50emais
Há sempre muito alarido quando cientistas anunciam qualquer avanço no rejuvenescimento de células. A expectativa é que a descoberta ajude a impedir o surgimento das marcas deixadas pelo tempo. É o que a maioria sonha. Ninguém quer envelhecer. Mas, diante da inevitabilidade do envelhecimento, há quem, como Sílvia Ruiz, autora do texto abaixo, defenda o uso das pesquisas, não para nos tornar mais jovens, mas para nos prover com um envelhecer mais saudável. É isso que ela comenta no texto, citando Marieta Severo, para quem, “posso estar toda enrugada, mas quero meus neurônios funcionando. O que desejo é lucidez e inteligência.”
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Na última semana circulou pela mídia a notícia de que cientistas britânicos rejuvenesceram em 30 anos as células da pele de uma mulher de 53. A internet ficou em polvorosa. “Uau! Também quero voltar a ter a pele dos meus 23”, comentou uma seguidora num post que fiz no Instagram sobre o tema. Será? O que a gente quer aos 50 é voltar a ter aparência dos 20? Eu, pelo menos, acharia isso bem esquisito. Por outro lado, e se, em vez de reverter o tempo na pele, a gente pudesse reverter no cérebro, evitando sua degeneração?
Há poucos dias, Marieta Severo, pleníssima aos 75 anos, deu uma entrevista para a revista “Marie Claire” em que declarou: “Posso estar toda enrugada, mas quero meus neurônios funcionando. Meu grande temor é perder as faculdades mentais, aí a vida acaba. Claro que me cuido, passo cremes. Faço laser para tirar as manchas porque sou uma pessoa do sol. Mas o que desejo é lucidez e inteligência.” Não poderia concordar mais com ela. A gente pode ser vaidosa e querer cuidar bem da pele, mas isso não significa querer voltar no tempo. E nada vai ser mais importante no processo de longevidade do que a saúde e a capacidade cognitiva.
Pois é justamente esse o objetivo do novo estudo dos pesquisadores da Universidade de Cambridge, que pode representar um grande avanço para a prevenção e para o desenvolvimento de tratamentos de doenças relacionadas ao envelhecimento, como demência, diabetes e problemas cardíacos. Ou seja, a experiência não buscava trazer de volta o colágeno dos tempos da juventude para a mulher de 50.
A estudo seguiu a mesma técnica de reprogramação de células usada na criação da ovelha clonada Dolly, nos anos 1990. O processo consiste em transformar geneticamente células normais em células-tronco, que foi batizado de IPS. Essas células, que surgem no início da formação do embrião, podem se transformar em outros tecidos específicos do corpo humano.
“Há muitos anos os cientistas tentam fazer estudos para reverter doenças ligadas ao envelhecimento celular. As pesquisas com células-tronco sempre foram nesse sentido. Nesse estudo, por um acaso, foram usadas as células da pele.
Alteraram o protocolo e verificaram que, em vez de essas células voltarem para essa etapa embrionária, ela passou a apresentar marcadores de uma célula jovem. Mas o foco é estudar essas doenças degenerativas.
Se isso vai ter uma aplicabilidade estética, a gente não sabe”, diz a dermatologista Mariana Muniz, que recebeu muitas perguntas de pacientes que leram sobre a descoberta. “Até porque se está mexendo na parte genética das células. Uma série de substâncias são usadas para alterar o DNA e isso tem riscos. Portanto, falar em tratamento estético é algo muito mais distante.”
Neste momento, o que os cientistas acreditam é que a descoberta pode dar início a novos avanços para a medicina regenerativa. Isso, sim, merece nossa esperança. Afinal, sim, todos vamos envelhecer e morrer um dia, mas, seria bom se isso pudesse acontecer mais tarde e com menos doenças limitantes, não é mesmo? E vamos deixar a pele de 20 para as garotas de 20.