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Qual de nós, aposentados que fizemos empréstimo consignado não sofre com o excesso de telefonemas e as constantes tentativas de golpe? Há muitos golpistas por aí.
Na semana passada, fui vítima de duas investidas. A que mais me impressionou foi a do rapaz que disse falar do Banco do Banco e tinha absolutamente todas as informações sobre um empréstimo que fiz. Ele me ofereceu um grande desconto na parcela que pago mensalmente. Isso chamou a minha atenção.
Pediu para eu fazer uma foto da minha carteira de identidade, frente e verso, e enviar para ele. Experiente, não caí. Mas quantas pessoas mais velhas não vão na lábia cada vez mais convincente dos golpistas.
E o número de telefonemas que a gente recebe todos os dias? É um absurdo que tem tirado a paz de muito idoso(a). O problema é tão sério que mereceu esta reportagem feita por Cleide Silva para o Estadão.
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O assédio a aposentados por parte de instituições financeiras oferecendo crédito consignado “já aprovado” continua incomodando muita gente. Apesar de medidas adotadas pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) e pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) para coibir os contatos, muitas vezes feitos por golpistas, há casos de pessoas que recebem diariamente mais de 30 ligações e mensagens.
A grande incógnita, que virou caso de polícia, é como as instituições e os criminosos conseguem os dados dos aposentados e pensionistas, incluindo o valor do benefício e o porcentual que pode ser comprometido com o empréstimo. “Eles sabem tudo sobre a gente”, diz Adão Alves de Souza, de 71 anos.
Souza está aposentado há vários anos e passou a receber chamadas após realizar seu empréstimo consignado. “Tem pelo menos 50 números bloqueados no meu celular, mas não adianta, pois mudam de telefone o tempo todo.” Ele diz que recebe seis ou sete ligações diariamente.
Combate ao assédio ficou no papel
O aposentado conta que já escapou de dois golpes. “Em um deles, a pessoa disse que eu tinha um crédito de R$ 47 mil aprovado. Eu respondi que não era meu e ele pediu vários dados para cancelar. Então eu disse que retornaria depois, liguei para o gerente do banco e ele confirmou que era golpe.”
A Febraban informa que desde janeiro de 2020 está em vigor a Autorregulação do Consignado, iniciativa criada em parceria com a Associação Brasileira de Bancos (ABBC) voltada à transparência, ao combate ao assédio comercial e à qualificação de correspondentes bancários (empresas autorizadas pelo Banco Central a prestarem serviços para instituições financeiras).
As 32 instituições financeiras que participam da autorregulação assumem o compromisso de adotar as melhores práticas de proteção de dados pessoais dos clientes e do combate a fraudes. Segundo a Febraban, elas representam quase a totalidade do volume da carteira de crédito consignado no País.
Centenas de empresas multadas
Desde o início da adoção dessas regras até julho deste ano, 977 empresas receberam punições por irregularidades na oferta do consignado, 440 correspondentes bancários foram advertidos, 497 tiveram suas atividades suspensas temporariamente e outras 40 em definitivo.
Segundo a entidade, as multas por conduta omissiva variam de R$ 45 mil a R$ 1 milhão, e os valores são destinados a projetos de educação financeira. “Nós condenamos qualquer tentativa de fraude ou irregularidade na oferta e contratação do consignado”, diz Isaac Sidney, presidente da Febraban.
Em nota, o INSS informa que, desde a publicação de uma instrução normativa em 2019, o benefício da aposentadoria é bloqueado para realização de operações de crédito consignado até que haja autorização do titular ou representante legal. A norma, contudo, tem sido burlada.
Caso de polícia
Denúncias sobre a existência de listas com nome, CPF, endereço, telefone, número e valor do benefício são enviadas à Coordenação de Combate a Fraudes do INSS e à Polícia Federal. “Por se tratar de suposto vazamento de dados, deve ser realizada uma investigação policial”, diz o Instituto.
Em outubro de 2021, o INSS também fez um termo com os bancos para que passassem a realizar controle mais rigoroso em relação à oferta de empréstimos consignados. Um exemplo é não permitir a oferta de créditos por telefone para quem está cadastrado no “Não perturbe”, sob risco de punições por infração às regras de conduta do setor financeiro. Os empréstimos agora precisam ser feitos com validação biométrica.
A Febraban orienta os consumidores a fazerem denúncias nos canais internos dos bancos citados pelas pessoas que fazem as ofertas, nos Procons ou no site consumidor.gov.br. O BC cita os canais do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) e sua Ouvidoria. É possível, ainda, registrar reclamações contra uma instituição financeira no BC Reclamação pelo site bcb.gov.br.
Bloqueios sem efeito
Wilson Vidal de Melo, de 70 anos, conta que recebe cerca de 15 ligações por dia, que também começaram depois de contratar um empréstimo consignado. Ele diz que tenta não atender as chamadas, mas muitas vezes é obrigado.
“Minha mãe tem 99 anos e, quando não estou com ela, preciso estar atento a qualquer possível chamada”, afirma Melo. Ele já inscreveu seu número no serviço da Anatel “Não perturbe”, que bloqueia chamadas de telemarketing, mas pouco adiantou.
Melo está aposentado há vários anos e diz que, como no caso de Souza, o assédio começou depois que ele fez um empréstimo consignado, há mais de um ano. A maioria dos telefonemas e mensagens, porém, começa poucos dias após a liberação da aposentadoria pelo INSS e muitos beneficiários são informados sobre o benefício pelo próprio agente financeiro
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Um recém-aposentado diz que o assédio começou três semanas após ter o benefício aprovado. “Chego a receber de 30 a 40 ligações e mensagens por dia e algumas já sei que são golpes”, diz ele, que pede para não ter o nome divulgado. Uma das mensagens diz que ele tem R$ 59 mil na conta e, para liberar, “basta clicar aqui”.
O Procon-SP informa que, neste ano, até setembro, recebeu 4.602 reclamações envolvendo empréstimos consignados, muitas delas por cobrança de serviços não contratados. O órgão de defesa do consumidor não tem um recorte sobre quantas envolvem o assédio das instituições.
Em 2019 inteiro foram registradas 2.505 queixas, no ano seguinte, 6.502 e, em 2021, somou 8.355. Neste ano, setembro foi o mês com maior número de reclamações: 787, segundo dados do Procon-SP.
Como se proteger de golpes com crédito consignado
1. Não clique em links enviados por e-mails ou WhatsApp de remetentes que você não reconhece;
2. Nunca informe seus dados pessoais e bancários quando solicitados em ligações ou mensagens de remetentes desconhecidos;
3. Se for contratar algum crédito, procure sempre os canais oficiais das instituições com as quais você se relaciona;
4. Denuncie o assédio nos canais internos dos bancos citados pelas pessoas que fazem as ofertas, nos Procons ou no site consumidor.gov.br;
5. Também é possível fazer denúncias diretamente no Banco Central, nos canais do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) e na Ouvidoria da instituição. É possível, ainda, registrar reclamações contra uma instituição financeira no BC Reclamação pelo site bcb.gov.br.
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