Muito bom este trecho da crônica mais recente de Nelson Motta, tecendo considerações sobre o seu envelhecimento e sobre como se vê no caminho do envelhecimento. Aos 76 anos, o jornalista, escritor, compositor e apresentador de TV, que teve entre suas mulheres Marília Pera e Costanza Pascolato, aconselha um amigo que acabou de completar 50 anos e está preocupado com a idade, a viver a vida com “paciência, humildade e entrega”. E receita: “É melhor encarar os aniversários como uma comemoração por estar vivo e por sua história de ganhos e perdas, conquistas e frustrações.”
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Meu caro amigo e fotógrafo consagrado Leo Aversa tambem se revelou excelente cronista, capaz de trazer leveza, humor e esperança com seus relatos do cotidiano. Por isso me surpreendi com ele meio chateado de fazer 50 anos e assustado com a passagem rápida do tempo. Com 76, quase me senti ofendido rsrs.
Calma, garoto, você já fez e ainda vai fazer muito, não é verdade que aos 50 começa a decadência irreversível. Do corpo, é natural, é o desgaste da máquina, que tem que ser bem cuidada; mas da cabeça, que comanda o corpo, a tendência é melhorar com a experiência e os erros. Claro, cada pessoa é um mundo e cada idade é uma história que não se repete, o jeito é vivê-las com a maior intensidade possível, com “paciência, humildade e entrega”, como dizia um grande mestre zen.
Como ensina a mestra da moda Costanza Pascolato, “elegância é adequação” ao ambiente, à situação, ao horário, mas vale para tudo na vida, especialmente a idade, nada mais patético que coroa metido a broto. Mas a inteligência, a jovialidade, a simpatia e o humor não têm idade. Nada envelhece mais do que reclamar da vida e cultivar nostalgia por tempos que não voltam. Nada mais chato que velho ranzinza, teimoso e malcriado. É papo furado que, como o vinho, quanto mais velho, melhor. Às vezes azeda, às vezes amarga. Quantos realmente melhoram o sabor da sabedoria e do estilo com a idade?
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Outro mestre, da psicanálise, Jacques Lacan, ensinou que o tempo que vale não é o do relógio nem do calendário, o cronológico, mas a medida da intensidade, o “tempo lógico”. Faz muita diferença nessas avaliações do tempo passado, e especialmente do perdido. Como aproveitá-lo melhor.
E o gênio Jorge Luis Borges escreveu: “A velhice pode ser o nosso tempo de ventura. O animal está morto. Ou quase morto. Restam o homem e a alma”. Nelson Rodrigues aconselhava os jovens: “Envelheçam logo.”
É melhor encarar os aniversários como uma comemoração por estar vivo e por sua história de ganhos e perdas, conquistas e frustrações. E agradecer por tudo. Até pelas coisas ruins, que valorizam as boas e renovam valores.
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Uma consequência da velhice é que, pelo acumulo de perdas, valoriza-se mais a vida e aceita-se melhor a sua precariedade e finitude vivendo cada dia. Êpa! Isso está parecendo autoajuda para idosos, kkkkk, tô fora.
Sensacional.