cuidar dos relacionamentos
Uma vida social e familiar feliz tem efeito protetor na saúde física e mental, enquanto a solidão é um fator prejudicial —pessoas que vivem sozinhas tendem a se cuidar menos e apresentar níveis mais altos de estresse e inflamação no organismo, além de mais risco de desenvolver doenças cardíacas e demência. Ainda assim, é comum priorizar as obrigações do dia a dia e deixar as pessoas para depois.
Em meio às recomendações de distanciamento social, é especialmente importante manter-se conectado com filhos, netos e amigos de forma virtual. Pense em criar horários fixos na semana para conversarem, o que pode ser positivo tanto para ajudar a compor uma rotina de hábitos saudáveis como para não deixar o vínculo se perder. Clique aqui para ler mais.
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