50emais
Eu considero Andrea Beltrão um espetáculo por si só. Excelente atriz, engraçada, inteligente, criativa. Tudo isso está refletido nesta entrevista que ela deu a Silvia Ruiz, do blog Ageless, publicado pelo Uol. No momento, aos 58 anos, Andréa interpreta uma modelo e gera muita polêmica com seu personagem. Como toda mulher que passou dos 50, começa a sentir o preconceito contra a idade, que ela, claro, abomina. “Acho que a gente tem que questionar: qual é o problema de envelhecer?” Pergunta. Dando a sua própria explicação para o problema: “O ser humano é o único animal que tem consciência da sua finitude. O nosso dilema é viver sem medo, sabendo que há um fim.”
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Qual a menina que viveu a adolescência nos anos 80 e não sonhou um dia ser a Zelda Scott, personagem vivida por Andréa Beltrão na série icônica Armação Ilimitada? Uma repórter idealista, descolada e que ainda por cima namorava dois surfistas gatos ao mesmo tempo (ironicamente, hoje seria considerado um escândalo na TV). Mais de 30 anos depois, Andrea está de volta às novelas com uma personagem que está dando o que falar, principalmente entre nós, aquelas mesmas adolescentes dos anos 80.
Aos 58 anos, ela vive Rebeca, em Um Lugar ao Sol, uma uma ex-modelo às voltas com o envelhecimento, a menopausa, o prazer na maturidade, e que se redescobre como mulher ao se apaixonar por um homem bem mais novo (Gabriel Leone). Com direito a quebrar a internet com uma cena de masturbação. A interpretação da atriz é tão real e verdadeira, que é impossível a gente que está com 50 e poucos anos não se identificar com as questões vividas pela personagem.
“Está sendo maravilhoso ver a Rebeca na dramaturgia da TV, que tem esse poder de criar uma provocação diária. Essa é uma demanda das mulheres dessa geração, que estavam procurando um alto-falante. A Licia Manzo é supercontemporânea, ela sabe que socialmente muitas mulheres estavam querendo falar desse assunto”, diz Andrea, referindo-se à autora da novela, durante um bate-papo por telefone na última semana, enquanto a atriz se preparava para reabrir as portas do Poeira, teatro no Rio de Janeiro que tem em sociedade com Marieta Severo.
Você se identifica com a Rebeca?
Tenho a mesma idade que a Rebeca, mas não vivi nenhuma pressão estética como ela. Eu vivo bem, estou bem. Tenho a maior alegria de estar falando disso, trazer essa conversa para as pessoas. Por mais que a gente esteja falando de uma parcela das mulheres no Brasil, eu estou feliz de levantar essa discussão. E até os homens têm vindo falar comigo sobre a novela, eu acho incrível. Acho que a gente tem que questionar: qual é o problema de envelhecer? O ser humano é o único animal que tem consciência da sua finitude. O nosso dilema é viver sem medo, sabendo que há um fim.
A novela vem discutindo muito a questão da menopausa, que sempre foi um tabu. Como você vivenciou essa fase?
Procurei não encarar a menopausa como um fim, mas como uma passagem, muitas vezes angustiante, às vezes dá medo. Mas é uma fase. Eu fiz reposição hormonal leve, para ajudar a lidar com os sintomas. Envelhecer não é fácil, mas a outra opção é muito pior.
Marieta Severo é sua sócia, amiga, e quase 20 anos mais velha. A convivência com ela te ensinou a viver esse envelhecimento com outros olhos?
Totalmente. A Marieta é uma garota, sempre ativa, viva, curiosa. Juventude é um espírito de vida. Ela é um exemplo disso.
Você é casada há 27 anos, como é para você manter um relacionamento por tanto tempo?
Partir do princípio de que a qualquer momento pode terminar, isso está sempre posto. Em qualquer relação, com amigos, mãe, filhos, a gente tem que estabelecer uma relação de cultivar, senão vai ficando na poeira. Tem que dar nó em pingo d’água às vezes. Mas acho que é estar sempre atento ao outro, quando está junto, estar de verdade com a pessoa, estar presente naquele momento.
Como você cuida da saúde, do corpo?
Sempre amei esporte. Sou fascinada. Futebol, esgrima, eu acompanho e entendo de todos. No início da vida eu era nadadora, depois fui para o vôlei. O esporte faz parte da minha rotina. Eu nado no mar, puxo ferro, jogo vôlei de praia quando dá. Eu quero poder levantar e sentar, não é só por vaidade. Eu quero que meu corpo esteja forte para trabalhar. Saúde para mim passa por esse lugar e eu gosto de me desafiar. Até dança do ventre eu já fiz.
E da saúde mental, como você cuida?
Liberdade é muito difícil de conquistar, de se entender com você. Eu faço terapia, há muito tempo. Aliás, minha analista se chama Ana, como a terapeuta da Rebeca na novela. Acho fundamental esse processo, todo mundo deveria fazer.
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Eu vejo muito comentários nas redes sociais sobre o quanto está bonita. Você é vaidosa?
Quando olho no espelho até me acho mais bonita hoje do que antes. Eu vejo fotos de quando era jovenzinha e na época me achava feia, mas eu estava ótima! Hoje, me acho mais leve. Já fiz alguns tratamentos, alguns procedimentos no rosto, mas agora não tenho mais vontade. Mas não tenho nada contra. Se me der na veneta uma hora, vou lá e faço.
Seus filhos estão adultos com 20 e poucos anos. Já estão saindo de casa? Tem medo da síndrome do ninho vazio?
Eles estão começando a voar, vai dar, sim, aquele ninho vazio. Mas eu estou achando bonito, eu vivi muito ao lado deles, estive muito perto. E eu não vejo a hora de ser avó, quero muito viver isso, vou adorar!
O que você acha que mudou na mulher de 50 anos hoje?
Acho que esperam da gente uma saia bege, abaixo do joelho. Mas esse formato de casulo, aprisionador, não está rolando mais. Essa geração está dando um grito de liberdade, buscando poder ser o que quiser. Essa é uma grande mudança.
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